Presidente Jair Bolsonaro ameaça demitir ministro que não aceitar ceder cargos de suas pastas ao centrão
Segundo relatos desses parlamentares, a atitude de Bolsonaro se deu em dois atos: primeiro, forçou a demissão de Sergio Moro (Justiça)
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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) -
Líderes de partidos do chamado centrão afirmam que o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) enquadrou nos últimos dias ministros que
resistiam a ceder cargos de suas pastas ao grupo, deixando claro que
quem se opuser pode ser demitido do governo.
Segundo relatos desses parlamentares, a atitude de
Bolsonaro se deu em dois atos: primeiro, forçou a demissão de Sergio
Moro (Justiça), que no começo da gestão chegou a ser considerado
"indemissível", reafirmando que tem a palavra final sobre cargos-chaves.
Antes da exoneração, ele já tinha deixado claro, em reunião com todos
os ministros, que a prerrogativa de fazer nomeações no governo era dele.
Depois,
reafirmou a quem ficou, em encontros coletivos e a sós, que irá
distribuir postos de segundo e terceiro escalão ao centrão e que não
aceitará recusas. A conduta do presidente foi confirmada por integrantes
do governo à Folha de S.Paulo.
Demonizado por Bolsonaro na
campanha de 2018 como exemplo do que chama de velha política, formada
por parlamentares adeptos do "toma lá, dá cá", o centrão reúne cerca de
200 dos 513 deputados e virou a esperança do presidente de, pela
primeira vez, ter base de sustentação no Congresso.
Ao mesmo tempo
em que promoveu uma ruptura pública com o presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), Bolsonaro passou a procurar um a um líderes e
presidentes de partidos do grupo, formado principalmente por PP, PL,
Republicanos, PTB e PSD -esse último nega fazer parte, mas integra
oficialmente o bloco do centrão na Câmara, liderado pelo deputado Arthur
Lira (PP-AL).
O repasse de cargos ao centrão perpassa
secretarias estratégicas em ministérios e vai do porto de Santos à
Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
O grupo aceitou de pronto as
ofertas –ainda não entregues, devido à burocracia federal para as trocas
e o prosseguimento de acertos específicos– e saiu em defesa do
presidente no Congresso, rechaçando a possibilidade de abertura de
processo de impeachment contra ele. Para evitar esse risco, Bolsonaro
precisa ter ao seu lado ao menos 171 dos 513 deputados federais.
Em
outra frente, o centrão também apoiou a queda de Moro, mas aí a rixa do
grupo com o ex-xerife da Lava Jato é antiga. A operação baseada em
Curitiba levou ao banco dos réus vários líderes do grupo, sob acusação
de desvio de recursos da Petrobras.
A reportagem ouviu relato de líderes do centrão e de ministros de Bolsonaro, que falaram sob condição de anonimato.
Segundo
eles, o presidente já foi cobrado pela relativa demora nas nomeações e,
como resposta, disse a ministros que eles têm de abrigar os indicados
pelo centrão, sob pena de perder apoios.
Integrantes do Planalto
informaram que os trâmites para que os nomes sejam publicados no Diário
Oficial são demorados e que os indicados devem ser formalizados a partir
da próxima semana.
Inicialmente, alguns auxiliares resistiram a
entregar postos-chaves de suas pastas. Segundo integrantes do centrão,
os principais seriam Paulo Guedes (Economia), Tarcísio Freitas
(Infraestrutura), Abraham Weintraub (Educação) e Rogério Marinho
(Desenvolvimento Regional).
Este último, que comanda pasta com
obras em vários locais que serviriam de alavanca para o plano do governo
de reaquecimento da economia no pós-pandemia, deve ser obrigado a ceder
a Secretaria de Mobilidade ao Republicanos, ex-PRB, ligado à Igreja
Universal do Reino de Deus. Outras secretarias da pasta são cobiçadas
pelas demais siglas do centrão.
A
reportagem perguntou ao ministro, por meio de sua assessoria, se
Marinho concorda com a diretriz de Bolsonaro e se fez alguma ressalva ou
estabeleceu alguma condição para a entrega dos postos. "As indicações
para cargos no ministério são encaminhadas pela Secretaria de Governo
após análise de critérios técnicos", limitou-se a dizer a pasta.
Na
Educação, Weintraub terá de ceder a presidência do FNDE (Fundo Nacional
para o Desenvolvimento da Educação) para o PP, além de diretorias do
órgão para Republicanos e PL. Segundo relatos, quando foi avisado pelo
presidente de que teria de abrigar os indicados, o ministro pediu a
Bolsonaro para criar filtros que garantissem controle de gestão.
Procurado
pela Folha de S.Paulo, Weintraub não respondeu às perguntas feitas, se
limitando a dizer que não fala com a família Frias, proprietária da
Folha de S.Paulo.
Nesta semana, os partidos já enviaram nomes à
Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que ficará com
o PL, e à Secretaria de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento
Regional.
Outros órgãos terão a presidência dada a um partido e as
diretorias divididas entre os demais. O FNDE e o Dnocs (Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas), sob o guarda-chuva do
Desenvolvimento Regional, devem ser partilhados dessa forma.
Já o
PL, além da Secretaria de Vigilância em Saúde, do time do
recém-empossado ministro Nelson Teich, deverá comandar o Banco do
Nordeste. O partido de Valdemar Costa Neto também queria o Dnit
(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), dentro do
Ministério da Infraestrutura, área que controlou por anos, mas o governo
vetou.
Outros cargos federais nos estados foram colocados, de
acordo com os parlamentares, à disposição dos partidos em troca de
apoio. A ideia dos líderes de siglas maiores é trazer para a base de
Bolsonaro também legendas menores.
As assessorias da Economia e da Infraestrutura, assim como o Palácio do Planalto, não quiseram se pronunciar.
Quando
deu início a seu governo, Bolsonaro tentou criar uma base de apoio no
Congresso negociando com frentes parlamentares (como ruralista e
evangélica), escanteando líderes e presidentes de partidos. O modelo não
deu certo, e a situação do presidente se agravou quando ele rompeu com a
cúpula do seu partido, o PSL, do qual se desfiliou.
Na última semana, Bolsonaro foi questionado sobre as tratativas com
partidos, mas não deu respostas diretas. "Por que não vou conversar com
nomes do Partido Progressista que foram meus colegas por uns 15 anos?
Qual o problema?"
Notícias ao Minuto
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