quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Advertência

Secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adverte que homem se tornou "máquina de destruição em massa"

Sem a presença de chefes de Estado, que não foram convidados pela China, presidente do evento, conferência da biodiversidade começa com duro alerta da ONU. Países têm duas semanas para costurar um documento que estabeleça compromissos de preservação

Paloma Oliveto
(crédito: YANICK FOLLY)
(Crédito: YANICK FOLLY)

Com a advertência do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, de que o homem se transformou em uma "máquina de destruição em massa", a 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP15) começou ontem, em Montreal, no Canadá. O desafio dos delegados de 196 países é chegar a um documento, até o dia 19, que garanta, nas próximas décadas, a estabilização e, depois, a reversão da perda de espécies, no momento em que a taxa de extinção de animais e plantas é 1 mil vezes maior que a natural.

Sem o brilho da COP do clima, que atraiu cerca de 100 líderes mundiais no Egito para discutir metas sobre o aquecimento global, esta é, porém, considerada uma das conferências internacionais mais críticas já realizadas. "Talvez seja uma das reuniões mais importantes que a humanidade já teve", acredita o biólogo brasileiro Alexandre Antonelli, diretor científico do Kew Gardens, no Reino Unido. "Temos uma janela de oportunidade muito estreita para deter a perda de biodiversidade até 2030 e reverter seu declínio até 2050. Talvez nunca mais tenhamos essa chance." Atualmente, 1 milhão de espécies de animais e plantas correm risco de extinção.

A COP15 acontece com dois anos de atraso, devido à pandemia de covid-19. Embora o Canadá seja a sede do evento, a presidência da conferência é da China, que não convidou governantes. Observadores e cientistas temem que a ausência de líderes diminua o peso das decisões, apesar do senso de urgência para a construção do chamado novo Quadro da Biodiversidade Global. O documento define a agenda da biodiversidade pós 2020, e estabelece metas para que, nos oito próximos anos, a perda de espécies se estabilize e passe a cair em 2050. Por isso, esta edição é considerada fundamental.

Economia

"Se não concordarmos em proteger a natureza, então nada mais importa", discursou o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, antes de ser interrompido por indígenas que fizeram um protesto. "Genocídio indígena é igual a ecocídio", destacaram os manifestantes. "Não estamos em harmonia com a natureza. Pelo contrário, estamos tocando uma melodia muito diferente, uma cacofonia do caos, tocada com instrumentos de destruição", definiu António Guterres. "No fim das contas, estamos nos suicidando por poder."

O secretário-geral da ONU lembrou que o prejuízo econômico causado pela destruição dos ecossistemas é estimado em US$ 2,7 trilhões anuais a partir de 2030, por um relatório recente do Instituto Bennett de Políticas Públicas da Universidade de Cambridge. "Como a perda da biodiversidade reduz o desempenho econômico, ficará mais difícil para os países pagarem suas dívidas, sobrecarregando os orçamentos governamentais e forçando-os a aumentar impostos, cortar gastos ou aumentar a inflação", explica Matthew Agarwala, um dos autores do documento.

Um dos pontos centrais da COP15 é a chamada meta 30x30: proteger 30% das terras e mares globais até 2030. "Não escolhemos esse número de 30% aleatoriamente. É o limiar crítico segundo os maiores cientistas para evitar o risco de extinção e também para garantir nossa segurança alimentar e econômica. Trinta por cento, isso é bastante viável", disse Trudeau, ontem.

O objetivo tem o apoio de todas as partes, exceto da Turquia, que se opôs. A França, por sua vez, considera uma prioridade e quer que o percentual seja mais ambicioso: 50%. Embora os Estados Unidos não façam parte da convenção, o presidente Joe Biden emitiu uma ordem executiva para que o país cumpra, ao menos, esse objetivo.

Porém, o rascunho do texto da conferência tem mais colchetes que palavras, indicando falta de concordância das partes em vários pontos. O principal deles, como na conferência do clima, é a criação de um fundo para financiar ações de proteção da biodiversidade nos países em desenvolvimento.

Estipular uma data final para uso de pesticidas e metas sobre mudanças no uso da terra (o desmatamento é o maior propulsor da perda de biodiversidade) são outros pontos conflituosos. O Brasil, por exemplo, se opõe ao objetivo de se alcançar a agroecologia (produção de alimentos de forma sustentável), de mencionar defensivos agrícolas e fertilizantes no documento e na meta de redução de poluição sonora e luminosa, entre outros.

Restrição a commodities

Na véspera da abertura da COP15, a União Europeia (UE) anunciou uma lei que proibirá países do bloco de importar commodities associadas ao desmatamento. A mudança no uso da terra, especialmente o desflorestamento para fins agrícolas, é a principal causa da perda da biodiversidade, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnud).

Correio Braziliense

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