Goleiro Bruno tinha ligação com traficante que matou e ocultou o corpo de duas mulheres
Nem da Rocinha era próximo de Bruno, que agia como “garoto-propaganda” do tráfico |
Eliza Samúdio foi assassinada em junho de 2010 - Reprodução TV |
Nos tempos de ídolo da torcida do Flamengo, no Rio de Janeiro, o goleiro Bruno, 32 anos, era um convidado especial e frequente nas festas e confraternizações
organizadas por Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, líder
da quadrilha que controlava a maior favela da cidade, na zona Sul do
Rio, e que está cumprindo pena de 48 anos em um presídio de segurança
máxima no Mato Grosso do Sul.
Bruno e Nem tinham uma relação muito
próxima. O jogador, que atualmente joga no Boa Esporte Clube, de
Varginha (MG), agia como como “garoto-propaganda” do tráfico na Rocinha.
A amizade com Bruno era uma das formas usadas pelo traficante para
exibir seu poder de influência em setores fora da comunidade.
A estreita relação entre Nem e Bruno
veio à tona com a prisão de dois traficantes cariocas em Ribeirão das
Neves, na Grande Belo Horizonte. Vinicius Barbosa da Silva, 21 anos, e
Jonathan Marques Valério Gadiola, 27 anos, foram presos em flagrante no
bairro de Florença e disseram às autoridades policiais que eram da
Rocinha e da quadrilha do Nem. De acordo com a dupla, ele e o goleiro do
Flamengo eram íntimos.
As revelações sobre a amizade de Bruno
com o traficante, quando ainda era jogador do Flamengo, foram ouvidas
pelos policiais militares que efetuaram a prisão e os policiais civis
que estavam na delegacia. A prisão dos traficantes aconteceu em outubro
de 2012, cerca de um ano após a prisão de Nem e a pacificação da Rocinha
com as instalação da UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), em
novembro de 2011, após décadas de controle do tráfico, primeiro com o
Comando Vermelho e depois com a facção ADA (Amigos dos Amigos), da qual
fazia parte o Nem.
O Ministério Público de Minas Gerais ou o
Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado)
levaram adiante a investigação da relação entre Nem e Bruno. Segundo o
MP-MG, os fatos investigados pelo órgão que resultaram na denúncia
oferecida à Justiça contra o goleiro Bruno foram referentes à morte da
Eliza Samúdio.
No Boa Esporte Clube, Bruno recebe em
torno de R$ 30 mil por mês. O time joga hoje (22), às 17h30, em
Varginha, contra o Nacional de Muriaé, na 5ª rodada do grupo C, do
módulo 2 do campeonato mineiro, o equivalente a 2ª divisão estadual. A
equipe tem cinco pontos e é a antepenúltima colocada do grupo. Uma parte
da torcida de Varginha lançou a campanha #somostodosbruno depois de o
goleiro entrar para o clube. A hashtag foi criada sem que os torcedores
tivessem conhecimento da relação do jogador com o traficante, que é
agora revelada pelo R7.
Na última quinta-feira (19), o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou um parecer
favorável à revogação da liminar concedida ao goleiro, que possibilitou
que ele deixasse o presídio no dia 24 de fevereiro. Se o STF (Supremo
Tribunal Federal) acatar, Bruno pode voltar a ser preso nas próximas
semanas. O atleta foi condenado a 22 anos e três meses de prisão. Ele
estava preso desde 2010, mas foi solto em fevereiro deste ano graças a
uma liminar.
Nem foi o líder do tráfico de drogas entre 2005 e 2011 - Reprodução/TV |
Bruno foi jogador do Flamengo entre novembro de 2006 e julho de 2010, quando foi demitido após a repercussão do caso Eliza Samúdio,
estudante e modelo assassinada em junho de 2010, após ter sido
esquartejada em um sitio de propriedade do Bruno, em Esmeraldas, no
interior de Minas Gerais. Até hoje o corpo não apareceu.
Eliza conheceu Bruno em maio de 2009, o
goleiro era casado. A estudante ficou grávida do jogador que não queria
assumir a criança. Em outubro de 2009, grávida, Eliza registra na
polícia do Rio de Janeiro uma ocorrência contra Bruno por sequestro,
agressão e ameaça.
De acordo com ela, Bruno teria tentado
obrigá-la a abortar. Eliza deixa o Rio de Janeiro e se muda para São
Paulo, onde vai morar na casa da mãe de uma amiga.
O bebê nasceu em fevereiro de 2010.
Entre maio e junho, a modelo esteve no Rio de Janeiro para tentar falar
com Bruno. As investigações da polícia apontam que Macarrão (amigo de
Bruno) e um rapaz menor de idade teriam levado a estudante e o bebê de
quatro meses do Rio de Janeiro para o sítio em Minas no carro do goleiro
do Flamengo.
Duas mortes na conta do Nem
Entre as diversas acusações contra o
traficante Nem, as mais graves são as mortes e a ocultação dos cadáveres
de duas mulheres, em junho de 2011. A modelo Luana Rodrigues de Sousa,
que tinha 20 anos, e sua amiga Andressa de Oliveira, de 25.
De acordo com a denúncia do Ministério
Público do Rio de Janeiro, a mando de Nem, as duas foram mortas com
diversos tiros. Ainda segundo o documento, as duas foram levadas para um
local afastado na comunidade, e tiveram seus corpos queimados. Até
hoje, os cadáveres das vítimas não foram encontrados.
O motivo do crime, de acordo com o MP,
foi o fato de as jovens terem sumido com uma carga de haxixe e de
maconha no valor de R$ 300 mil da facção criminosa que dominava a favela
da Rocinha.
Nem tem também um histórico longo de
violência contra as mulheres. Ele teve sete filhos com quatro
companheiras diferentes e a diferença de idade entre alguns dos filhos é
menor que nove meses.
Praticamente todas as mulheres de Nem já
foram espancadas por ele e/ou ameaçadas de morte. Até as ex-namoradas
eram proibidas de ter qualquer tipo de relacionamento com outros homens.
Nem tem perfil violento e possessivo.
A modelo Luana Rodrigues foi assassinada em 2011 - Reprodução |
Durante seis anos do domínio de Nem na
Rocinha, foi instituída a prática da execução e queima dos corpos. Pela
lógica das facções, adotada pelos traficantes, “sem corpo não há crime”.
O local escolhido para a destruição dos cadáveres é conhecida como
portão vermelho, na parte alta da favela, próximo de uma das casa do
Nem.
No mesmo local, em 2013, o ajudante de
pedreiro Amarildo Dias de Souza, foi torturado e assassinado. Só que
neste caso, conforme as investigações, os autores do crime foram
policiais militares e não traficantes.
Boa Esporte Clube e Flamengo
A diretoria do Boa Esporte Clube foi procurada pelo R7
para comentar a denúncia que o atual goleiro da equipe tinha ligações
estreitas com o criminoso mais procurado do Rio de Janeiro.
Também foi solicitada uma entrevista com
o atleta para falar sobre o seu relacionamento com o Nem e o que
acontecia nas festas e eventos que ele frequentava na Rocinha.
A assessoria de imprensa do Boa Esporte Clube solicitou as perguntas por e-mail, porém, até a manhã deste sábado, não respondeu.
De acordo com o Flamengo, o clube “nunca
teve conhecimento de envolvimento do ex-atleta com traficantes” e não
havia nenhuma suspeita de envolvimento de Bruno com criminosos da
Rocinha.
Além disso, o Flamengo afirmou que a
demissão de Bruno, que foi por justa causa, não teve ligação com o
envolvimento dele com pessoas suspeitas, “apenas com o crime do qual ele
foi acusado de ter cometido”.
Sobre testes de dopping durante o
período em que Bruno jogou no Flamengo, o clube disse que ele passou por
exames “sempre que sorteado nos jogos”.
FONTE: R7
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