Papa Francisco diz que Amazônia precisa do ‘fogo do amor’ e não do ‘fogo ateado por interesses que destroem’
Durante
a missa de abertura do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia neste domingo
(6), o Papa Francisco disse que o fogo que “devastou recentemente a
Amazônia” foi “ateado por interesses que destroem”. Usando a metáfora do
fogo em todo o seu sermão, ele defendeu que a região amazônica precisa
do “fogo do amor de Deus”, que não é devorador, mas “aquece e dá vida”.
Por meio desse símbolo do fogo, Francisco faz referência à passagem bíblica do Antigo Testamento em que o profeta Moisés conversa com Deus por meio de um arbusto ardente. Assim, o Papa disse que a Amazônia precisa desse tipo de fogo, que ele chama de “fogo da missão”, e não do fogo “que vem do mundo” e “devora povos e culturas.”
Por meio desse símbolo do fogo, Francisco faz referência à passagem bíblica do Antigo Testamento em que o profeta Moisés conversa com Deus por meio de um arbusto ardente. Assim, o Papa disse que a Amazônia precisa desse tipo de fogo, que ele chama de “fogo da missão”, e não do fogo “que vem do mundo” e “devora povos e culturas.”
Papa Francisco durante sermão na missa de abertura do Sínodo da Amazônia neste domingo (6), no Vaticano — Foto: Tiziana Fabi/AFP
Como
já é esperado para seus discursos no Vaticano, Francisco não citou
diretamente nenhum país específico, mas o tema das queimadas – que
aumentaram neste ano na Amazônia em relação ao ano passado – foi
mencionado.
“Deus nos preserve da
ganância dos novos colonialismos”, declarou o Papa. “O fogo ateado por
interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia,
não é do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em
unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros.”
Segundo
Francisco, “o fogo devorador alastra quando se quer fazer triunfar
apenas as próprias ideias, formar o próprio grupo, queimar as diferenças
para homogeneizar tudo e todos”.
Reacender o fogo
O
Papa também mencionou um texto escrito por São Paulo, em que usa o
verbo “reacender” para falar dos “dons recebidos de Deus”. Falando
principalmente para os bispos que participarão do Sínodo e outras
pessoas presentes na Basílica de São Pedro, Francisco observou que “o
fogo não se alimenta sozinho, morre se não for mantido vivo, e se apaga
se as cinzas o cobrirem”.
O que pode sufocar a ação da Igreja na
Amazônia, segundo ele, são “as cinzas dos medos e a preocupação de
defender o status quo”.
Francisco
alertou que é papel da Igreja “caminhar junto” com o povo da Amazônia
que “carrega cruzes pesadas”. Para ele, é preciso ter prudência, mas não
medo ou indecisão. “Reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de
deixar as coisas correrem sem se fazer nada”, comentou.
Mártires da Amazônia
No
fim da pregação, o Papa recordou também as pessoas que perderam a vida
na Amazônia por “testemunhar o Evangelho”. Citando o cardeal brasileiro
Dom Cláudio Hummes, que é o relator-geral do Sínodo sobre a Amazônia,
disse que é preciso ir aos cemitérios das pequenas cidades visitar o
túmulo dos missionários.
Francisco brincou que Dom Cládio foi
“esperto” por pedir ao Papa que esses mártires sejam declarados santos
pela Igreja. Um dos casos mais famosos em todo o mundo é o da Irmã
Dorothy Stang, religiosa norte-americana assassinada com seis tiros em
2005, aos 73 anos, por enfrentar poderes paralelos na região de Anapú,
no Pará.
Durante a oração do Angelus, que reza todos os domingos na
Praça de São Pedro, o Papa Francisco pediu aos fiéis que rezem pelo bom
andamento do Sínodo sobre a Amazônia.
Sínodo da Amazônia
O
encontro de bispos da Igreja Católica que neste ano vai discutir a
floresta, começou neste domingo e vai até o dia 27 de outubro, no
Vaticano. No encontro serão discutidos temas ambientais, sociais e
próprios da Igreja Católica presente nos nove países que compreendem
territórios da região amazônica: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador,
Peru, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela e Suriname.
Participam
bispos, padres e freiras dessa região, além de estudiosos, pessoas
ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU) e membros dos escritórios
do Vaticano (a Cúria Romana).
Como a maior parte da floresta está no
Brasil, o sínodo terá muitos participantes brasileiros. O mais
importante deles é o relator-geral, responsável pela redação dos
documentos, o cardeal Dom Claudio Hummes.
O que é o Sínodo?
A
palavra “sínodo” vem do grego “sýnodos” e quer dizer “reunião”. Na
Igreja Católica, o sínodo pode ser qualquer reunião entre os praticantes
desta religião.
Em 1965, Paulo VI criou o Sínodo dos Bispos. A
ideia é reunir Papa e Bispos para discutir temas importantes que podem
ser ou não religiosos. Antes da Amazônia, os temas escolhidos haviam
sido jovens e família, por exemplo.
Por que o sínodo vai falar da Amazônia?
O
sínodo deste ano foi convocado em outubro de 2017 pelo Papa Francisco. A
ideia, segundo o Vaticano, é debater as dificuldades de a Igreja
atender os povos da região, especialmente os indígenas.
De acordo
com a Igreja Católica, faltam padres, as distâncias entre as comunidades
são longas e a carência de serviços públicos acaba fazendo com que a
Igreja assuma papéis de assistência social.
Modelo econômico para a Amazônia será alvo de críticas no Sínodo
Bispos pedem ‘medidas sérias’ contra queimadas na Amazônia
Lideranças na Amazônia são ‘criminalizadas como inimigos da Pátria’, dizem bispos
Bispos pedem ‘medidas sérias’ contra queimadas na Amazônia
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O que será discutido no Sínodo da Amazônia?
O
documento que orienta a reunião tem duras críticas ao atual modelo de
desenvolvimento da Amazônia. Entre os pontos a serem debatidos estão:
a complexa situação das comunidades indígenas e ribeirinhas, em especial os povos isolados;
a exploração internacional dos recursos naturais da Amazônia;
a violência, o narcotráfico e a exploração sexual dos povos locais;
o extrativismo ilegal e/ou insustentável;
o desmatamento, o acesso à água limpa e ameaças à biodiversidade;
o aquecimento global e possíveis danos irreversíveis na Amazônia;
a conivência de governos com projetos econômicos que prejudicam o meio ambiente.
a exploração internacional dos recursos naturais da Amazônia;
a violência, o narcotráfico e a exploração sexual dos povos locais;
o extrativismo ilegal e/ou insustentável;
o desmatamento, o acesso à água limpa e ameaças à biodiversidade;
o aquecimento global e possíveis danos irreversíveis na Amazônia;
a conivência de governos com projetos econômicos que prejudicam o meio ambiente.
Por que o Papa Francisco escolheu falar da Amazônia?
O
Papa Francisco é o Papa que mais se dedicou à pauta ambiental. A
encíclica Laudato si’ (Louvado seja) foi um dos documentos mais
importantes que já escreveu e teve impacto, por exemplo, nas discussões
que levaram ao Acordo de Paris.
Há quatro anos, Francisco lançou uma
encíclica repleta de críticas ao modelo de desenvolvimento que destrói o
meio ambiente sem compromisso com a inclusão social.
Para o Papa Francisco, os problemas sociais e ambientais não podem ser analisados separadamente.
O aniversário da Encíclica mais verde da história
Além
da Amazônia, serão discutidos outros temas, como a liderança das
mulheres nas comunidades cristãs, a falta de padres, o diálogo com
evangélicos e outros grupos religiosos.
Quais as críticas ao Sínodo?
Autoridades
do governo federal brasileiro já manifestaram preocupações sobre este
Sínodo. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
general Augusto Heleno, admitiu que a interferência de estrangeiros nas
questões amazônicas incomoda a administração do presidente Jair
Bolsonaro.
Em nota publicada em fevereiro, em resposta ao jornal “O
Estado de S. Paulo”, o GSI admitiu “preocupação funcional com alguns
pontos da pauta” do sínodo sobre a Amazônia.
“Parte dos temas do
referido evento tratam de aspectos que afetam, de certa forma, a
soberania nacional”, diz a nota. O GSI negou, no entanto, que a Igreja
seja alvo de investigações da inteligência.
Quais serão as conclusões do Sínodo?
A
função do Sínodo dos Bispos não é propor soluções técnicas. A ideia é
apresentar princípios para que os envolvidos busquem as soluções.
Segundo Dom Cláudio Hummes, o principal “alvo” das propostas do Sínodo
são os próprios participantes, líderes da Igreja na região amazônica.
“Não vamos dizer ‘façam vocês’, mas sim o que ‘nós devemos fazer’ como Igreja missionária e aberta ao diálogo”, afirma.
De acordo com Dom Cláudio, quando as outras partes envolvidas nos temas
amazônicos não estiverem abertas ao diálogo (governos e empresas
internacionais, por exemplo), é função da Igreja “denunciar os problemas
e propor novos caminhos”.
Fonte: G1 - Publicado por: Suedna Lima
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