Pobres apresentam múltiplas doenças crônicas dez anos antes que ricos, mostra estudo publicado em revista científica
A pesquisa é uma iniciativa de dez cientistas de Dinamarca, Reino Unido, Canadá, Peru, Estados Unidos, Índia, Tanzânia, Irlanda e Brasil
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pessoas mais pobres começam a apresentar duas ou mais doenças crônicas dez anos antes do que os mais ricos, mostra um estudo publicado na revista científica Nature Reviews Disease Primers. A pesquisa sugere diretrizes sobre como lidar com o problema, que já afeta cerca de 25% dos brasileiros.
O estudo é uma iniciativa de dez
cientistas de Dinamarca, Reino Unido, Canadá, Peru, Estados Unidos,
Índia, Tanzânia, Irlanda e Brasil. Ele compila e analisa pesquisas
anteriores sobre a chamada multimorbidade, resume o que já foi publicado
e oferece orientações para profissionais de saúde e pesquisadores.
Entre
os dados listados estão a maior frequência de doenças crônicas
simultâneas entre mulheres e a forte associação entre multimorbidade e
idade: há prevalência de 30% na faixa etária de 45 a 64 anos, de 65% na
faixa de 65 a 84 anos e de 82% a partir dos 85 anos.
"Os idosos
apresentam, percentualmente, mais multimorbidade. Porém, em termos
absolutos, ela é mais frequente em adultos. Assim, não podemos definir a
multimorbidade como um problema específico de pessoas idosas, até
porque o enfrentamento do problema passa por uma abordagem de prevenção
desde o início da vida", afirma o pesquisador Bruno Pereira Nunes,
professor na UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e coautor do
trabalho.
Além do envelhecimento, a pesquisa mostra que aspectos
econômicos e sociais têm impacto na ocorrência de casos. Segundo os
pesquisadores, há maiores chances de multimorbidade nos grupos com menor
escolaridade e entre indivíduos que moram em áreas mais pobres.
"A
pobreza e as dificuldades socioeconômicas influenciam diferentes
aspectos da vida dos indivíduos, sendo consideradas 'as causas das
causas' da situação de saúde. Por exemplo, fala-se muito que uma
alimentação inadequada é fator de risco para doenças, mas qual a causa
da alimentação inadequada? Normalmente, ela está associada à dificuldade
de obtenção de uma alimentação equilibrada, rica em frutas e legumes, o
que passa por questões socioeconômicas. E, infelizmente, está
relacionada com a fome e a insegurança alimentar, que estão aumentando
no Brasil", explica Nunes.
Ainda nesse sentido, o estudo retoma uma
pesquisa escocesa segundo a qual a multimorbidade ocorre dez anos antes
em pessoas de maior vulnerabilidade socioeconômica. "Todos os países
precisam lidar com a ocorrência de múltiplas doenças crônicas. Porém, em
países de média e baixa renda, os desafios são maiores devido às
desigualdades sociais e aos níveis de pobreza que impactam desde a
prevenção até o tratamento", diz o pesquisador.
Já em relação aos
hábitos que podem favorecer o surgimento da multimorbidade, os
cientistas ressaltam o tabagismo, baixos níveis de atividade física, IMC
(índice de massa corporal) elevado, alta ingestão de frango ou carne
vermelha, consumo de álcool e duração excessiva ou insuficiente do sono.
"Como a inatividade física é fator de risco para diversas condições
crônicas, ela é de particular relevância para a prevenção da
multimorbidade em todas as faixas etárias, especialmente em indivíduos
de origem economicamente desfavorecida", apontam os pesquisadores no
artigo.
Eles também recomendam que médicos, gestores de saúde e
formuladores de políticas públicas definam diretrizes e centrem as
medidas considerando três áreas principais: direcionamento dos
pacientes, apoio a comportamentos saudáveis e prestação de cuidados com
foco na interdisciplinaridade.
"Os sistemas e serviços de saúde ainda
não estão preparados para lidar com a multimorbidade, e a pandemia pode
ter piorado a situação com o aumento das desigualdades sociais. Apesar
disso, o Brasil pode estar em uma posição privilegiada porque temos o
SUS (Sistema Único de Saúde). No Brasil, o SUS e a Estratégia Saúde da
Família são capazes de fornecer essa atenção para toda a população,
desde que tenham financiamento suficiente e gestão de qualidade", afirma
Nunes.
Notícias ao Minuto.
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