Juiz Sérgio Moro não se considera suspeito para julgar ex-presidente Lula
A petição dos advogados foi protocolada no dia 5 de
julho. A defesa de Lula citava diversos momentos em que consideraram
que Moro teria extrapolado o papel de juiz, interferindo ainda na forma
como a opinião pública passaria a pensar a figura do ex-presidente. Para
os advogados, Sérgio Moro perdeu a condição de imparcialidade com a
qual o juiz deveria conduzir os julgamentos.
Moro começa o texto
lembrando que sob a 13ª Vara Federal de Curitiba correm três inquéritos
que investigam o ex-presidente. Nenhum deles, porém, tem qualquer
conclusão, nem mesmo a abertura de ação penal contra Lula até o momento.
O
juiz lembra que ao longo dessas três investigações, em vários momentos,
ele indeferiu pedidos do Ministério Público Federal e da Polícia
Federal. Entre eles, estaria o pedido de prisão temporária de associados
de Lula e também um pedido de condução coercitiva da ex-primeira-dama,
Marisa Letícia Lula da Silva.
“Então não vislumbro como se pode
extrair dessas decisões ou de qualquer outra decisão interlocutória dos
processos, motivada a apreciação judicial pelo requerimento das partes,
causa para suspeição”, diz o juiz.
A defesa de Lula questionava,
por exemplo, a imparcialidade de Moro ao deferir o pedido de condução
coercitiva, realizado em março deste ano. Para os advogados, houve
motivação política na decisão do juiz. “Se houve exploração política do
episódio, isso não ocorreu da parte deste julgador, que, aliás, proibiu
rigorosamente a utilização de algemas, a filmagem ou registro
fotográfico do episódio. Nem aparenta ter havido exploração política do
episódio pela Polícia Federal ou pelo Ministério Público Federal”,
pontuou Moro.
Quanto à alegação de que houve excesso do juiz ao
interceptar os terminais telefônicos ligados ao advogado Roberto
Teixeira, que faz parte da defesa de Lula, Moro disse que o jurista é
também investigado, porque teria auxiliado os empresários que compraram o
sítio usado pelo ex-presidente e que é alvo de um dos inquéritos que
correm em Curitiba. “Somente foi interceptado Roberto Teixeira, com
resultados parcos, mas isso diante de indícios de seu envolvimento em
crimes de lavagem de dinheiro e não como advogado”, escreveu o juiz.
Acerca
do levantamento de sigilo dos grampos envolvendo o ex-presidente e
autoridades como o então ministro da Casa Civil, Jacques Wagner e a
presidente afastada Dilma Rousseff, Moro disse que também não há
qualquer indício de que ele tenha agido de forma parcial ao divulgar
essas informações. “Por outro lado não há qualquer afirmação deste
julgador da procedência das suspeitas do MPF contra o ex-Presidente no
esquema criminoso da Petrobrás”, diz.
Moro também negou que tenha
participado de eventos políticos de pessoas contrárias ao ex-presidente
ou ao PT. “Trata-se aqui de afirmação falsa. Este julgador jamais
participou de evento político. Nenhum dos eventos citados, organizados
principalmente por órgãos da imprensa, constitui evento político. Quanto
à afirmação do Excipiente de que seria vítima de calúnias ou difamações
por parte dos órgãos de imprensa organizadores dos eventos, oportuno
lembrar que, ainda que isso fosse verdadeiro, não controla este julgador
a linha editorial de tais órgãos de imprensa”, disse.
Moro também
fez críticas à atuação da defesa, por invocar a suspeição do juiz sem
ter provas para tal, na avaliação dele.”Em síntese de todo o exposto,
não há nenhum fato objetivo que justifique a presente exceção,
tratando-se apenas de veículo impróprio para a irresignação da Defesa do
Excipiente contra as decisões do presente julgador e, em alguns
tópicos, é até mesmo bem menos do que isso. Rigorosamente, apesar do
direito à ampla defesa, não se justifica o emprego da exceção de
suspeição sem que haja mínimos fatos objetivos que a justifiquem”, disse
Moro.
Ao final do documento, Moro determinou que os autos fossem
enviados ao Ministério Público Federal e à defesa de Lula. Assim que
ambas as partes se manifestarem, os documentos deverão ser encaminhados
ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, para que os
desembargadores decidam se mantêm o processo nas mãos de Moro ou
encaminham a outro juiz.
Outro lado
Em nota, o
advogado Roberto Teixeira voltou a dizer que Moro é quem cometeu crimes
ao liberar os grampos nos telefones dele. “É ridículo o argumento usado
por Moro para me atribuir – sem a existência sequer de uma acusação
formal do Ministério Público – a prática de ato criminoso. Segundo ele, a
minha presença na prática criminosa estaria caracterizada porque eu
participei da elaboração das minutas de escritura de compra e venda de
um sítio em Atibaia (SP) e do recolhimento das assinaturas necessárias
para formalização do documento à época assessorando meus clientes
Fernando Bittar e Jonas Suassuna”, diz.
Segundo o advogado, esses atos fazem parte do exercício da advocacia, sem nenhuma conotação com qualquer atividade criminosa. “O Conselho Federal da OAB já se manifestou em relação ao caso concreto perante o Supremo Tribunal Federal e confirmou que apenas pratiquei atos privativos da advocacia, que não configuram qualquer crime”, afirma Teixeira.
Segundo o advogado, esses atos fazem parte do exercício da advocacia, sem nenhuma conotação com qualquer atividade criminosa. “O Conselho Federal da OAB já se manifestou em relação ao caso concreto perante o Supremo Tribunal Federal e confirmou que apenas pratiquei atos privativos da advocacia, que não configuram qualquer crime”, afirma Teixeira.
Ele diz ainda
que levará a situação à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) “e também
aos órgãos que têm a obrigação de fazer cumprir a Constituição Federal,
os Tratados Internacionais e as leis”.
G1
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