domingo, 26 de fevereiro de 2023

Alerta: bactérias resistentes que causam infecção generalizada

Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta para aumento nos níveis de resistência bacteriana no mundo; entenda o que são e quais os riscos para a saúde

Laboratório da Fiocruz integra rede de vigilância em resistência microbiana coordenada pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde - (foto realizada antes da pandemia) / Josué Damacena/IOC/Fiocruz

Lucas Rochada CNN Brasil Soft
A Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta para altos níveis de resistência em bactérias que causam infecção generalizada e para o aumento da resistência a tratamentos de várias bactérias que causam infecções comuns entre a população.

A resistência de microrganismos aos antibióticos é uma das maiores ameaças à saúde global atualmente. O problema está associado diretamente ao uso excessivo e incorreto dos antibióticos disponíveis. O aumento no número de bactérias resistentes aos medicamentos, chamadas popularmente de superbactérias, coloca em risco a saúde de humanos e de animais em todo o mundo.

O combate à automedicação e a preocupação com o uso indiscriminado de antibióticos foram destaques do programa CNN Sinais Vitais, apresentado pelo cardiologista Roberto Kalil (assista à íntegra acima).

No episódio, especialistas explicam que a grande resistência demonstrada pelas bactérias veio do uso descontrolado de antibióticos, que revolucionaram a medicina e salvaram vidas.

“A força motriz para resistência é o uso de antibióticos. Não porque ela produz a resistência, mas porque ela mata quem não é resistente. Então só sobra espaço para multiplicar quem é resistente”, afirma Anna Sara Levin, chefe da divisão de moléstias infecciosas e parasitárias do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O programa mostra ainda como a relação entre humanos e bactérias se modificou nos últimos cem anos: da publicação dos estudos do bacteriologista Alexander Fleming, em 1929, sobre a penicilina, considerada o primeiro antibiótico; ao surgimento da KPC, a bactéria que produz enzimas que conseguem resistir a antibióticos de amplo espectro.

“Desde quando a gente começou, principalmente na Segunda Guerra Mundial, a usar muito a penicilina, a gente já começou, logo em seguida, a ter resistência ao antibiótico. Então foi uma forma das bactérias realmente se adaptarem a esse meio ambiente novo”, afirma o médico Fernando Gatti Menezes, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Israelita Albert Einstein.

O combate à resistência antimicrobiana leva em consideração o conceito de Saúde Única (One Health).

“O conceito de One Health ou o conceito de Saúde Única está interligado ao conceito de que você não pode ter saúde humana se você não tiver a saúde do meio ambiente e a saúde do animal. Para estarmos em um planeta saudável, precisamos ter um humano saudável, um meio ambiente saudável, e os animais saudáveis. A gente está muito interligado”, explica a professora de infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ana Cristina Gales.

Pesquisa

O Brasil segue atento ao fenômeno das bactérias resistentes e desenvolve pesquisas relevantes na área. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que a detecção de bactérias resistentes a antibióticos triplicou na pandemia de Covid-19.

Em 2019, um pouco mais de mil isolados de bactérias resistentes a antibióticos foram enviados por laboratórios de saúde pública de diversos estados do país para análise aprofundada no Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como laboratório de retaguarda da Sub-rede Analítica de Resistência Microbiana em Serviços de Saúde (Sub-rede RM), instituída pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde.

Em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, o número de amostras positivas passou para quase 2 mil. Em 2021, apenas no período de janeiro a outubro, o índice ultrapassa 3,7 mil amostras confirmadas, um aumento de mais de três vezes em relação a 2019, período pré-pandemia.

“Durante a pandemia, houve aumento no volume de pacientes internados em estado grave e por longos períodos, que apresentam maior risco de infecção hospitalar. Também houve aumento no uso de antibióticos, o que eleva a pressão seletiva sobre as bactérias. É um cenário que favorece a disseminação da resistência, agravando ainda mais um problema de alto impacto na saúde pública”, afirma a chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar, Ana Paula Assef, em comunicado.

O professor livre-docente do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Nilton Lincopan, revela detalhes da criação da plataforma OneBR (One Health Brazilian Resistance), o primeiro banco de dados genômico disponível para auxiliar profissionais e sistemas de saúde na vigilância epidemiológica, diagnóstico, gerenciamento e controle da resistência antimicrobiana na interface humana-animal-ambiental nos diferentes estados do Brasil.

CNN Brasil

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