A cúpula da CPI da Covid se prepara para enfrentar nesta semana uma chicana de ações judiciais impetradas por bolsonaristas para adiar a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito marcada para esta terça-feira, 27. Segundo o UOL Notícias, o principal alvo da estratégia governista é o senador Renan Calheiros (MDB-AL), indicado pelo seu partido como relator da CPI. O presidente Jair Bolsonaro vê na indicação de Renan uma vingança do MDB pelo fato de o partido ter sido derrotado por candidatos do Planalto às presidências da Câmara e do Senado. O maior pesadelo do presidente, conforme ele tem dito a aliados, é que a CPI embase um futuro processo de impeachment nos moldes do que ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor de Mello (AL), hoje senador pelo Republicanos.

O relatório final da CPI que apurou denúncias de corrupção no governo Collor foi fechado no dia 24 de agosto de 1992 e já no dia primeiro de setembro a Associação Brasileira de Imprensa e a Ordem dos Advogados do Brasil apresentaram o pedido de abertura do processo de impeachment. Baseado nas conclusões da CPI, o pedido foi aprovado e Collor acabou deixando o cargo. Bolsonaro apoiou a eleição do atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) em fevereiro contra o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP). No Senado, ajudou Rodrigo Pacheco (DEM) a derrotar a candidata emedebista Simone Tebet (MS).

O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga, do Amazonas, chegou a ensaiar a candidatura, mas foi obrigado a desistir diante da articulação do governo. Agora, Braga se autoindicou membro da CPI e negociou com o PSD e a oposição a nomeação de Renan Calheiros como relator. Em troca, o senador Omar Aziz (PSD-AM) ficará com a presidência da comissão. O Planalto acredita que Renan tentará levar a CPI a recomendar o impeachment do presidente da República. O senador já disse que pretende levantar quantas mortes “poderiam ter sido evitadas” se o governo tivesse atuado melhor no combate à pandemia do coronavírus. Renan Calheiros tem criticado abertamente a atuação do ex-ministro Eduardo Pazuello. “O Brasil inteiro acompanhou Pazuello. Foi um desempenho horroso. Vamos apurar cada fase da sua presença”, declarou, em entrevista à Globo News esta semana.

No dia 19, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) já havia ingressado com ação na Justiça de Brasília contra a indicação de Renan. Ela anunciou que outros parlamentares da tropa de choque de Bolsonaro deverão também entrar com ações. Na sua ação, Zambelli argumenta que Renan já demonstrou parcialidade, “pois a mácula em sua personalidade resta inconteste”. Os bolsonaristas estudam argumentar nas outras ações que o senador está impedido para a função porque Renan Filho é governador de Alagoas e seu Estado poderá ser alvo de investigação na CPI. Bolsonaro vê em Renan mais: um aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem pode ajudar numa aliança entre PT e MDB em 2022. Há cerca de 15 dias Renan e Lula conversaram ao telefone e ficaram de se encontrar. O petista realmente quer o apoio do MDB e planeja viajar a Brasília para se encontrar com políticos que possam se aliar ao PT. Mas o comando da CPI não acredita que as ações na Justiça dos bolsonaristas impeçam a instalação da comissão.

Os Guedes