Empresas corruptas estariam burlando concursos em prefeituras da Paraíba para aprovar "apadrinhados" de políticos
A
avalanche de concursos públicos de prefeituras, com editais abertos, em
vários municípios da Paraíba pode estar escondendo um esquema de
corrupção entre gestores e empresas contratadas com o objetivo de
aprovar apadrinhados de políticos que estão deixando o mandato. A
denúncia foi feita nesta segunda-feira (11) pelo deputado estadual Jeová
Campos, do PSB.
Segundo ele, prefeitos estão contratando empresas fajutas e corruptas
para realizar o certame acordando verdadeiras negociatas, tanto no
rateio do dinheiro adquirido com as inscrições, quanto na lista
pré-determinada de aprovados.
Jeová ainda alertou o Ministério Público para o fato de a maioria dos
certames estarem sendo realizados apenas às vésperas do ano eleitoral,
mascarando, até mesmo, compra de votos.
“É uma questão extremamente séria e que precisa de providências. Eu
conheço situações onde os concursos são realizados, em regra, no último
ano do governo. Ora, o camarada é prefeito durante quatro ou oito anos e
quando vai sair realiza um concurso e bota empresas fajutas e corruptas
para realizar o certame, sem ter capacidade técnica de fazer uma
avaliação, onde prepondere o mérito e a competência e o princípio da
isonomia, com a igualdade de todos aqueles que estão na mesma situação
jurídica para concorrer ao concurso, mas ao final, os aprovados são a
lista do prefeito”, denunciou.
E continuou: “Eles começam sendo sócios logo na inscrição. O dinheiro da
inscrição é rachado entre as empresas e o prefeito. Eu conheço várias
situações dessas no Alto Sertão da Paraíba”.
Para o parlamentar, o lado mais sujo de toda essa manobra dos gestores
paraibanos é o fato de os gestores deixarem para fazer o certame apenas
no último ano do mandato.
“O
lado mais sujo é que todos fazem no último ano de governo enrolando o
Ministério Público, fazendo Termos de Ajustamento de Conduta, não
cumprem, ficam enrolando, e depois, no último ano, no apagar das luzes,
realizam o concurso para beneficiar seus apadrinhados políticos, e os
inscritos, que não são da mesma cartilha, mesmo tendo as melhores notas,
são excluídos. Isso é uma vergonha. É uma fraude ao princípio da
igualdade e um atentado a Constituição Federal. Nesses concursos que
estão fazendo os municípios a nota, é a nota que o prefeito indica,
porque entrega a lista aos safados”, disparou.
O deputado disse que logo que retornar do recesso parlamentar abordará o
tema na Assembleia Legislativa da Paraíba e poderá acionar o Ministério
Público para tomar providências.
“O que não pode é a indicação tomar o lugar da meritocracia”, arrematou.
Recentemente alguns concursos da Paraíba tiveram que ser cancelados, já outros anulados devido as suspeitas de corrupção.
Na semana passada, por exemplo, a Promotoria de Justiça de Santa Luzia
pediu “providências necessárias e legais para declarar a nulidade do
concurso público do município de Junco do Seridó.
O motivo seria o envolvimento da empresa Concursos Públicos e
Assessorias (Conpass), que organiza o concurso, em outros concursos
públicos fraudulentos em diversas cidades da Paraíba, Pernambuco e Rio
Grande do Norte. Também foi recomendado que seja anulada a licitação
para a escolha da empresa organizadora bem como o contrato firmado com a
Conpass.
O concurso do Conde, no Litoral Sul da Paraíba, também esteve sob
suspeita. O certame chegou a ter as inscrições suspensas e, após a
divulgação do resultado, foi denunciado, também por suspeitas de
fraudes. Muitos inscritos informaram que sequer tinham pago a inscrição e
constavam na lista como se tivessem efetuado o pagamento.
Os candidatos também reclamaram de vários problemas na aplicação da
prova. Uso do celular durante a prova e nas saídas ao banheiro e a falta
da exigência do documento de identidade do candidato para fazer a
prova, por exemplo.
O concurso da prefeitura de Santa Rita também chegou a ser suspenso e,
segundo a organizadora, a Facet Concursos, na ocasião, o edital foi
suspenso por "motivos superiores".
MAIS ANULAÇÕES
Em entrevistas à imprensa, o procurador-geral de Justiça, Bertrand
Asfora, não descarta a possibilidade de outros certames serem também
anulados.
De acordo com ele, os promotores estão atentos a estas questões e providências devem ser tomadas.
“O órgão de execução e acompanhamento disso é a promotoria. Cada
promotor deve estar atento para isso, para ter essas cautelas em relação
não só a essa empresa, mas às demais”, destacou Bertrand Asfora.
O procurador-geral de Justiça destacou o respeito às atribuições dos
promotores de justiça em cada comarca, lembrando que eles têm autonomia
para exercer seu papel de fiscalização.
Márcia Dias -
PB Agora
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