Nonato Guedes

Os gestos de aproximação do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) com o PT paraibano e, sobretudo, o prestígio que ele conferiu ao ex-governador Ricardo Coutinho, aceitando-o como pré-candidato ao Senado na sua chapa mesmo com situação de inelegibilidade enfrentada por ele, foram decisivos para a opção tomada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao cenário político-eleitoral em nosso Estado. Lula confirmou, em Brasília, ao senador Eduardo Braga, líder do MDB no Senado, que na próxima semana vai abençoar a aliança entre PT e MDB em nove Estados, entre os quais a Paraíba. A sinalização indica que Veneziano venceu a queda-de-braço com o governador João Azevêdo (PSB), candidato à reeleição, que também pleiteava o apoio de Lula.

Isto não quer dizer, necessariamente, que o líder petista venha a recusar o apoio de Azevêdo. O governador é considerado expoente da “base lulista”, tanto porque reiteradamente tem manifestado adesão ao ex-presidente Lula como porque o pré-candidato a vice-presidente na chapa lulista é o ex-governador Geraldo Alckmin, que se filiou às pressas ao PSB para se habilitar no campo da esquerda, onde, até então, não havia atuado. A escolha de Alckmin, ex-tucano de quatro costados e representante da fina flor do conservadorismo paulista, para vice, já foi uma jogada engenhosa orquestrada por Lula para receber apoios em Estados, sobretudo do Nordeste, neutralizar o PSB e cravar uma cunha no radar de centro-esquerda para alinhar o perfil da versão 2022 do lulopetismo. O ex-governador Ricardo Coutinho foi fundamental nesse processo porque, na Paraíba, é quem mais tem linha direta com Lula, a ponto de ter sido o candidato dele a prefeito de João Pessoa em 2020 contra o próprio candidato do PT, que era o deputado estadual Anísio Maia.

Naquela campanha em que o vitorioso foi Cícero Lucena, do PP, Anísio foi liberado para usar imagens de Lula no seu Guia Eleitoral, mas ficou visível, para o eleitorado ou a opinião pública, que Ricardo era o candidato “in pectoris” do ex-presidente. A investida de Lula na campanha pessoense talvez tenha sido um ensaio para a estratégia nacional que ele planejava colocar em prática, quando voltasse a disputar a presidência da República, o que está acontecendo agora, com uma engenharia política meticulosa que em vários Estados provocou desistências de favoritos, concessões de petistas históricos e estreitamento de relações com outros partidos, inclusive de centro. É bom lembrar que política se faz, também, com gestos de afetividade, sobretudo nos momentos difíceis. Ricardo Coutinho ganhou o coração de Lula quando foi visitá-lo na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e quando protestou contra a sua prisão, da mesma forma como acolheu Dilma Rousseff na Paraíba em pleno moedor de carne que ela sofria, no processo de impeachment finalmente consumado.

Aliás, o retorno do ex-governador Ricardo Coutinho às hostes do PT na Paraíba, batendo em retirada do PSB onde pontificou por um bom período, foi o coroamento de uma estratégia maquiavélica que levou em conta desfalques de lideranças mais expressivas na conjuntura estadual. O governador João Azevêdo, mesmo, foi uma criatura política inventada por Ricardo Coutinho, que tirou o seu nome do bolso do colete para sucedê-lo na disputa de 2018, vencida em primeiro turno contra uma oposição que ficou tonta depois de baquear nas urnas em pleitos decisivos. PhD em PT, Ricardo Coutinho jamais poderia ser subestimado, quer por João Azevêdo, quer pelo ex-senador Cássio Cunha Lima, que então liderava um dos polos da política paraibana. Ainda agora, com rastros da Operação Calvário espalhados no meio do seu caminho, Ricardo demonstra fôlego, resistindo a algumas derrotas judiciais e se mantendo à tona na disputa majoritária. Se ficar inelegível ou perder o Senado, terá lugar junto a Lula, que, hoje, está em marcha batida para voltar ao Planalto.

O senador Veneziano Vital do Rêgo, cujo desempenho em pesquisas ao governo do Estado ainda está para ser aferido, é beneficiário, por enquanto, de algumas vitórias políticas pontuais, como essa conquista do apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Precisará de maior consistência para avançar na sua caminhada e fazer frente ao governador João Azevêdo, cuja liderança emergente deve ser reconhecida, apesar das defecções ocorridas na sua base e de alguns erros de cálculo, supostamente por ouvir pouco e decidir demais. Um ponto vai ficando claro para a opinião pública: quando vier à Paraíba, no primeiro turno, Lula dirá com todas as letras que seu candidato ao governo é o senador Veneziano Vital do Rêgo. A hipótese de marcar presença num evento com o governador João Azevêdo está em aberto e dependerá da evolução dos acontecimentos. Da parte do governador não haverá recuo. Ele continuará externando o apoio a Lula, independente de tê-lo no seu palanque. Este é o quadro que está posto, queiram ou não líderes políticos paraibanos envolvidos na “guerra”.

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