Atos anti-Bolsonaro realizados neste sábado, 02 de outubro, têm adesões tímidas e nova ausência do ex-presidente Lula
As manifestações pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo e diversas cidades pelo país foram lideradas por movimentos e partidos de esquerda

© Getty Images
JOSÉ MARQUES, GUSTAVO FIORATTI, CAROLINA LINHARES, WASHINGTON LUIZ, LEONARDO AUGUSTO E LEONARDO VIECELISÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, BRASÍLIA, DF, E BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - As manifestações pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo e diversas cidades pelo país, neste sábado (02), foram lideradas por movimentos e partidos de esquerda e contaram com adesões tímidas à direita, apesar dos esforços de organizadores para que os atos tivessem amplitude ideológica.
Estiveram
ausentes tanto presidenciáveis da chamada terceira via como o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nome que lidera a disputa
para 2022 e que foi exaltado pelos manifestantes nas ruas, mas até o
momento não compareceu a um protesto da Campanha Nacional Fora
Bolsonaro.
O ato na avenida Paulista reuniu 8.000
pessoas, segundo estimativa da Secretaria de Segurança Pública do
Governo de São Paulo, pouco acima dos 6.000 participantes medidos no ato
de 12 de setembro, promovido pela direita, mas bem abaixo dos 125 mil
estimados no protesto bolsonarista do 7 de Setembro - todos ocorridos na
avenida Paulista.
Os organizadores estimaram 100 mil pessoas
em São Paulo e um total de 700 mil no país e no exterior. Foram
contabilizados 314 atos em 304 cidades em 18 países.
Nas
diversas capitais do país, a crise econômica foi lembrada e dividiu
espaço com o impeachment de Bolsonaro nos cartazes. Em São Paulo, um
botijão inflável de gás de cozinha exibiu o preço de R$ 125 em frente ao
Masp.
No Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife e Salvador, manifestantes empunharam faixas com menções à inflação, à fome e ao desemprego.
Em
São Paulo, onde os organizadores concentram esforços para exibir uma
versão nacional da manifestação, apenas Ciro Gomes (PDT) compareceu
entre os pré-candidatos ao Planalto. Mais cedo, ele esteve no ato
realizado no centro do Rio de Janeiro.
A dificuldade em furar a bolha
de esquerda petista e promover um ato amplo ficou evidente pelas vaias a
Ciro durante sua fala na avenida Paulista. O pedetista deixou o local
com seu carro sob ataques de pedaços de pau.
No
palco, ao ser vaiado, Ciro afirmou que "meia dúzia de bandidos
travestidos de esquerda acham-se donos da verdade". "O povo brasileiro é
maior do que o fascismo de vermelho ou de verde e amarelo."
Ciro,
que tem sido crítico ao PT, defendeu o impeachment de Bolsonaro e disse
que a medida é necessária para evitar um golpe. Seus apoiadores
aplaudiam, enquanto os opositores vaiavam e xingavam - chegou a haver uma
briga entre os manifestantes.
Em seu discurso no Rio de Janeiro, Ciro pediu união contra Bolsonaro e recebeu tanto aplausos como gritos contrários.
Lula
mais uma vez optou por não comparecer. Segundo interlocutores, o
ex-presidente pretendia evitar dar um tom eleitoral aos atos, além de
demonstrar preocupação com aglomeração em meio à pandemia do coronavírus
- o petista tem 75 anos.
Líderes da esquerda alinhados a Lula,
como Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT), que pretendem se
candidatar ao Governo de São Paulo, foram aplaudidos pelo público.
"A gente não pode recuar. Depois do dia de hoje, é momento de avançar, e não de recuar", afirmou Boulos.
"Não
vamos nos iludir por cartinha escrita por Bolsonaro com Michel Temer
[MDB]", disse, em referência ao texto divulgado pelo presidente após os
atos de raiz golpista de 7 de Setembro.
Haddad, ex-prefeito de São
Paulo, afirmou que "essa desgraça de governo tem que acabar antes da
eleição, porque o povo não aguenta mais".
"Estamos aqui porque
o povo quer comer e o Bolsonaro não deixa. Estamos aqui porque o povo
quer estudar e o Bolsonaro não deixa. Estamos aqui porque o povo quer
trabalhar e o Bolsonaro não deixa", afirmou.
O
discurso de Haddad foi feito pouco depois de Ciro ter sido vaiado. O
petista abriu sua fala dizendo que os manifestantes "não podem perder de
vista" o que estão fazendo nas ruas, que é se manifestar contra o
presidente.
Ao deixar o local, Haddad disse que a tentativa de agressão a Ciro foi "lamentável".
Mais
cedo, ao discursar no palco, Antonio Carlos, dirigente nacional do PCO,
defendeu Lula e chamou Ciro de "canalha". A fala irritou os militantes
pró-Ciro, que xingaram o PCO em coro. Logo após a fala, organizadores
do protesto tomaram o microfone e voltaram a defender a união entre
pessoas de diversas ideologias contra Bolsonaro.
Na noite
deste sábado, Ciro divulgou um vídeo afirmando que foi às ruas "sabendo,
de antemão, que poderia enfrentar a fúria e a deselegância de alguns
radicais".
"Os radicais, seja da esquerda, seja da direita,
nunca me intimidaram. E nunca me intimidarão. [...] As ruas não têm
dono. E a democracia não tem senhores", afirmou o pedetista, ressaltando
que a política ensina ser preciso união contra um inimigo coletivo.
"Esta
luta está apenas no começo e ela será mais rapidamente vitoriosa quando
todos aprenderem quem é o verdadeiro inimigo e quem é o verdadeiro
alvo. Para defender a democracia, voltarei às ruas tantas vezes seja
necessário e ao lado dos que queiram sinceramente se livrar de vez de
Bolsonaro e de todo atraso que ele representa."
A rodada de
protestos contra Bolsonaro neste sábado foi a sexta organizada
majoritariamente pela esquerda desde maio. Como nas edições anteriores,
predominou a cor vermelha, mas, desta vez, houve algumas adesões de
políticos da direita - antes basicamente limitadas a alas do PSDB, PSL,
Cidadania e Solidariedade.
Depois dos atos de Bolsonaro no 7
de Setembro, tanto a oposição à direita como à esquerda buscaram
expandir o escopo ideológico das suas ações e conseguiram alguma
diversidade -porém longe de promover uma "reedição das Diretas Já" ou de
fazer frente à multidão verde e amarela na avenida Paulista no feriado
da Independência.
Entidades que organizaram os atos deste
sábado ressaltaram sua importância pela união de políticos de 21
partidos, mas alguns representantes, devido a outros compromissos
pessoais, enviaram apenas vídeos exibidos no palco em frente ao Masp - o
que os poupou de vaias.
O deputado Paulinho da Força (SP),
presidente do Solidariedade, por exemplo, foi chamado de golpista por
alguns. Ele apoiou o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em
2016.
Militantes atribuíram os gritos a integrantes do PCO, que
abertamente foram contra a presença de críticos de Lula na manifestação.
Em sua fala, Paulinho criticou o crescimento do desemprego e disse que é preciso "se livrar" de Bolsonaro.
O
vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), a senadora Simone
Tebet (MDB-MS), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o ex-senador
Aloysio Nunes (PSDB-SP) enviaram vídeos em que saúdam a união de forças
diferentes para combater Bolsonaro.
Já o protesto pelo
impeachment organizado por MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem Pra
Rua), no último dia 12, não teve a adesão do PT ou de movimentos sociais
próximos ao petismo. Houve participação de políticos do PDT, PSB e PSOL
e, sobretudo, de nomes da terceira via - que foram ausências neste
sábado.
Na ocasião, também tida como uma resposta ao dia 7
bolsonarista, estiveram presentes, em São Paulo, Ciro, Tebet, João Doria
(PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE)
entre os presidenciáveis, além de João Amoêdo (Novo). O governador do
Rio Grande do Sul, também presidenciável, Eduardo Leite (PSDB),
participou do ato em Porto Alegre.
O próprio MBL chegou a participar de reuniões de organização dos atos deste sábado, mas decidiu não convocar sua militância.
Um
dos principais organizadores das manifestações, Raimundo Bonfim, da
Central de Movimentos Populares, afirmou que a mobilização foi positiva e
destacou a dificuldade de realizar seis atos em pouco mais de quatro
meses em meio à pandemia.
Ele admitiu que nomes da direita que
eram esperados não compareceram e afirmou ser preciso continuar a
superar divergências e intensificar a pressão popular pelo impeachment.
"Ainda
que timidamente, os atos foram um pouco mais amplos do que as outras
cinco mobilizações. Hoje, mais uma vez, a luta passou uma mensagem para a
sociedade de que é possível. Foi uma demonstração de que a população
não está disposta a esperar 2022 para derrotar Bolsonaro nas urnas",
afirmou.
Ele afirma que "um sentimento de revolta" surge não
só dos ataques à democracia, mas da crise econômica. Bonfim observou
ainda que, no lugar da vacinação, já avançada no país, a questão social
apareceu com mais força.
Sem uma união plena de forças de
esquerda e de direita tanto no dia 12 de setembro como neste sábado,
além de um público menor do que o do 7 de Setembro bolsonarista nas duas
ocasiões, aumentam as expectativas sobre o dia 15 de novembro.
No
feriado da Proclamação da República, a oposição promete voltar às ruas. A
tentativa será a de promover uma unificação mais simbólica, como foram
as Diretas Já.
Os atos deste sábado foram organizados ou
tiveram a participação da Campanha Nacional Fora Bolsonaro (fórum de
entidades majoritariamente de esquerda), além de Frentes Brasil Popular e
Povo Sem Medo, Direitos Já, Movimento Acredito, centrais sindicais,
UNE, Coalizão Negra por Direitos, Somos 70%, MTST, MST, Comissão Arns,
Uneafro e Central de Movimentos Populares.
Tabata Amaral
(PSB-SP), Marcelo Freixo (PSB-RJ), Orlando Silva (PC do B-SP), Carlos
Siqueira (PSB), Gleisi Hoffmann (PT), Carlos Lupi (PDT), Manuela D'Ávila
(PC do B) e Fernando Alfredo (PSDB) foram alguns dos políticos e
dirigentes partidários presentes na avenida Paulista, que reuniu
representantes ainda de siglas menores de esquerda, como PCB, PCO, UP e
PSTU.
O presidente da Comissão Arns, José Carlos Dias, e a
presidente de honra, Margarida Genevois, participaram do ato na avenida
Paulista, onde empunharam uma faixa pelos direitos humanos.
Em
Brasília, no fim da tarde, os manifestantes chegaram a ocupar as seis
faixas da Esplanada enquanto caminhavam do Museu Nacional em direção ao
Congresso.
O ato teve a adesão de movimentos da esquerda, como
sindicatos, organizações e estudantis e partidos como PT, PSB, PSOL, PC
do B e PDT.
Além de carregarem faixas com críticas ao
governo, os manifestantes inflaram um botijão de gás e um saco de arroz
com a imagem do ministro Paulo Guedes (Economia) para reclamar do preço
dos combustíveis e dos alimentos. Também houve frases contra a reforma
administrativa e a privatização dos Correios.
Na capital
federal, a adesão foi menor se comparada aos atos de 7 de Setembro a
favor de Bolsonaro, mas foi maior que a organizada pelo MBL. A Polícia
não divulga estimativa de público.
No Rio de Janeiro, a agenda de
reformas e privatizações também foi alvo de crítica. Ao lado do palco na
Cinelândia, havia um boneco inflável gigante de Lula e outro de um
carteiro, contrário à venda dos Correios.
Bandeiras de
partidos políticos ligados à esquerda e movimentos sociais dominaram o
ato. Também foi possível observar o verde e amarelo de bandeiras do
Brasil, usado em manifestações bolsonaristas.
Em Belo Horizonte, houve passeata pela região centro-sul, com integrantes do MST à frente.
Apesar da expectativa de que
a manifestação atraísse representantes de centro e centro-direita, a
manifestação foi pela presença de partidos da esquerda como o PCdoB,
PSOL e PT.
Notícias ao Minuto
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