Jogadores brasileiros no Irã vivem impasse após ataque dos Estados Unidos
O
atacante Mazola e o goleiro Fernando de Jesus vivem o mesmo impasse.
Eles deixaram o Irã para passar as festas de final de ano com a família
no Brasil e agora aguardam os seus clubes darem o aval para retornar ao
país onde vivem. Desde o assassinato do general iraniano Qassim
Suleimani na última quinta-feira, eles não têm contato com os dirigentes
das equipes onde atuam. A expectativa de ambos é embarcar ainda nesta
semana.
“Estou
acompanhando as notícias e esperando que a situação melhore. Torço para
que tudo acabe bem e que eu possa voltar e cumprir o meu contrato que
vai até o final de 2020”, disse Mazola em entrevista ao jornal O Estado
de S.Paulo. Fernando tem conversado com companheiros de time. “Meus
amigos estão treinando e enviaram mensagem dizendo que é para não ficar
preocupado. Tive alguns dias de folga e espero em breve estar ao lado
deles, pois já temos jogo no dia 1.º de fevereiro”.
O
Campeonato Iraniano, como acontece normalmente, parou em 28 de dezembro
e recomeçará no final de janeiro para a disputa do segundo turno. Os
estrangeiros costumam ganhar uns dias de descanso nesse período para
encontrar a família.
Ex-jogador do
São Paulo, Mazola, de 30 anos, defende desde julho o Tractor Sazi, atual
terceiro colocado após 16 rodadas disputadas, a quatro pontos do líder
Persépolis. “O Tractor é como se fosse o Flamengo. Leva cerca de 90 mil
pessoas para o estádio. Eles são apaixonados por futebol e lotam os
estádios, tem jogo que fica gente pra fora”, comentou o atacante.
A
semelhança com o futebol brasileiro para por aí. O jogador, que também
atuou no futebol da Coreia do Sul e do Japão, estranhou bastante os
primeiros meses no Irã, na pequena cidade de Tabriz, que tem pouco mais
de mil habitantes. “Confesso que essa experiência é a mais difícil”,
disse.
“Não
pode usar bermuda, não pode tocar na mão de uma mulher para
cumprimentar. Fui aprendendo sobre os costumes e me adaptando”, revelou.
A adaptação de sua mulher foi ainda mais difícil. “Até quando vamos
descer para almoçar ou jantar no próprio hotel ela precisa colocar calça
e vestir o véu”.
Revelado
pelo Duque de Caxias-RJ, Fernando, hoje com 35 anos, mudou-se para o
Irã há cinco anos. O Pars Jonoubi, em 12.º lugar na tabela de
classificação, é o quarto clube que defende no país. “O iraniano é um
povo muito receptivo, amam o Brasil. Por isso até não acredito em guerra
ou revanche (contra os Estados Unidos). Só atrapalharia ainda mais a
crise que eles vem atravessando devido as sanções econômicas”.
EMBARGO
ECONÔMICO
No início do ano passado, o governo Donald Trump decretou
embargo econômico ao Irã. Os clubes passaram a dever salários, se
endividaram e afetou especialmente quem recebia em dólar. Marco Otávio
deixou em julho o cargo de técnico da seleção iraniana de futebol de
areia após sete anos de trabalho e voltou para o Rio de Janeiro.
“Quando
assinei contrato o dólar estava R$ 2,09. Mas saltou para R$ 13 depois
das sanções. Quem tinha contrato na moeda americana passou a ter
dificuldades para receber”, afirmou à reportagem. “Muitos amigos que
estavam na mesma situação também retornaram”.
Foi
o mesmo caso de Marco Aurélio, que comandou durante os sete últimos
meses a seleção iraniana sub-20. “Meu contrato terminou no final do ano e
havia a possibilidade de renovar a partir de abril. Mas além da questão
política, tem o lado econômico também. A proposta não foi boa
financeiramente”.
Ambos
tiveram problemas com atrasos salariais. Mesmo assim Marco Otávio ainda
cogita retornar ao Irã. “Lá tinha vida calma e bacana, é um lugar sem
violência, um país organizado, só tem de obedecer as regras do
islamismo”, comentou.
Marco
Aurélio não é tão otimista assim com o país e criticou o autoritarismo
do governo iraniano. “Há um mês e meio houve aumento da gasolina. Para
não haver nenhuma revolta, o governo cortou a internet por uma semana”,
exemplificou.
O ataque dos Estados
Unidos, de certa maneira, também contribui para abafar a insatisfação do
povo iraniano. Segundo Marco Aurélio, houve uma comoção do país após a
morte do líder do exército. “Diante dessa situação, quem era contra,
volta a apoiar o governo em torno de um inimigo em comum. Para mim, é
questão de dias para haver alguma resposta aos Estados Unidos”, disse.
Fonte: Notícias ao Minuto - Publicado por: Érika Soares
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