Nonato Guedes

A Paraíba é um Estado onde os apoios políticos à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto beiram quase a unanimidade, mas ficou mesmo, definitivamente, de fora da agenda de contatos que o ex-mandatário e candidato favorito em pesquisas de opinião pública programou para este ano. Conforme admitiu a própria cúpula nacional, presidida pela deputada Gleisi Hoffmann, do Paraná, somente em 2022, em plena fase decisiva de articulações para a campanha presidencial, é que Lula virá ao Estado para contatos e, a esta altura, provavelmente, para participar de eventos ou manifestações públicas. A espera, até certo ponto, é frustrante para apoiadores do líder petista, mas tem sido compensada por conversas mantidas por Lula, em Brasília e em São Paulo, com representantes paraibanos.

Com exceção do esquema Cunha Lima, que controla o PSDB e tem tentáculos no PSD, e de bolsonaristas-raiz espalhados por partidos como PTB, Patriota e PSL, as principais lideranças políticas do Estado estão sintonizadas com o projeto do ex-presidente Lula de retomar o poder. A “base lulista” na Paraíba compõe um arco que engloba adversários políticos locais, como o governador João Azevêdo, do Cidadania, e o ex-governador Ricardo Coutinho, do PT. Ambos foram aliados na campanha de 2018, quando eram filiados ao PSB. Ricardo fez-se protagonista do esquema logístico para reforçar Azevêdo, que até então era neófito em disputas de mandatos e que conquistou o Palácio da Redenção em primeiro turno. Do grupo fazia parte, ainda, o ex-prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rêgo, que foi eleito senador e que, atualmente, integra os quadros do MDB, presidindo o diretório regional e sendo cogitado, com frequência, como opção para candidatura própria ao governo em 2022, embora reitere manifestação de apoio à reeleição de Azevêdo.

O ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), soma-se à “caravana lulista” para a estação 2022. Ele já foi filiado ao PT e rompeu com a agremiação quando estourou o escândalo do mensalão, por avaliar que o caso iria respingar em políticos alheios às negociatas, desgastando sua imagem. Migrou, num primeiro momento, para o PSD e, depois, para o PV, estando, agora, em processo de reaproximação com o Partido dos Trabalhadores, de quem recebeu convites para voltar à casa. Nas eleições municipais de 2020, quando estava em jogo a sua sucessão, Cartaxo não logrou êxito ao tentar emplacar a concunhada Edilma Freire, ex-secretária de Educação, como candidata. Ela não avançou, sequer, para o segundo turno, e, ao deixar o cargo, Luciano tem se movimentado para tentar viabilizar sua candidatura ao governo do Estado na frente de oposição a João Azevêdo. Até agora, não produziu consensos mais concretos, até porque a oposição local está bastante fragmentada e carente de coordenação política. Mas Cartaxo “furou” a cortina de acesso ao próprio Lula e a outros expoentes nacionais do PT, com quem tem dialogado, voltando a ser considerado como uma espécie de aliado.

Em agosto, por ocasião de périplo que empreendeu pela região Nordeste, promovendo contatos em gabinetes oficiais e outros ambientes fechados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou de cumprir programação em três Estados – Paraíba, Alagoas e Sergipe, e a versão dada para a exclusão foi “dificuldade de encaixe na agenda”. Na verdade, independente dos múltiplos compromissos que assumiu em outras unidades da Federação, na região Nordeste, Lula preveniu-se diante de impasses que eclodiram na conjuntura paraibana, com a rivalidade aberta entre João Azevêdo e Ricardo Coutinho. Estava em pauta, também, o parto laborioso para a refiliação do ex-governador Ricardo Coutinho aos quadros do PT, com acenos para que ele seja candidato ao Senado nas eleições vindouras, a despeito de estar atualmente inelegível e de ainda ter óbices legais a superar daqui para a frente. A refiliação de Ricardo ao petismo se deu em alto estilo e foi comandada, via online, pelo próprio Lula, que se poupou de vir à Paraíba para não se deparar com os conflitos regionais.

Mesmo com a dimensão do retorno do ex-governador às hostes petistas, o governador João Azevêdo tem mantido declaração de apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lembrando que há facções do petismo na Paraíba que participam mesmo do seu governo, em secretarias estratégicas. Lula chegou a se encontrar com João Azevêdo em Natal, no intervalo de uma reunião dos governadores do chamado Consórcio Nordeste e recebeu convite oficial para vir à Paraíba com honras e recepção no Palácio da Redenção. O ex-presidente ficou de marcar a data apropriada para tanto, ressaltando que também tem interesse em vir ao Estado e em conversar com o governador sobre a problemática nacional. A partir de então, ganhou força a articulação para palanque múltiplo na Paraíba, face à variedade de líderes interessados em “fechar” com a candidatura Lula, mas a cúpula nacional petista ainda não deu sinal verde sobre como conciliar figuras díspares no bloco lulista.

Ainda esta semana, em declarações a jornalistas, o governador João Azevêdo pontuou que Lula “é o melhor nome” entre os postulantes que despontam ao Palácio do Planalto em 2022. “Fica cada vez mais consolidado que precisamos de alguém que traga esperança para este país”, afirmou o chefe do Executivo, identificando em Lula compromissos com a solução dos graves problemas nacionais e, em paralelo, identidade com a pauta de reivindicações do Nordeste. Os desencontros e adiamentos em torno da agenda do ex-presidente Lula na Paraíba contribuem para agravar o clima de expectativa reinante nos meios políticos e, até mesmo, para fomentar especulações as mais diversas. Entre os petistas, há uma certeza inabalável: a de que o “frentão” em prol de Lula na Paraíba não será esvaziado; pelo contrário, tende a ser ampliado, na esteira de defecções que possam vir a acontecer em outros agrupamentos políticos-partidários. 

Os Guedes