Bolsonaro diz que vídeo compartilhado convocando em ato contra Congresso é ‘mensagem de cunho pessoal’
O
presidente Jair Bolsonaro chamou de “tentativas rasteiras de tumultuar a
República” as interpretações sobre ele ter compartilhado um vídeo em
apoio a atos contra o Congresso em 15 de março.
Ele
escreveu em rede social e não negou ter enviado a amigos por WhatsApp
um vídeo que convoca a população a ir às ruas. Afirmou usar esse
aplicativo para trocar mensagens de “cunho pessoal”
“Tenho 35
milhões de seguidores em minhas mídias sociais (Facebook, Instagram,
YouTube e Twitter) onde mantenho uma intensa agenda de notícias não
divulgadas por parte da imprensa tradicional. Já no WhatsApp tenho
algumas poucas dezenas de amigos onde, de forma reservada, trocamos
mensagens de cunho pessoal”, afirmou Bolsonaro.
“Qualquer ilação
fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”,
completou o presidente em publicação nas redes sociais nesta
quarta-feira (26).
Na breve mensagem, a primeira manifestação de Bolsonaro sobre o caso, não há qualquer menção ao conteúdo do vídeo.
O
post nas redes sociais foi feito horas antes de o presidente embarcar
do Guarujá, onde passou o feriado de Carnaval, para Brasília. Ele ocorre
também depois de reações de repúdio ao vídeo de representantes de
outros Poderes, da sociedade civil e de ex-presidentes da República.
Líderes
políticos como os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso e o
presidente da OAB manifestaram repúdio na noite de terça-feira (25) à
iniciativa de Bolsonaro de compartilhar vídeos que convocam
manifestações para o próximo dia 15 a seu favor e contra o Congresso.
O
decano do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Celso de Mello,
afirmou nesta quarta que a conclamação de Bolsonaro para ato contra a
corte e o Congresso, “se confirmada”, revela “a face sombria de um
presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional,
que ignora o sentido fundamental da separação de Poderes, que demonstra
uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que
exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da
República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação
do princípio democrático!!!”.
Em texto enviado à Folha por
escrito, Celso de Mello afirma ainda: “O presidente da República,
qualquer que ele seja, embora possa muito, não pode tudo, pois lhe é
vedado, sob pena de incidir em crime de responsabilidade, transgredir a
supremacia político-jurídica da Constituição e das leis da República”.
A manifestação marcada para o próximo dia 15 é uma reação à fala do
ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general
Augusto Heleno, que chamou o Congresso de “chantagista” na semana
passada.
Bolsonaro encaminhou a amigos vídeos que convocam a população a ir às ruas para defendê-lo.
A informação foi confirmada à Folha pelo
ex-deputado federal Alberto Fraga, amigo do presidente. Outro vídeo,
diferente do recebido por Fraga, mas exaltando a manifestação do dia 15,
também foi compartilhado por Bolsonaro, como revelou o jornal O Estado
de S. Paulo.
A atriz Regina Duarte, escolhida neste ano por
Bolsonaro para a Secretaria Especial da Cultura do governo,
também compartilhou em rede social texto de apoio ao ato. “15 de março.
Gen Heleno/Cap Bolsonaro. O Brasil é nosso, não dos políticos de
sempre”, diz a mensagem.
O presidente nacional da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, disse que o ato de Bolsonaro,
se confirmado, pode abrir caminho para pedido de impeachment.
“Entendo
que é inadmissível, o presidente está mais uma vez traindo o que jurou
ao Congresso em sua posse, quando jurou defender a Constituição Federal.
A Constituição e a democracia não podem tolerar um presidente que
conspira por sua supressão”, afirmou Santa Cruz.
Segundo
ele, a convocação pode se enquadrar no artigo 85 da Constituição, que
diz que “são crimes de responsabilidade os atos do presidente da
República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
contra: […] o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário,
do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
Federação”.
A fala de Heleno que inspirou a convocação das
manifestações foi no último dia 18. Em um áudio captado durante uma
transmissão em rede social, o ministro foi flagrado dizendo que o
presidente não poderia aceitar que o Legislativo queira avançar sobre o
dinheiro do Executivo.
“Não podemos aceitar esses caras
chantageando a gente. Foda-se”, disse aos ministros Paulo Guedes
(Economia) e general Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
Em
publicação em rede social, Lula chamou o episódio de Bolsonaro de “mais
um gesto autoritário de quem agride a liberdade e os direitos todos os
dias”.
“É urgente que o Congresso Nacional, as instituições e a
sociedade se posicionem diante de mais esse ataque para defender a
democracia.”
Fernando Henrique Cardoso, também em rede social,
disse: “A ser verdade, como parece, que o próprio Pr tuitou [na verdade,
enviou a amigos por WhatsApp] convocando uma manifestação contra o
Congresso (a democracia) estamos com uma crise institucional de
consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar enquanto
de tem voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo.”
Fonte: Folha - Publicado por: Amara Alcântara
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