domingo, 16 de janeiro de 2022

Imunizantes para adultos e já vencidos são aplicados em crianças na Paraíba

Vacinação indevida de crianças mostra um retrato do descaso municipal em Lucena, cidade do Litoral Norte paraibano

UBS do município de Lucena vacinou crianças antes da chegada de imunizante correto para idade — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

A vacinação indevida de 60 crianças no município de Lucena, no litoral norte da Paraíba, é mais um retrato do descaso completo em que se encontra a cidade em relação aos serviços públicos mais básicos oferecidos à sua população. A situação é tão escandalosa que, os pormenores de como o episódio aconteceu, revelam as entranhas de um completo abandono.

O improviso impressiona e estão enumerados a seguir: 1) a vacinação ocorreu antes de autorização de órgãos governamentais superiores; 2) os imunizantes estavam totalmente vencidos; 3) os produtos eram para a população adulta; 4) uma criança de quatro anos, fora do público alvo, foi vacinada; 5) as autoridades locais alegam desconhecimento e colocam a culpa em apenas uma aplicadora.

O episódio repercutiu nos principais veículos de comunicação do país, levando a Secretaria de Saúde do Estado (SES) a assumir a responsabilidade de vacinar as crianças naquela cidade. A intervenção estadual desnuda uma cidade incapaz de levar a cabo a imunização dos seus pequenos moradores, um atestado de inapetência de cada um dos seus gestores.

Dito isso, algumas perguntas precisam ser colocadas: onde estavam, enquanto tudo isso acontecia, o prefeito municipal e sua equipe de secretários? Como uma profissional foi capaz de iniciar uma vacinação em 60 crianças sem que ninguém tivesse conhecimento? De que maneira tem sido feita a divulgação da campanha de imunização para a população da cidade? São questões que precisam ser respondidas no procedimento aberto pelo Ministério Público Federal (MPF) para investigar o caso.

Em breve nota publicada nas redes sociais, a prefeitura da cidade diz lamentar ‘profundamente’ o episódio, mas não pede desculpas aos pais das crianças. Na publicação, que restringe comentários dos internautas, a gestão alega que a decisão em aplicar as vacinas teria partido de uma auxiliar, de forma ‘individual’, e diz ter colocado à disposição das famílias um acompanhamento médico.

No mais, o que já se sabe é: repetiu-se na saúde de Lucena aquilo que já acontece em outros setores. Uma cidade que não cuida do próprio lixo. Onde, na praia, carros dominam, e não os banhistas. Onde áreas ambientais são violadas e nada acontece. Onde a infraestrutura fica a desejar. Onde o brilho da natureza é sufocado pelo atraso do setor público. Um município que, apesar do seu potencial, ainda não encontrou o caminho do seu próprio futuro.

Felipe Nunes - Agenda Política 

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