José Serra achacou Odebrecht para receber R$ 23 milhões, dizem delatores
Odebrecht repassou R$ 6 milhões para tucano. Para liberar pagamentos atrasados da Odebrecht no governo de São Paulo, Serra exigiu 15% de pedágio.
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O senador e ex-ministro das Relações Exteriores, José Serra, no Palácio do Itamaraty, em Brasília (DF) - 14/07/2016 - (Adriano Machado/Reuters) |
Na delação da Odebrecht, homologada pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), o senador José Serra (PSDB) é citado nos
depoimentos de sete delatores da empreiteira. Os executivos
reconstituem os bastidores de esquemas de corrupção em obras do governo
de São Paulo durante a gestão de Serra, revelam os nomes dos servidores
ligados ao tucano que achacavam a empreiteira e detalham repasses
milionários via caixa dois para diferentes campanhas do atual senador.
Em uma das operações, José Serra cobrou 15% de propina para liberar
pagamentos atrasados da empreiteira junto ao governo de São Paulo. A
Odebrecht concordou e repassou 23,3 milhões de reais ao PSDB em troca da
liberação de pagamentos na gestão tucana.
Responsável pelos relatos mais contundentes, o executivo
Pedro Novis revelou, por exemplo, que repassou a José Serra uma bolada
de 6 milhões de reais por meio de depósitos em contas correntes mantidas
no exterior pelo lobista José Amaro Pinto Ramos – conhecido operador
tucano suspeito de pagar propinas no caso Alstom no Brasil e indiciado
na Suíça por lavagem de dinheiro e corrupção. Os pagamentos foram
ordenados quando Novis presidia o Conselho Administrativo da Braskem,
uma das empresas do grupo Odebrecht. “Pedro Augusto Ribeiro Novis afirma
ter realizado diversas contribuições em favor de campanhas do senador
da República José Serra, objetivando manter boas relações com o agente
político e almejando futuro auxílio em obras de infraestrutura,
concessões na área de transporte e saneamento no Estado de São Paulo”,
diz o texto redigido pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação
Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal.
Além de repassar recursos para campanha de Serra, Pedro
Novis revela que o próprio governador procurou a Odebrecht, em 2008,
para solicitar um pagamento de 3 milhões de reais. Segundo Serra teria
informado à empreiteira, o dinheiro seria uma “contribuição à Prefeitura
de São Paulo”. No despacho de Edson Fachin, não fica claro se o pedido
de Serra foi atendido pela Odebrecht. Novis conta, no entanto, que foi
procurado no ano seguinte, em 2009, pelo então presidente nacional do
PSDB, Sérgio Guerra (morto em 2014), com um novo pedido de 3 milhões de
reais. Dessa vez, a bolada serviria para “custear campanhas
majoritárias, inclusive do senador José Serra à Presidência da
República”, conta Novis.
É a partir dessa negociação que surge o pagamento, revelado
por VEJA, de 23,3 milhões de reais em propinas ao PSDB. Segundo narra o
delator da Odebrecht, a empreiteira tinha muitos contratos na gestão de
José Serra e enfrentava dificuldades para receber os pagamentos do
governo. Ao ser procurado para doar à campanha do governador, o
executivo da Odebrecht condicionou o repasse ao recebimento de
pagamentos atrasados no governo. Foi aí que Sérgio Guerra, segundo o
delator, apresentou o achaque. A Odebrecht receberia todos os atrasados
do governo Serra se concordasse em pagar ao PSDB um pedágio de 15% dos
valores devidos à empreiteira.
“Sérgio Guerra, em contraproposta, teria afirmado que os
atrasados seriam adimplidos, desde que 15% (quinze por cento) desses
valores fossem transferidos ao próprio PSDB, avença que teria sido
confirmada pelo então Governador José Serra. Assim, Pedro Novis teria
autorizado pagamento na ordem de R$ 23.300.000,00, sendo que a
contrapartida almejada foi efetivamente cumprida. Os pagamentos teriam
sido tratados entre representantes do Grupo Odebrecht e Ronaldo César
Coelho e Márcio Fortes, pessoas indicadas pelo Senador da República José
Serra”, escreve Fachin na decisão de abertura de inquérito.
Os delatores da Odebrecht ainda narram em detalhes como
funcionou o cartel de empreiteiras nas obras do Rodoanel Sul e revelam o
pagamento de propinas a diretores da Dersa, a concessionária controlada
pelo governo de São Paulo, responsável por coordenar as obras e manter
as rodovias do estado. Todo o esquema parte de uma decisão
administrativa de José Serra, em 2007. “Os colaboradores noticiam que,
no ano de 2007, José Serra, então governador do Estado de São Paulo,
publicou decreto impondo às empresas a renegociações de contratos
mantidos com o poder público. Nessa ocasião, a Dersa seria dirigida por
Paulo Vieira Sousa, conhecido como ‘Paulo Preto’, pessoa próxima ao
então Governador José Serra. Após a repactuação em relação ao consórcio
liderado pela Odebrecht, Paulo Vieira Sousa solicitou o pagamento de
0,75% do valor recebido por cada empresa, sob pena de alterações
contratuais prejudiciais”, diz Fachin.
Segundo os delatores, depois de conquistar o lote dois da
obra do Rodoanel, a empreiteira foi procurada pelo então diretor de
Engenharia da Dersa, Mário Rodrigues Júnior, que solicitado o pagamento
de 1,2 milhão de reais, sob a alegação de que tais valores seriam
destinados ao custeio de campanhas eleitorais. Diz o despacho de Fachin:
“No âmbito da Odebrecht, referida solicitação foi atendida, com
pagamentos efetuados, na ordem de 2,2 milhões de reais, em favor da
offshore Circle Technical Company Inc, que pertenceria a Amaro Ramos,
supostamente conhecido operador do Partido Social Democrático Brasileiro
(PSDB). Os repasses teriam cessado após investigações implementadas
pelo Ministério Público Federal e Tribunal de Contas da União, que
concluíram pela ilegalidade das alterações contratuais.”
Veja - Por Rodrigo Rangel, Daniel Pereira, Robson Bonin, Laryssa Borges, Marcela Mattos, Felipe Frazão, Hugo Marques, Thiago Bronzatto
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