Paraíba é estado que mais sofre com estiagem e tem 198 municípios em emergência
São cerca de 25 milhões de brasileiros afetados pela estiagem em todo o País
O Brasil é um país privilegiado no que diz respeito à quantidade de
água. Sua distribuição, no entanto, não é uniforme em todo o território
nacional. No Dia Mundial da Água, comemorado nesta quarta-feira (22), um
assunto que ainda volta à pauta é a falta dela. Afinal, são cerca de 25
milhões de brasileiros afetados pela estiagem em todo o País.
Em 2017, em todo o Brasil, já são 872 as cidades com reconhecimento
federal de situação de emergência causada por um longo período de
estiagem . A região mais afetada segue sendo a do Nordeste. O estado da
Paraíba é o que concentra maior número de municípios, com 198 que
comunicaram o problema à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil
(Sedec).
O professor Sérgio Koide, do Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), explica que o que deflagra o
processo da crise hídrica é o clima, mas a falta de planejamento faz
com que a margem de segurança entre a oferta e a demanda seja muito
pequena.
“Com um bom planejamento e com investimentos, você consegue fazer uma
gestão mesmo em situações de certa escassez de recursos”, explica. Para
ele, o risco de insuficiência de água para o abastecimento ocorre quando
o planejamento não é cumprido, na medida que a oferta vai se
aproximando da demanda. “Neste caso, é preciso fazer um novo
planejamento, com antecedência, e adotar as medidas necessárias, como
investimentos em obras, para evitar a falta de abastecimento.”
O engenheiro explica que, no Distrito Federal, por exemplo, a Companhia
de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) sabia desde o ano
2000 que “a partir de 2005 a demanda se aproximaria perigosamente da
oferta”. “De maneira geral, as pessoas que trabalham com o planejamento
conseguem antever quando vai começar a zona de risco, mas como o
planejamento é longo prazo e os investimentos são altos, nem sempre eles
são cumpridos.”
Com respectivamente 154 e 140 cidades em situação de emergência, os
estados do Rio Grande do Norte e Ceará, também sofrem sem água. Segundo a
meteorologista Morgana Almeida, chefe da previsão do tempo do Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), esta situação é reflexo de um acúmulo
dos impactos causados pelo El Niño.
“Temos que olhar para o retrovisor. O El Niño é um fenômeno que
acontece há cinco anos e atingiu seu ápice nos últimos três, o que levou
o semiárido nordestino a uma situação de seca excepcional e isto
impacta diretamente nos reservatórios que abastecem as cidades da
região.”
O Ceará, por exemplo, vem enfrentando secas seguidas desde 2011, o que
fez com que o volume de água armazenado esteja atualmente em 8,8% dos
reservatórios, o menor em mais de vinte anos. Mesmo com uma das
situações mais críticas no Brasil, ainda não houve racionamento de água
no consumo da população cearense.
De acordo com o diretor de negócios do interior da Companhia de Água e
Esgoto do Ceará (Cagece), Helder Cortez, a companhia e representantes do
estado e do governo federal se uniram para elaborar ações que buscassem
reverter o problema hídrico em cada um dos municípios. Como resultado
destas ações o estado conseguiu reduzir em média 21% o consumo por
ligação na Região Metropolitana de Fortaleza.
Para Helder esse resultado foi “fruto de uma campanha de comunicação e sensibilização da sociedade”, mas não garante ainda o reabastecimento dos reservatórios.
Para Helder esse resultado foi “fruto de uma campanha de comunicação e sensibilização da sociedade”, mas não garante ainda o reabastecimento dos reservatórios.
“A recarga da região metropolitana de Fortaleza ainda está fraca. Se
continuarmos assim deveremos fazer um novo estudo e talvez chegar a um
contingenciamento mais severo.”
Na Bahia, desde o mês passado, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento
(Embasa) determinou o racionamento de água 13 municípios da região
Centro Norte do Estado, por causa da falta de chuvas.
De acordo com a Embasa, a Bahia está enfrentando “a pior seca dos
últimos 100 anos”. O racionamento atingiu as cidades de Jacobina,
Pindobaçu Antonio Gonçalves, Campo Formoso, Serrolândia, Várzea do Poço,
Caldeirão Grande, Ponto Novo, Filadélfia, Itiúba, Jaguarari, Andorinha e
Senhor do Bonfim. Além dos municípios do Centro Norte da Bahia, estão
em situação de alerta outros 81 municípios baianos.
Na Paraíba, o número de cidades com problemas de abastecimento de água
devido à estiagem aumentou 60% em um ano. Segundo dados da Companhia de
Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), a quantidade de cidades em
racionamento eram 102 no ano passado e, agora, são 198.
Centro-Oeste e conscientização
Outra região também afetada pelos efeitos do El Niño é o Centro-Oeste. O
Distrito Federal decretou situação de emergência no fim de janeiro,
quando sofreu reduções significativas no reservatório da Barragem do Rio
Descoberto e atingiu o nível crítico abaixo de 20%. Diferente do estado
do Ceará, ainda em janeiro o DF iniciou um calendário de racionamento
que inicialmente atingiu 1,8 milhão de pessoas.
Com a estiagem e a diminuição do nível do segundo maior reservatório da
região, o de Santa Maria, a região central de Brasília, o Plano Piloto,
também foi incluído no racionamento, ficando de fora apenas a Esplanada
dos Ministérios e os hospitais públicos.
Não é de hoje que o mundo chama a atenção para a importância da gestão
racional da água, o debate é antigo e vem sendo reforçado ao longo da
história com marcos como o Dia Mundial da Água.
No entanto, mesmo com tantos reforços para lembrar sobre a importância
dos recursos hídricos do planeta e a estiagem, as pessoas ainda não
aprenderam a gerir de forma adequada a água. No Brasil, algumas cidades
já percebem este impacto em seus cotidianos, a história continuará se
repetindo se não houver mais conscientização. Este ano regiões Nordeste e
Centro-Oeste são as mais afetadas, mas há um ano São Paulo, por exemplo
superou a maior crise hídrica de sua história, que teve início em
janeiro de 2014.
WSCOM com IG

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