Divididos, caminhoneiros tentam fazer nova greve nessa segunda-feira, 1º de fevereiro, e repetir movimento de 2018
Prestes a começar o escoamento das safras de milho e soja, o agronegócio - que apoiou o movimento de 2018 - diz que obstruir a logística neste momento seria irresponsável
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SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Entidades que representam caminhoneiros prometem iniciar uma greve na segunda-feira (1º) para pressionar o governo federal a negociar uma pauta com dez exigências, em uma tentativa de repetir o movimento que, em 2018, parou o país por 11 dias e deu origem à tabela de preços mínimos para os fretes rodoviários.
A realização da
paralisação, no entanto, não é consenso na categoria, e enfrenta
oposição em grupos patronais e do setor produtivo. Prestes a começar o
escoamento das safras de milho e soja, o agronegócio -que apoiou o
movimento de 2018- diz que obstruir a logística neste momento seria
irresponsável.
Pelo menos quatro entidades anunciaram participação e estão convocando caminhoneiros a não pegar a estrada na semana que vem.
Para
os que estiverem fora de suas cidades, os sindicatos, confederações e
associações estão sugerindo que os motoristas busquem postos de parada,
encostem os caminhões e conversem com outros.
Lideranças dizem
acreditar que em até três dias conseguirão que 80% dos motoristas
autônomos deixem suas boleias e participem da mobilização.
Confirmaram
adesão à greve CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de
Cargas), criado no ano passado, CNTTL (Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Transportes e Logística), ANTB (Associação Nacional de
Transporte no Brasil) e Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de
Veículos Automotores).
A pauta de reivindicações traz questões
como a necessidade de um marco regulatório do transporte e de uma
jornada de trabalho para esse tipo de função.
Entre
as lideranças, porém, são listados como "a gota d'água" para a
mobilização marcada a falta de efetividade da aplicação do piso mínimo
de frete, o preço do óleo diesel e as regras para a aposentadoria de
motoristas -somente os que conduzem material inflamável conseguem
enquadramento especial junto ao INSS.
Falta também
fiscalização da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para o
cumprimento do piso do frete, dizem. Os motoristas alegam que o piso
não é um tabelamento, mas uma garantia de que os custos mínimos da
viagem serão pagos.
Em um percurso de quase 600 quilômetros
entre Ijuí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul, o motorista recebe R$ 35
pelo frete; se o piso fosse aplicado, ele deveria receber R$ 72, segundo
o porta-voz da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer.
"Há uma
disparidade entre os ganhos do setor agrícola, e que é merecido, e dos
caminhoneiros. Só que até hoje eu não vi navio atracar na lavoura. Em
algum momento da produção, é do caminhão que eles precisam", disse.
Para
os grupos contrários à paralisação, o momento é inoportuno. A CNTA
(Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) divulgou nota em
que diz reconhecer as dificuldades enfrentadas pelos motoristas, mas
descarta a paralisação devido à "delicada realidade que o país está
passando".
Até entre os que participaram do movimento anterior há discordância quanto à paralisação.
José
da Fonseca Lopes, presidente da Abcam (Associação Brasileira dos
Caminhoneiros), da Conftaq (Confederação Nacional dos Caminhoneiros e
Transportadores Autônomos de Bens e Cargas), e um dos líderes do
movimento de 2018, diz acreditar que a paralisação deste ano não terá
força.
"O momento não é adequado por causa da pandemia. Já
estamos em uma situação de desgraça, imagina fazer aglomeração, ficar
sem combustível, sem alimentação", disse.
Segundo ele, as entidades que comanda representam 65 sindicatos.
Já
Wallace Landim, o Chorão da greve de 2018 e atual presidente da Abrava,
que convoca a paralisação, diz que o governo Jair Bolsonaro (sem
partido) trata os caminhoneiros com descaso e falta de respeito.
Na
sexta (29), um operador de exportações disse à Reuters que a greve
preocupa, mas que as informações que chegam ao setor são de que o
movimento não terá a mesma força, pois não tem o apoio da sociedade para
realizar bloqueios.
Segundo Plínio Dias, do conselho de
transporte, não estão previstos fechamento de rodovias. Se isso
acontecer, segundo ele, partirá de grupos isolados.
Associações,
cooperativas e sindicatos que atuam na Baixada Santista divulgaram na
quinta (28) nota e vídeo no qual duas lideranças, uma de Santos e outra
do Guarujá, dizem ter decidido não participar do movimento. As
reivindicações, afirmam, são justas, mas o momento é inoportuno.
Gilberto Benzi, que foi candidato a vice-prefeito pelo PSL em chapa derrotada no ano passado, aparece junto aos caminhoneiros.
Outra
figura política que se manifestou contra a mobilização foi o deputado
distrital pelo Distrito Federal Valdelino Barcelos (PP).
Caminhoneiro, ele esteve na greve de 2018. Em publicação em suas redes sociais, o parlamentar afirma não apoiar a paralisação, que poderia levar o país a uma crise mais profunda.
A existência de vozes contrárias ao
movimento é vista como natural por Luis Fernando Ribeiro Galvão,
representante do conselho em São Paulo e presidente do Sindicato dos
Motoristas Autônomos de Guarulhos. Para ele, é reflexo de uma disputa
política pelo protagonismo do movimento.
"Quem nos pediu para
fazer [a greve] foram os próprios motoristas porque eles não estão
aguentando mais", disse. O apoio ao presidente, no entanto, continua
firme entre os motoristas, segundo ele.
"Continuamos apoiando Bolsonaro, mas nossa situação é de fome."
Grupos
patronais, como a Associação Nacional do Transporte de Cargas e
Logística e a CNT (Confederação Nacional do Transporte) também
divulgaram notas contrárias à paralisação.
O Ministério da Infraestrutura disse, em nota, que tem uma agenda
permanente de diálogo com as principais entidades representativas da
categoria por meio do Fórum do Transporte Rodoviário de Cargas.
Notícias ao Minuto
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