Extorsão no débito: travestis obrigam clientes a passar cartões e chegam a faturar entre R$ 10 e R$ 12 mil em cada ação
Armada,
perigosa e com funções bem definidas, uma quadrilha formada
por travestis negocia programas sexuais, rende vítimas e comete roubos e
extorsões no Distrito Federal. Os principais alvos são homens que
procuram sexo rápido e sigiloso na região conhecida por abrigar pontos
de prostituição em Taguatinga Sul, próximo à fábrica da Coca-Cola. O
bando chega a faturar entre R$ 10 e R$ 12 mil em cada ação, sempre
operando máquinas de crédito e débito. Os equipamentos são usados para
passar os cartões das vítimas.
Dezenas
de ocorrências registradas na 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul)
mobilizaram equipes de investigação para identificar e desarticular a
associação criminosa, formada por sete travestis, dois homens e uma
mulher. Ao todo, 72 vítimas procuraram a unidade policial e narraram
ataques. Em um dos casos, um servidor público de 55 anos foi rendido e
obrigado a digitar a senha dos seus cartões. Perdeu R$ 12,3 mil na cama
de um motel.
As
investigações traçaram o modus operandi usado pela quadrilha, o perfil
das vítimas, além do dia, hora e local que as acompanhantes mais atacam.
Os casos se multiplicaram desde o início deste ano, especificamente nos
lugares com maior concentração de pontos de prostituição e casas
especializadas em promover encontros sexuais.
Perfil
Conforme
análise da PCDF, o grupo escolhe a dedo suas vítimas. Em todos os
casos, os alvos são homens — a maioria casado —, com idades entre 40 e
65 anos e que apresentam receio de serem expostos por terem tido contato
com travestis. Quase todos os ataques ocorrem nas quadras CSG, entre
segunda e quinta-feira. Os horários variam entre 1h e 5h da madrugada.
O
padrão de atuação e o perfil das vítimas traçados pelos policiais
baseados nas características das ocorrências ajudaram a identificar,
também, como as travestis fazem a captação dos alvos. “Em geral, as
próprias vítimas procuram as autoras atrás dos programas sexuais, mas
acabam se tornando alvos dos criminosos, que usam a prostituição apenas
como isca”, explicou o delegado-chefe da 21ª DP, Luiz Alexandre Gratão.
Na
região, quando cai a noite, é grande a quantidade de motoristas que
circulam pela CGC, principalmente nos locais onde se concentram as
travestis. “Quando não rendem os clientes e os obrigam a passar o cartão
nas máquinas dentro dos quartos de motel, o roubo ocorre dentro dos
carros ou em via pública”, disse. Gratão explicou que as ruas são
escuras e um projeto de iluminação e instalação de câmeras de
monitoramento são fundamentais para reduzir a onda de crimes no local.
Vítima dopada
Uma
das ações que rendeu mais dinheiro à organização criminosa teve um
servidor público de 55 anos como vítima. O crime ocorreu na madrugada de
31 de maio deste ano, justamente na área de prostituição, em Taguatinga
Sul. Por volta de 1h30, ele encostou o veículo em uma esquina e
negociou com uma travesti o programa por R$ 70 a hora.
Ela
fez uma proposta aparentemente vantajosa: o homem desembolsaria mais R$
30 e teria outras duas travestis para uma orgia. Todos seguiram para um
motel próximo ao ponto de prostituição. No quarto, uma delas abriu uma
lata de cerveja e serviu ao cliente. A bebida havia sido batizada com
uma substância calmante, que deixou o funcionário público desorientado.
As
agressões e ameaças começaram. As acompanhantes sacaram máquinas de
débito guardadas nas bolsas e obrigaram o homem a digitar a senha do
cartão. “Só me lembro delas falando que estava demorando para apagar e
que me cortariam com facas se eu não digitasse a senha”, disse a vítima
em depoimento na delegacia.
Ao
todo, elas efetuaram 16 saques com os cartões do servidor, totalizando
R$ 12,3 mil. Foram feitas também compras de crédito em uma série de
estabelecimentos. Ainda atordoado e sob o efeito da droga, a vítima
despertou apenas na manhã do dia seguinte, acordado por uma camareira do
motel. O servidor juntou todas as faturas dos cartões usados pelas
travestis e entregou aos investigadores, que apuram os roubos cometidos.
Outras vítimas
Além
do servidor dopado e roubado, os policiais da 21ª DP investigam uma
série de outros casos ligados ao bando. Um deles diz respeito a um idoso
de 64 anos rendido no estacionamento de uma faculdade, em Taguatinga.
Morador da Asa Norte, ele foi obrigado a debitar valores com seus
cartões. Os valores chegaram a R$ 6,8 mil.
Caminhoneiros
Caminhoneiros e
motoristas de aplicativo também tornaram-se alvos do bando pela
vulnerabilidade de suas funções. Os primeiros costumam estacionar as
carretas e caminhões nas regiões próximas à Coca-Cola. Alguns são
rendidos enquanto dormem nas boleias e outros são roubados quando
negociam programas com as travestis.
Os motoristas de aplicativos
são acionados por meio do celular para realizarem corridas e acabam
sendo ameaçados com facas e obrigados a digitar as senhas dos cartões
nas máquinas. Algumas das travestis foram identificadas e são procuradas
pela polícia.
Fonte: Metrópoles - Publicado por: Gerlane Neto
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