A menos de 40 dias para prazo limite, Aliança pelo Brasil já admite não participar da eleição de 2020
O TSE validou apenas 3.334 assinaturas - são necessárias, no mínimo, 492 mil para obtenção do registro do partido
© Reuters
A
menos de 40 dias do prazo limite estabelecido pela Justiça Eleitoral
para que os partidos políticos obtenham registro para disputar as
eleições municipais deste ano, a cúpula da Aliança pelo Brasil, sigla
que o presidente Jair Bolsonaro tenta criar, admite que não vai
conseguir participar dos pleitos deste ano. Até esta quarta-feira, 26, o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia validado apenas 3.334
assinaturas - são necessárias, no mínimo, 492 mil para obtenção do
registro.
De acordo com o advogado
Luís Felipe Belmonte dos Santos, segundo vice-presidente e principal
operador do partido a ser criado, foram coletadas mais de 1 milhão de
assinaturas, mas elas não foram reconhecidas nos cartórios eleitorais.
"Nossa parte foi feita, mas os cartórios eleitorais estão recusando
todas as fichas com firma reconhecida. Eles alegam que não houve
regulamentação. Além disso, o sistema cai toda hora. Os cartórios
eleitorais não estavam preparados para um volume tão grande (de
assinaturas)", disse Belmonte.
O TSE, porém, informou que o
Aliança apresentou um total de 66.252 assinaturas - além das 3.334
validadas, outras 48.127 estão em prazo de impugnação, 2.593 na fase de
análise dos cartórios e 12.198 já foram consideradas inaptas.
Na
tentativa de se viabilizar, o Aliança mandou um pedido ao TSE
perguntando se era possível dispensar a validação de assinaturas pela
Justiça Eleitoral quando o apoio tivesse sido reconhecido por tabelião
do registro de notas. O pedido ainda tramita na Corte Eleitoral.
Diante
da dificuldade, o discurso bolsonarista agora é que não há pressa em
registrar a legenda. "O presidente não está pensando na próxima eleição,
mas na próxima geração. Se não der agora, não tem problema, até porque
seria um risco. Não haveria tempo de, em duas semanas, formar
diretórios, filiar e procurar candidatos em 5.700 municípios", disse
Belmonte.
"O presidente não quer quantidade, mas qualidade. Ele
quer pessoas de confiança para evitar que se repita o que houve com o
PSL", afirmou o advogado, em referência ao partido pelo qual Bolsonaro
se elegeu, e do qual se desfilou em novembro.
Ausência
A
avaliação de Belmonte é que a ausência do Aliança nas eleições de 2020
não terá peso relevante no projeto de reeleição de Bolsonaro em 2022. "O
nome dele tem força e não depender de prefeitos o apoiando. O
presidente deve apoiar candidatos pontuais. A lógica de ter que eleger
muitos prefeitos para ter uma base na disputa presidencial foi
destroçada em 2018."
A tese é compartilhada pelo sociólogo Murilo
de Aragão, da consultoria Arko Advice. Segundo ele, a ausência do
Aliança vai fazer falta a Bolsonaro em São Paulo, onde a disputa é a
mais "federalizada" do País. Na capital paulista o presidente ainda não
tem um nome para defendê-lo nos debates. "Seria melhor para ele ter uma
rede de apoios, mas isso não será decisivo em 2020. Como não há
fidelidade partidária para prefeitos, eles podem mudar lá na frente.
Além disso, hoje não há uma agenda que mobilize o País, o que faz com
que eleições sejam mais municipalizadas", disse.
Ao vislumbrar um
cenário em que não existirá um partido bolsonarista nas urnas, siglas de
direita como Patriota, PL e Republicanos buscam filiar seguidores de
Bolsonaro que pretendem abandonar o PSL. A coordenação do Aliança já
indicou que, caso não consiga obter o registro até março, deve liberar
seus pré-candidatos para entrarem nos partidos que quiserem.
Para o
deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP), dissidente do grupo ligado
ao Palácio do Planalto, os bolsonaristas sabiam desde o início que seria
impossível criar um novo partido a tempo de participar das eleições de
2020 e cometeram um "estelionato eleitoral".
"Ou enganaram o presidente ou o
presidente e seus aliados fizeram uma ação orquestrada e de má-fé para
alimentar uma narrativa segundo a qual as instituições impõem derrotas
ao Bolsonaro, para estimular uma militância agressiva e odiosa",
afirmou. Para ele, Bolsonaro não está preocupado com as eleições
municipais ou com a possibilidade de ficar desidratado para tentar a
reeleição.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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