A
empresária Carolina Marques, de 26 anos, já tinha um filho de outro
relacionamento quando conheceu o atual marido, com quem é casada desde
janeiro. Mesmo assim, convertida à Assembleia de Deus há três anos,
Carolina esperou se casar para ter um envolvimento sexual com ele.
Depois de oficializar a relação, no entanto, nada de monotonia na cama. Pelo contrário!
Dona da sex shop ConSensual, direcionada ao público
evangélico, Carolina quer levar aos clientes desse nicho a ideia de que o
sexo não precisa ser um tabu nem deve ser visto como algo sujo — desde
que aconteça entre um homem e uma mulher e dentro do casamento.
Em sua loja de artigos eróticos, que ela prefere chamar
de ‘Love Store’ no lugar de ‘Sex Shop’, as aparências importam. As
embalagens são de cores sóbrias, e os produtos não têm nomes sugestivos
em seu negócio, inaugurado em maio. Sabores mais lúdicos, como
algodão-doce e outros inspirados nos famosos chicletes Bubbaloo, têm uma
receptividade melhor.
“Não tem como vender produtos chamados ‘ppk louca’, ‘ ‘vai fundo’, isso assusta esse público, pode acabar afastando”, diz ela.
Carolina vê em seu negócio mais que uma fonte de renda e
acredita que sua marca tem um propósito: ajudar os casamentos a
perdurar.
Para isso, Carolina, massoterapeuta de formação, conta que faz uma
curadoria muito cuidadosa dos artigos, já que para quase todas as
clientes aquela é a primeira vez que elas usam um produto do tipo.
Então, é importante que a qualidade seja boa, para mostrar que o
investimento vale a pena.
“A ideia é mostrar que o
sexo pode ser uma conversa saudável, um assunto para se tratar sem
medo e que começa muito antes da cama. Se a esposa não quer porque está
cansada, o marido tem que pensar se ele tem feito a parte dele na casa.
Às vezes, a mulher só está sobrecarregada com as tarefas, o trabalho, os
filhos”, diz ela.
Produtos para sexo anal, por exemplo, não são o foco de
sua loja. “Dentro do meio cristão, a região anal é vista como uma área
fisiológica. Tanto que não existe ali lubrificação natural. A mulher
engravida a partir da penetração na vagina, aquilo já foi feito para
isso”, diz ela.
Quanto ao sexo oral, há mais liberdade, pela prática ser vista como um tipo de carinho, dentro da retórica evangélica.

Andrea dos Anjos, de 43 anos, é outra vendedora do setor
erótico gospel no Rio de Janeiro. Há 17 anos, ela frequenta a Igreja Batista e,
desde 2019, é dona da loja Memórias da Clo, que atende esse público.
Andrea tem visto o interesse de seu público aumentar, principalmente na
Zona Norte e nos bairros da Barra e do Recreio, na Zona Oeste.
“São clientes um pouco diferentes da maioria, porque,
devido à religião e a alguns dogmas, ficam envergonhados e
constrangidos, mas é um público fiel. Dou consultoria informalmente”,
explica.
Andrea, assim como Carol, vende seus produtos pela internet e ganha clientes no boca a boca.
Para esse público, muito reservado, uma loja física, identificável, não é
tão interessante, já que a discrição é uma das chaves do sucesso.
“Tenho clientes que pedem para eu mandar os produtos em
caixa de remédio, em saco de padaria, para que ninguém saiba mesmo”,
conta ela.
As duas afirmam que mulheres são 95% de seu público. A idade costuma variar bastante.
‘Me chamavam de crente do rabo quente’
Carolina foi julgada
pela mãe e teve que convencer até o marido de que sua ideia era boa. “Me
chamavam de crente do rabo quente, meu marido falou que não sabia se ia
dar certo, por sermos cristãos, mas eu sabia que a marca teria um
propósito”, diz ela.
Ambas as vendedoras conversam com as conhecidas da igreja, que indicam
para outras fiéis, e assim as marcas se propagam e crescem.
“Eu só não levo para dentro da igreja, entrego do lado de fora”, explica Carol.
Vibradores não estão no catálogo da ConSensual, pelo
menos não ainda. “Um homem pode ficar muito intimidado de ver a mulher
com uma prótese que pareça um pênis. Por que ter outro pênis ali? No
futuro, quero trazer vibros, mas do tipo colorido, para usar junto, mas
as pessoas precisam se acostumar aos poucos com essa ideia. Primeiro um
gel beijável, um lubrificante, e depois algo a mais”, explica.
Clientes têm medo de julgamento, mas aprovam produtos
O g1 conversou com mulheres evangélicas que preferiram
não ser identificadas, mas garantem que incluir os produtos em suas
vidas sexuais fez diferença.
“Tinha medo de ser julgada. Produtos íntimos, até onde apresentavam pra
mim com naturalidade, eram produtos de higiene. Em uma sex shop normal,
me sentia atacada de informação, imagens apelativas, próteses de
genitálias na nossa cara durante o atendimento”, diz uma das clientes da
ConSensual.
Com a loja, isso mudou. A cliente passou a se sentir mais à vontade sabendo que está com outra mulher evangélica.
Cliente da Memórias da Clo, outra mulher que prefere não se identificar
conta que os acessórios mudaram seu casamento e que fez diferença ter
uma vendedora que compartilhasse de sua fé.
“Sou casada há 15 anos, conversei com meu esposo que uma amiga minha que
também é evangélica vendia esses produtos e se ele aceitaria usá-los
para sairmos da rotina”, conta ela. Ele aceitou e os dois vêm curtindo
as novidades.
“Mudou muito o meu casamento, com toda certeza, não é porque somos
evangélicas que também não podemos usar umas coisinhas, né?”, brinca.
Fonte: POLÊMICA PARAÍBA - Créditos: G1 GLOBO - Publicado por: Rebeka Melo
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