Criador do Orkut promete chegar ao Brasil rede social que não gere ansiedade
A
Hello foi apresentada oficialmente na semana passada como uma rede para
fazer e manter “amizades profundas” com outras pessoas com base em
interesses e paixões mútuos e onde o “medo e o ódio não têm vez”.
É
a forma como o criador do Orkut acredita poder ajudar a resolver uma
questão que vem afastando algumas pessoas desse tipo de serviço. Ainda
que persista a pergunta: há espaço para mais uma rede social entre os
usuários de internet?
“Desde que lançamos o Orkut, as redes
sociais evoluíram muito, mas nem sempre de uma forma boa. Estudos
mostram que, hoje, elas deixam muita gente triste ou ansiosa”, opina
Büyükkökten em entrevista à BBC Brasil.
“Uma pessoa usa o Facebook
pensando na forma como quer ser percebida publicamente, interage com os
outros tentando passar uma certa imagem, mas isso não é autêntico nem
divertido. Queremos mudar isso e ser a próxima geração das redes
sociais.”
O engenheiro dá o exemplo de um casal de amigos que está
se divorciando, mas publicou recentemente um post em que pareciam
bastante felizes em um piquenique no parque.
“Ao mesmo tempo, ver
essa ‘vida feliz’ dos outros nos deixa com medo de estarmos perdendo
algo em nossas próprias vidas. Uma rede social não pode ter esses
efeitos. Ela deveria tirar o melhor das pessoas.”
Personalidade, interesses e pontos
A forma de fazer isso, segundo ele, é gerar conexões entre as pessoas
com base no que elas mais gostam. Seja entre amigos e conhecidos ou
entre quem ainda não se conhece.
Ao criar seu perfil, o usuário
responde a um questionário com 60 perguntas para identificar sua
personalidade e depois elege os cinco assuntos que mais lhe interessam.
Há
uma lista com cem possibilidades, que vão desde itens corriqueiros,
como ser apaixonado por cães ou esportes, até outros mais incomuns, como
gostar de nudismo, striptease ou “observar pessoas”.
Isso
determina o tipo de publicações que serão vistas por um membro da rede
social. As características pessoais e interesses podem ser atualizados
ao longo do tempo.
O usuário ainda ganha pontos,
chamados “moedas Hello”, ao gerar conteúdo próprio – texto ou fotos – e
ao conquistar curtidas e comentários em seus posts.
Esses
pontos podem ser acumulados – ou comprados – para elevar a categoria ou
nível de um perfil, como ocorre com um personagem de videogame, ampliar
o alcance de uma publicação ou ainda postar anonimamente.
Desde
o Orkut, diz Büyükkökten, as redes sociais passaram por muitas mudanças
– e uma das principais é a forma de acesso, que ocorre cada vez mais
exclusivamente pelo celular.
Por isso, em sua segunda
incursão neste universo, o engenheiro criou um serviço que não pode ser
acessado por navegadores, mas só por meio do aplicativo, disponível
para iOS e Android.
Concorrência
Ao mesmo tempo, ao longo dos últimos 12 anos, surgiram uma série de novas redes sociais. Haveria espaço para mais uma?
“Realmente,
há uma fadiga quanto às redes sociais. As pessoas se inscrevem em
diferentes serviços por diferentes motivos, e estar em tantas delas ao
mesmo tempo gera um cansaço”, afirma o engenheiro.
“Não
esperamos que as pessoas parem de usar as outras, mas que usem o nosso
serviço cada vez mais, porque, ao atualizar suas características
pessoais ao longo do tempo, isso mudará sua experiência individual, e a
rede social vai evoluir com você. Não será preciso substituir um serviço
por outro conforme seu estilo de vida muda.”
Raquel
Recuero, pesquisadora em mídia social e professora da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Católica de Pelotas,
acredita que pode haver espaço para a Hello.
“Hoje,
existe um certo ranço do Facebook, que se universalizou demais. Há
gerações mais novas que usam cada vez menos”, afirma a pesquisadora. “Ao
mesmo tempo, nos últimos tempos, alguns malefícios ficaram mais
aparentes no Brasil, como pessoas que se expuseram demais ou brigaram
com a família ou amigos (por conta de postagens).”
Volta às origens e anonimato
Recuero
considera “interessante” a proposta da Hello e vê nela um resgate de
algumas características da primeira rede social lançada por seu criador.
“As
comunidades do Orkut já eram lugares para achar pessoas com interesses
em comum, mas depois seu uso foi sendo modificado pelo usuário para
mostrar características pessoais suas. Também havia um aspecto de game
ao poder avaliar os outros com corações para dizer se a pessoa era sexy
ou com gelinhos para dizer se ela era ‘cool'”, diz Recuero.
“Pode
ser uma volta à ideia original, só que melhorada. Mas, no fundo, atende
uma característica fundamental do ser humano, porque adoramos encontrar
pessoas que gostam do que também gostamos.”
No
entanto, outras redes sociais onde usuários podiam fazer publicações sem
revelar sua identidade fracassaram diante da chuva de críticas e
reclamações sobre comentários ofensivos.
Recuero
concorda que o anonimato pode ser um incentivo à publicação de discursos
de ódio e à propagação de diversos tipos de preconceito.
“É
um recurso para uma pessoa se esconder ao expressar opiniões radicais, e
isso pode ser perigoso, mas tudo depende da forma como esse recurso
será usado”, diz Raquel Recuero, pesquisadora e professora do Programa
de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Büyükkökten diz não estar
preocupado com isso. “Sem ter uma opção para expressar uma opinião
impopular sem medo de represália, os usuários acabam criando outras
contas com identidades falsas que entopem o sistema”, afirma.
“Se
posts anônimos tiverem agressões ou mensagens de ódio, a comunidade
pode denunciá-lo para impedir que se propague. Isso reduz a reputação de
quem publica e afeta como o conteúdo postado por essa pessoa será
distribuído no futuro.”
Brasileiros e redes sociais
A
nova rede social já está disponível em cinco países de língua inglesa –
Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Irlanda e Reino
Unido.
Em breve, estará disponível em outros países
(e idiomas), como França, Alemanha, México e também no Brasil, onde será
lançado no próximo mês, segundo seu criador, e não em agosto, como
indicado no site da rede social.
“Isso exige um
esforço muito grande, porque existem centenas de milhares de verbos e
expressões em cada língua, e queremos garantir que temos a melhor
tradução possível.”
Büyükkökten diz ter ficado
“honrado” com a repercussão entre os brasileiros do lançamento de sua
nova rede social nos país, que consta com frequência nas listas dos que
mais usam redes sociais no mundo.
“A cultura
brasileira é por si própria muito social , então, acho que é por causa
disso que há uma alta adoção desse tipo de site pelos brasileiros. Não
vamos decepcionar vocês.”
Terra
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