quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

O recado das urnas pode surpreender muita gente, principalmente os candidatos

Voto de protesto: Rinoceronte Cacareco como vereador de São Paulo, macaco Tião candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro e prefeito mosquito em Vila Velha




Bem colocado. Macaco Tião, símbolo da rejeição aos candidatos à Prefeitura do Rio, em 1988: entre os 12 concorrentes, ele ficou em terceiro lugar
Bem colocado. Macaco Tião, símbolo da rejeição aos candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, em 1988: entre os 12 concorrentes, ele ficou em terceiro lugar - Cezar Loureiro 01/07/1988 / Agência O Globo
A maneira jocosa de os eleitores brasileiros lidarem com a frustração na política e nos políticos votando em animais, especialmente os de zoológico, vem de muito longe.
Além dos inúmeros relatos de fraudes, as cédulas eleitorais de papel protagonizaram os maiores micos da política brasileira e deram espaço aos insatisfeitos para eleger candidatos bizarros. Nasceu assim, em 1959, o voto de protesto, que colocou o Rinoceronte Cacareco como vereador de São Paulo. Anos depois, em 1988, o macaco Tião ficou em terceiro na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro.
Rinoceronte Cacareco
O rinoceronte Cacareco foi destaque na imprensa após ser emprestado por seis meses pelo Rio de Janeiro para a inauguração do Zoológico de São Paulo, em 1959. Segundo os jornais da época, o sentimento de insatisfação com políticos e candidatos a vereadores da capital paulista dominava a população.
Reprodução/Folha da Manhã
Reprodução do jornal Folha da Manhã sobre a candidatura de Cacareco, em 1959
Como uma brincadeira, o jornalista Itaboraí Martins do jornal “O Estado de São Paulo” lançou a candidatura do rinoceronte, que era fêmea, apesar do nome masculino. Milhares de cédulas eleitorais foram impressas em gráficas com o nome do bicho como parte da intervenção. E o resultado foi estrondoso. Cacareco conquistou quase 100 mil votos nas eleições.
Um fato interessante é que o rinoceronte não conseguiu comemorar a vitória nas urnas porque dois dias antes da eleição foi devolvido às pressas ao Rio. A curiosa eleição foi parar nas páginas da revista norte-americana “Time”, que deu ênfase para as aspas de um eleitor: “É melhor eleger um rinoceronte do que um asno.”
Macaco Tião
Anos depois, em 1988, o jornal “O Planeta Diário” e a revista “Casseta Popular” lançaram no Zoológico do Rio de Janeiro, na zona norte, a candidatura do chimpanzé Tião à prefeitura da cidade. Os profissionais promoveram uma grande festa para libertar “o último preso político”. Cantores da MPB, como Ed Motta, fizeram até um show de lançamento da candidatura do macaco como protesto já que o Brasil enfrentava um importante período de transição democrática pós-ditadura.
Reprodução/O Globo
Macaco Tião virou celebridade no Brasil e estava presente nas páginas dos jornais
Antes mesmo da candidatura inusitada, Tião ganhou fama pelo seu temperamento ruim. Chamado de mal-humorado, ele foi parar nas páginas dos jornais após atirar fezes e lama nos visitantes do zoológico – até o ex-prefeito Marcello Alencar foi alvo do animal.
Estima-se que o Macaco Tião tenha recebido naquele pleito mais de 400 mil dos votos dos eleitores, alcançando o que seria equivalente ao terceiro lugar entre 12 candidatos. Com 1,52 de altura e 70 kg, ele virou uma celebridade no Brasil. E o feito foi parar no “Guinness World Records” como o chimpanzé a receber mais votos no mundo.
Tião morreu de diabetes em 23 de dezembro de 1996, aos 34 anos. Foi decretado luto oficial de três dias no município do Rio de Janeiro.
Prefeito mosquito
No final dos anos 80, a cidade de Vila Velha (ES) enfrentou uma invasão de Aedes Aegypti, o mosquito transmissor da dengue. Com as eleições municipais chegando, moradores encontraram uma oportunidade para protestar contra a ineficiência do poder público, que não conseguiu evitar o aumento dos focos de mosquito na cidade.
O dia 14 de dezembro de 1987 ficaria marcado então como um dos maiores micos da política pela bem sucedida candidatura do “mosquito” à Prefeitura de Vila Velha. Ao todo, o nome do candidato inusitado foi escrito por 29.668 eleitores nas cédulas eleitorais depositadas nas urnas. Os outros candidatos, Magno Pires da Silva e Luiz César Maretto Coura, conquistaram 26.633 e 19.609 votos, respectivamente.
Apesar do favoritismo, “mosquito” teve todos os votos anulados pela Justiça Eleitoral do Espírito Santo, que proclamou o segundo colocado como prefeito de Vila Velha. Silva tomou posse no dia 18 de dezembro do mesmo ano e mostrou que entendeu o recado das urnas, promovendo ações de combate à doença. O caso foi divulgado pela imprensa como a mais surpreendente manifestação política do Estado.
Fonte: iG

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