Mosquitos usam meios de transporte para se locomover, diz especialista
Nos últimos anos, com o desmatamento e o crescimento das cidades, o inseto passou a viver mais nos ambientes urbanos e se adaptou tão bem que já pode ser considerado "doméstico"
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No Nordeste, o principal tipo de criadouro do Aedes são os tonéis e caixas d’água - (Foto: Divulgação) |
Carro, avião e até elevador. Pode parecer estranho,
mas o Aedes aegypti pega carona nos nossos meios de transporte para se
locomover em busca de alimento ou assegurar sua reprodução. De acordo
com o biólogo e epidemiologista Luciano Pamplona, o mosquito - que atua
como vetor transmissor dos vírus da dengue, febre amarela, zika e
chikungunya - é originário do Egito, na África, e veio para o Brasil a
bordo dos navios negreiros ainda durante o período colonial. Nos últimos
anos, com o desmatamento e o crescimento das cidades, o inseto passou a
viver mais nos ambientes urbanos e se adaptou tão bem que já pode ser
considerado "doméstico".
O especialista aponta que o Aedes aegypti compensa sua debilidade
para altos voos - o voo do mosquito é considerado baixo e varia de um a
dois metros de altura - utilizando os mesmos meios que os seres humanos
para se deslocar.
“O fato de não voar grandes altitudes não impossibilita que ele
chegue até locais mais altos. Como nós, ele também sobe de elevador,
anda de carro, viaja de avião. Onde a gente vai, o mosquito vai atrás”,
explica.
“Já em questão de distância, há estudos que apontam que o Aedes
aegypti pode alcançar até um quilômetro em áreas onde não existam muitas
pessoas, mas, em geral, eles não se deslocam por mais de 200 metros.”
Pamplona, que é também secretário-geral da Sociedade Brasileira de
Dengue e Arbovirose (SBD-A) e professor da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que isso ocorre por causa da
domesticação do inseto. “O mosquito se tornou praticamente um bichinho
de estimação”, brinca. Ele conta que, muito provavelmente, um exemplar
de Aedes Aegypti terá seu ciclo de vida, que dura cerca de 30 dias,
dentro de uma mesma casa por ali encontrar as condições favoráveis para
se desenvolver e se reproduzir.
"O macho e a fêmea do Aedes aegypti alimentam-se de substâncias
açucaradas, como néctar e seiva de plantas e a fêmea necessita do sangue
humano para realizar a maturação dos ovos após a fecundação. Então, se
além disso também tiver à disposição água parada para a postura dos
ovos, o mosquito acaba não se deslocando porque não tem necessidade.”
Por isso, o médico alerta para a necessidade da população adotar
ações de combate ao Aedes aegypti de forma rotineira em suas casas e não
apenas durante os períodos de surto das doenças transmitidas pelo
mosquito. “No Nordeste, o principal tipo de criadouro do Aedes são os
tonéis e caixas d’água; no Sudeste e Centro-Oeste são recipientes como
vasos de plantas e garrafas, enquanto que no Norte e no Sul, a maior
parte dos criadouros do mosquito está no lixo. Então, as pessoas têm que
entender que, até o momento, a maneira mais eficaz contra a
disseminação da dengue e agora da zika [além da febre amarela e da
chikungunya] é combater o mosquito”, diz.
Pamplona ressalta também a importância de as pessoas, principalmente
as gestantes, procurarem se proteger das picadas do mosquito com o uso
de repelentes, mosquiteiros e telas.
Mosquitos estéreis
Perguntado se a técnica de esterilização do Aedes aegypti poderia
seria um meio efetivo de combate ao mosquito, Pamplona é claro: “Tenho
que confessar que fiquei animado quando ouvi falar nisso pela primeira
vez, mas essa técnica ainda está em fase de pesquisa. A esterilização de
mosquitos já foi muito usada na agricultura. É a primeira vez que fazem
isso com o Aedes. Ninguém sabe como será. As pessoas não podem achar
que isso será a solução para acabar com a zika em 2016”.
Por EBC
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