Paraibano nomeado presidente da Capes defende criacionismo em ‘contraponto à teoria da evolução’
O
novo presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior), órgão ligado ao Ministério da Educação, defende a
abordagem educacional do criacionismo em “contraponto à teoria da
evolução”.
Evangélico,
Benedito Guimarães Aguiar Neto era reitor da Universidade Presbiteriana
Mackenzie desde 2011 e foi nomeado na última sexta-feira (24) para compor o
governo Jair Bolsonaro.
No ano passado, Aguiar Neto anunciou que o
Mackenzie, de São Paulo, ampliaria os estudos do chamado design
inteligente — uma roupagem contemporânea do criacionismo, que advoga uma
natureza teológica da origem do universo.
Desde 2017 o Mackenzie
tem um núcleo de estudos sobre isso. O termo design inteligente tem sido
usado exatamente nas discussões que advogam a abordagem do tema na
educação. Para seus defensores, a teoria darwinista seria insuficiente
para explicar a origem da vida.
Há um consenso científico de que
design inteligente ou criacionismo não são ciência. Em 2014, o governo
do Reino Unido proibiu o ensino do criacionismo, ou design inteligente,
como teoria científica em escolas e universidades públicas.
Em
outubro passado, o Mackenzie realizou um congresso sobre design
inteligente. Na ocasião, Aguiar Neto disse ao site da universidade que
quer disseminar esse entendimento na educação básica:
“Queremos
colocar um contraponto à teoria da evolução e disseminar que a ideia da
existência de um design inteligente pode estar presente a partir da
educação básica, de uma maneira que podemos, com argumentos científicos,
discutir o criacionismo”
A Folha questionou o MEC e a Capes, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.
Aguiar Neto substitui Anderson Correia, que decidiu deixar o governo Bolsonaro.
Responsável
pela pós-graduação no país, o órgão é ligado ao MEC (Ministério da
Educação). A Capes também financia pesquisadores e, no passado, teve 8%
das bolsas cortadas.
Sua
nomeação, publicada nesta sexta-feira (24) no Diário Oficial da União,
reforça a relação do MEC com o setor privado de ensino superior e também
faz um aceno a lideranças evangélicas.
Com a saída de Anderson, o
governo Bolsonaro consolida uma marca: todos os cargos importantes do
MEC tiveram alterações em pouco mais de um ano de governo. Da equipe
montada pelo ex-ministro Ricardo Vélez Rodriguez, o MEC só manteve o
secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, apadrinhado pelo escritor
Olavo de Carvalho.
Aguiar Neto é graduado e mestre em engenharia
elétrica pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba), doutor na área
pela Technische Universität Berlin, na Alemanha, e pós-doutorado pela
Universidade de Washington, nos EUA.
Ele também teve atuação em
entidades representativas do setor privado de ensino superior. Foi
presidente do CRUB (Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras) e
da Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas.
O
nome de Aguiar Neto já era dado como certo desde o fim do ano passado. O
ministro da Educação, Abraham Weintraub, havia recebido o professor no
dia 11 de dezembro.
A
troca no comando da Capes era esperada desde outubro de 201. Na época, a
Folha revelou que Anderson Corria havia se candidato para o cargo de
reitor do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), cargo que ocupou
antes de integrar o governo Jair Bolsonaro.
A nomeação dele saiu
em dezembro e Correia assume o cargo na segunda-feira (27). Superado um
distanciamento inicial, Correia, que é evangélico, e Weintraub se
aproximaram. Na Capes, porém, a imagem de Correia foi abalada pelos
cortes de bolsas, o que culminou em protestos de servidores, e também
por seu apoio aos planos de fusão do órgão com o CNPq.
A
Folha revelou no ano passado que uma decisão atípica da Capes liberou
um doutorado na Unisa, de São Paulo. A instituição é controlada por
Antônio Veronezi, empresário com estreita relação com Weintraub e com o
ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Veronezi, da Unisa, diz
que não tentou interferir no processo e que esteve na Capes, durante o
período de análise, apenas para expor o novo bom momento da universidade
–isso estaria sendo ignorado pelos avaliadores.
“Eu aproveitei
que conhecia o Anderson [presidente da Capes], não tenho nenhuma outra
relação com ele, disse para ele da dificuldade que estava havendo no
curso de pós-graduação, que a reitora me disse que ia e voltava, ia e
voltava. Falei: ‘Olha, Anderson, vai, passa lá e vê a realidade da
instituição'”, disse o empresário.
Na
Universidade Mackenzie, além de reitor, Benedito Aguiar Neto foi membro
dos conselhos Deliberativo e Universitário. Ele também é membro
Honorário da Força Aérea Brasileira, com as medalhas Amigos da Marinha e
Exército Brasileiro.
Fonte: Da Folha de S. Paulo
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