Conheça a história do suposto terrorista paraibano preso por elo com o Estado Islâmico
Ao voltar do Egito, Antônio passou a
defender abertamente o EI, segundo pessoas próximas a ele. Mas já teria
se radicalizado pouco antes da viagem, por meio de contatos via
internet, após se “reverter” (termo usado por muçulmanos para designar a
conversão ao Islã) numa mussala de João Pessoa, aquela da qual foi
banido mais tarde, por suas posições extremistas.
A mussala
funciona dentro de uma academia de boxe, na periferia de João Pessoa, a
Associação Beneficente Esportiva Muçulmana Mesquita’a Brothers, do
ex-lutador e treinador de boxe Muhammad Al Mesquita. Batizado como
cristão, Antônio treinou boxe na academia paraibana, da qual era
vizinho, durante oito anos, antes de se “reverter” ao Islã.
— Ele
ficou aqui como aluno por oito anos e chegou a competir. Eu praticamente
o criei. Era um menino muito bom. Eu lhe falava sobre religião, mas ele
ria. Era completamente ateu. Um dia, me pediu para se reverter. Eu
disse a ele que ele precisava estudar mais o Islã antes disso. Nós
tivemos muitas conversas. Uma noite, bem tarde, ele me ligou e disse que
estava pronto. Então, ele fez a shahada (declaração de conversão ao
Islã) — conta Muhammad Al Mesquita. — Só que, depois disso, ele começou a
mudar muito. Passou a seguir pessoas na internet, a ler textos que não
eram bons. Eu dizia para ele: “Ahmed, cuidado!”
SUSPEITO FAZIA BICOS
Mas Antônio já não o ouvia.
—
Ele começou a ter pensamento próprio. Então, um dia eu o proibi de
voltar à academia e à mussala. Um dia ele me ligou e eu lhe pedi que não
me procurasse mais, se ainda tivesse aquelas ideias, porque não eram
ideias boas, não eram de fé. Eu descobri que ele não era do bem, não era
grato pelo que fiz por ele.
Muhammad diz que recebeu a visita de agentes da Polícia Federal três vezes em sua academia:
—
Eu sofro muito porque procuro passar a eles a mensagem sagrada, o
caminho de Deus e da paz. Mas esses covardes estão acabando com nossa
fé. O verdadeiro Islã não é isso. Não tem nada a ver com terrorismo.
Após
ser banido da mussala, Antônio parecia revoltado. Foi procurar o Centro
Islâmico de João Pessoa, fundado por João (de Deus) Cabral, ex-pastor
evangélico que adotou o Islã em 2008. Ele chegou a frequentar a mussala
por cerca de três anos, mas Cabral também começou a ficar preocupado com
suas declarações radicais e sua conduta. Depois de um tempo, se
afastou.
— Nunca mais conversei com ele, exatamente por conta
dessas ideias — disse, por telefone, Cabral, que hoje vive em Dubai. — O
Islã repudia quaisquer atos de violência.
Cabral publicou na
internet uma nota: “Qualquer pessoa que tenha visitado ou mantido
relacionamento com nosso centro e que por suas posições se coloca ou
tenha se colocado, em qualquer tempo, a favor dos infames atos
terroristas, é considerada por nós ‘persona non grata’, devendo
responder individualmente por suas posições.”
Antônio passou a
visitar a mussala apenas ocasionalmente, em festas religiosas, a última
delas no feriado de Eid, quando os muçulmanos celebram o fim do mês
sagrado do ramadã, no dia 7 de julho. Ele vive num bairro da periferia
de João Pessoa com os pais, aposentados, a mulher, uma jovem revertida
pela internet há três anos, e o filho. São casados há dois anos. Uma
jovem brasileira que adotou o Islã e frequentava a mesma mussala diz que
Antônio tinha discussões com a mãe por causa de suas ideias radicais.
— Quando começava a falar sobre essas ideias radicais, nós o cortávamos. Mas ele era cabeça dura — diz a jovem muçulmana.
Antônio
fazia bicos em João Pessoa e nunca se fixou em nenhum emprego. Ele
chegou a se mudar para São Paulo e a trabalhar com refugiados sírios em
uma ONG da comunidade islâmica.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário