‘DEMOCRACIA, SEMPRE! DITADURA, NUNCA MAIS!’: João Azevêdo anuncia desfiliação do PSB após entrevista de Ricardo Coutinho
O
governador João Azevêdo anunciou, na última terça-feira (3), a desfiliação
do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em carta divulgada ao povo
paraibano, o gestor afirma que chegou a aguardar o restabelecimento do
diálogo no PSB, mas, diante da falta de qualquer atitude de autocrítica
depois da intervenção no Diretório Estadual, sai da legenda “em busca da
democracia perdida”.
João
Azevêdo também agradeceu a todos os militantes, dirigentes e
colaboradores que confiaram nas propostas do governo e têm hipotecado
solidariedade irrestrita nesse momento tão delicado.
Segundo
um dos trechos do documento assinado pelo governador, “A democracia que
defendemos não deve ser um conceito vago, um ser abstrato, que se usa
quando convém, para embasar as próprias teses e dar ganho de causa a
argumentos e procedimentos. Democracia é uma palavra viva que precisa
estar presente no nosso dia a dia. E eu procuro praticá-la nas minhas
atividades, no cotidiano, com minha equipe, com amigos, com companheiros
e companheiras, na relação com a comunidade, com as instituições e os
movimentos sociais. Uma prática que adoto em família, compartilhando com
minha esposa e estendendo esse conceito a filhos e netos, como um
legado de vida”, conceituou.
Leia a carta na íntegra:
“Saio do PSB em busca da democracia perdida
Ao povo paraibano.
Tenho
exercido os limites da paciência para não incorrer nas falhas que a
pressa leva sempre a cometermos. Mas, como humanos, todos temos nossos
limites. E o meu chegou com o PSB, partido ao qual sou filiado e me
elegi governador em 2018. Desde a dissolução do Diretório Estadual, em
agosto deste ano, sucedido por uma intervenção nacional – ou
simplesmente pelo golpe aplicado – segundo companheiros de partido e a
imprensa local, que o incômodo com a situação só se agravava e exigia,
mais cedo ou mais tarde, uma tomada de decisão. E ela chegou. Saio do
PSB em busca da democracia perdida.
Muitos achavam que
essa decisão deveria ter sido imediata ao ato de força que culminou com a
dissolução do Diretório eleito em congresso, sem a menor justificativa.
Ou quando foi nomeada uma Comissão Interventora pela direção nacional
da legenda que colocaram meu nome junto com o senador Veneziano Vital e
outros dois companheiros, sem consulta alguma, nessa tal Comissão
Interventora.
Não a tomei em nenhum desses momentos,
embora justificativas não faltassem, justamente para que os ânimos
pudessem ser serenados, o diálogo restabelecido e a ordem
verdadeiramente democrática voltasse a predominar no PSB paraibano.
O
que se viu, no entanto, foi a falta de qualquer gesto ou atitude de
autocrítica pelo terrível erro cometido com a bonita história de nosso
partido na Paraíba. Nos nivelamos a legendas autocráticas, de ocasião,
sem zelo pelos mandatos eletivos em andamento. E pensar que o partido
acaba de realizar evento nacional para promover uma Autorreforma. Sem
democracia interna não existem sequer reformas, imaginem autorreforma.
A
democracia que defendemos não deve ser um conceito vago, um ser
abstrato, que se usa quando convém, para embasar as próprias teses e dar
ganho de causa a argumentos e procedimentos. Democracia é uma palavra
viva que precisa estar presente no nosso dia a dia. E eu procuro
praticá-la nas minhas atividades, no cotidiano, com minha equipe, com
amigos, com companheiros e companheiras, na relação com a comunidade,
com as instituições e os movimentos sociais. Uma prática que adoto em
família, compartilhando com minha esposa e estendendo esse conceito a
filhos e netos, como um legado de vida.
Mágoas e rancores
não cabem em meu coração. Apenas lamentações. A primeira, por ter que
deixar o partido pelo qual fui eleito. Sem antes deixar de agradecer a
todos os militantes, dirigentes e colaboradores que confiaram nas nossas
propostas e têm hipotecado solidariedade irrestrita nesse momento tão
delicado.
A segunda e última lamentação eu não poderia
deixar de registrar, porque essa dói profundamente e não vou guardar
apenas comigo, pois isso faz mal à alma. Ironicamente, as maiores
críticas ao nosso Governo nesses 11 meses não vieram da oposição, dos
partidos políticos, dos sindicatos e associações de classe, dos
deputados na Assembléia, da imprensa, dos artistas e intelectuais, das
universidades e da sociedade em geral, que têm toda legitimidade para
contestar e apontar os caminhos a serem seguidos pelos governantes.
A
maioria das críticas – ou melhor, dos ataques –, veio de membros do
nosso próprio partido. E não foi do militante lá na ponta ou de alguém
que votou e contribuiu de alguma forma, talvez desgostoso com algum fato
menor ou desentendimento com alguém dos quadros governamentais. O
antagonismo veio de figuras de proa do PSB, que mesmo antes da
Intervenção ou do golpe, já atacavam o Governo, secretários e o
governador.
Cheguei
a ser severamente criticado em entrevistas e redes sociais simplesmente
por dar continuidade ao Projeto do PSB, por sequenciar obras e
realizações que não foram concluídas até 31 de dezembro de 2018 e muitas
dadas como concluídas e inauguradas. Mantivemos nomes e continuamos
todos os programas e projetos do Governo anterior, com direito a
ampliá-los, incorporando novas visões e atores sociais. Mantive grande
parte da equipe anterior, mesmo assim, pelo fato de ter realmente
assumido as funções de governador do estado, tomando minhas próprias
decisões, com possíveis erros e acertos, não foi do agrado de alguns que
achavam que continuariam a governar a Paraíba.
Convivi
neste período, com boicotes e sabotagens internos à gestão promovidos
por alguns, que apegados a funções e salários, não tiveram a dignidade
de entregar seus cargos, agindo ou não sob algum tipo de comando
superior.
Confesso que ainda não entendi o porquê disso
tudo. Quais objetivos se escondem – se é que existem ou foi de ato
impensado – para a semeadura de tanta discórdia em uma legenda que
venceu as eleições de forma consagradora e transformou-se na maior
agremiação partidária do Estado.
Mas, como a vida é feita de ciclos, iniciaremos uma nova caminhada a partir de hoje.
“A
cada chamado da vida, o coração deve estar pronto para a despedida e
para novo começo, com ânimo e sem lamúrias”, assim escreveu um famoso
escritor alemão.
Quero agradecer aos inúmeros convites
que tenho recebido, de dirigentes estaduais e nacionais, para ingressar
em uma nova legenda. Não abri diálogo e nem avancei em qualquer
tratativa, ante minha filiação anterior ao PSB. Mas irei fazê-lo neste
final de ano, a fim de iniciar 2020 em uma nova e acolhedora casa. Não
pretendo criar novo partido ou seguir modismos oportunistas. Acredito
que o fortalecimento da democracia passa por partidos programáticos,
ideológicos, com diversidade, unidade e, principalmente, com eleições
internas de seus membros em fóruns regimentais e respeito às decisões de
todas as instâncias partidárias.
Irei
mudar de partido porque o meu atual desconfigurou-se por completo na
Paraíba. Mas os princípios e o conjunto de idéias que acredito,
caminharão sempre comigo. Vou procurar uma legenda que se afine com
nossa visão de mundo e de Brasil, que não seja sectária, dona da
verdade, que não exerça patrulha ideológica e refute alianças
programáticas. Também que não flerte com o extremismo, com o fanatismo
político, seja de direita ou de esquerda, nem tampouco pratique a
idolatria personalista. Que os discursos para dentro sejam os mesmos
para fora. Que a verdade seja sempre o que norteie as decisões. Que o
dinheiro público seja respeitado.
Acredito em um partido
que abrace o pluralismo de idéias, a independência e o respeito entre os
poderes; que professe a liberdade de imprensa e de religião, o estado
laico, o multiculturalismo, o desenvolvimento sustentável, a
globalização e a inclusão social com desenvolvimento; a defesa das
causas ambientais, o direito das minorias e o respeito às famílias; a
diversidade, o empreendedorismo e o Estado para corrigir as
desigualdades e também como indutor da economia; os valores cristãos,
sem usar em vão o nome de Deus em atividade política; e, por fim, a
harmonia, o diálogo e a paz social entre nós cidadãos.
Aos
amigos e amigas que esperaram por essa decisão e confiam em nosso
trabalho, que com muita humildade e seriedade vem mantendo e melhorando
praticamente todos os índices da Paraíba, em destaque no cenário
nacional, convido-os para nos acompanhar nessa caminhada que se inicia.
A
partir de hoje, vou consultar muitos de vocês para que tomemos a
decisão em conjunto, porque ninguém, sozinho, é dono da verdade.
Aos
paraibanos e paraibanas, meus sinceros respeitos. Ajudem-me a continuar
trilhando o mesmo caminho confiado, até o dia 31 de dezembro de 2022.
DEMOCRACIA, SEMPRE!
DITADURA, NUNCA MAIS!
João Azevêdo Lins Filho
Governador da Paraíba
Fonte: Polêmica Paraíba - Publicado por: Amara Alcântara
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