As semelhanças inconfundíveis existentes nos sete primeiros meses dos governos de Jânio Quadros e Jair Bolsonaro – Por Júnior Gurgel
Numa
viagem de volta ao tempo, identificamos as semelhanças inconfundíveis
existentes nos sete primeiros meses dos governos de Jânio Quadros (1961)
e Jair Bolsonaro (2019). A única diferença – favorável a Bolsonaro –
foi o avanço tecnológico da cibernética que criou através da internet,
um sistema de comunicação alternativa e direta com o povo: redes
sociais. Jânio não dispunha deste tipo moderno de “ferramenta”, capaz de
mantê-lo permanentemente no palanque – como tem se sustentado Bolsonaro
– apoiado pelos seus seguidores, que lhes dão forças para enfrentar a
mesma conspiração de 1961, articulada entre Congresso, mídia
profissional; setores do Poder Judiciário; correspondentes da grande
imprensa internacional.
Como
havia prometido em campanha, os primeiros dias e atos do ex-presidente
Jânio Quadros foram de “vassouradas” desapiedadas para limpar o país da
corrupção impregnada nos três poderes da República, com empreguismo e
privilégios. Congelamento de preços, para controlar a “carestia”
(inflação) que castigava uma economia incipiente, desprovida de
indexação isonômica, sem correções ou atualizações monetárias; mudanças
no controle da casa da moeda; revisão nos acordos comerciais
internacionais; um projeto compacto para erradicar as políticas
assistencialistas herdadas da era Vargas que resistiram aos cinco anos
de Juscelino Kubistchek. Reposicionar o Brasil como principal liderança
da América Latina era sua meta.
Nos
primeiros sessenta dias, tornou-se o inimigo número um da burguesia
nacional, que não conseguia caminhar sem as “muletas” do Estado.
Congresso Nacional, banqueiros e empresários seduziram a mídia sob o
comando do excêntrico governador da Guanabara Carlos Lacerda. Mas, ainda
tinha em seu favor o apoio do povão e da poderosa Igreja Católica,
ultraconservadora antes de sua reforma no Brasil em 1963. Arrostando
poderosos supercapitalistas internacionais, em 15/03/1961 enviou ao
Congresso Nacional a “Lei Antitruste”, aterrorizando os maiores
empresários dos Estados Unidos, que sofreram severas consequências com
esta legislação no inicio do século XX, promulgada pelo presidente
Theodore Roosevelt, que proibia o monopólio das grandes empresas
comandadas por Rockfeller (petróleo), Andrew Carnegie (Aço); J.P.Morgan
(Bancos)…
O Congresso, eleito com apoio financeiro desta gente,
simplesmente ignorou e começou a ridicularizar Jânio através da mídia –
como ora estão fazendo com Bolsonaro – enfatizando que as grandes
reformas se limitavam a proibição de “rinhas” (briga de galos) e o uso
de biquíni nas praias. Resgatando a história, o Jornalista, Escritor e
Historiador Nelson Parente destaca a mais ousada das reformas proposta
por Jânio Quadros, em 07/07/1961 quando enviou para o Congresso
Nacional, a Lei sobre remessa de lucros para o exterior. Fato omitido
pelo“Memorial
da Democracia” que atribui a iniciativa a Getúlio Vargas. De fato o
“Caudilho” encaminhou algo semelhante ao Senado, nunca apreciado, e que
por lá ficou em suas prateleiras empoeiradas.
Após a renúncia de
Jânio (agosto de 1961), três meses depois – novembro – sua propositura
sobre a Remessa de Lucros foi transformada na lei Celso Brandt. Como o
país havia mudado seu sistema de governo de Presidencialismo para
Parlamentarismo, o projeto foi apresentado pela Câmara e seguiu para o
Senado, onde foi modificado e depois retornou para encaminhamento e
sansão. Decreto votado em 03 de setembro de 1962 – lei 4.131/62 –
estabeleceu a remessa de lucros das multinacionais em 10%, cabendo ao
então presidente João Goulart apenas sancioná-la. Porém sua
regulamentação se deu em 1964, após a realização do plebiscito que
devolveu a João Goulart poderes presidencialistas.
Renomado e
premiado Escritor/Historiador norte-americano Robert A. Caro, escreve a
biografia do ex-presidente Lindon Johnson há mais de quatro décadas.
Cinco livros já publicados e não se sabe quando será lançado o ultimo,
com o capitulo final. Minucioso estudo e pesquisa tem revelado Lindon
Johnson como o político mais poderoso dos Estados Unidos no século XX. A
farta documentação em poder de Nelson Parente, pode nos mostrar por que
o país parou em 25 de agosto de 1961. E que só agora, com Jair
Bolsonaro, teremos a chance de por nos trilhos o destino de uma nação
depois de 58 longos anos, recomeçando exatamente a partir de onde parou
Jânio.
Acossado
pelo parlamento e mídia, Jânio sobrevivia à duras penas, escapando dos
ferozes ataques praticados por uma selvagem alcateia, obstinados em
trucidá-lo. Entretanto, não se permitiu a oferecer oportunidade para
impeachment, escândalos ou qualquer outro acontecimento que
desqualificasse seu retilíneo comportamento moral. A mídia acusava-o de
despreparo e demência (loucura). Alguma diferença do que ora estão
fazendo com Jair Bolsonaro? Roteiro e “filme” são idênticos. Porém,
reeditado num novo cenário – construído seis décadas depois – mudando no
novo personagem somente a ausência do alcoolismo, principal motivo de
deboche a Jânio, invenção perversa dos fofoqueiros da Corte que se
alastrou país afora. O governo sangrava…
Mas,
faltava um “sicário” ou motivo para cravar-lhes a punhalada final. Eis
que de repente surge a oportunidade ideal: o guerrilheiro cruel e
sanguinário Che Guevara – Ministro da Economia do governo revolucionário
recém-implantado em Cuba – foi convidado verbalmente pelo seu colega do
Brasil, Clemente Mariano para visitar Brasília. Guevara buscava apoio
por toda América Latina, para impedir uma invasão dos Estados Unidos a
“Ilha”. Os embargos econômicos impostos por Dwigth Eisenhower, mantidos e
ampliados por seu sucessor John Kennedy, levou o governo de Fidel a
criar uma linha direta com Moscou, no auge da guerra fria. O único que
escreveu os verdadeiros detalhes que originou esta visita foi Nelson
Valente. Segue: No dia 19/8/61, o presidente Jânio Quadros condecorou
Guevara com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, numa cerimônia
improvisada no Palácio do Planalto. Guevara ignorava que iria receber
uma condecoração e o caráter oficial do encontro. A solenidade comemora
hoje 58 anos: 19 de agosto de 1961. Ocorreu as 06h00 hs da manhã (?). Em
seguida, é recebido por Jânio Quadros em conversa particular, que
aproveitando a ocasião – para atender um pedido do núncio apostólico
monsenhor Lombardi e do Papa João XXIII – solicitou a Guevara,
libertação de 20 padres espanhóis e do bispo de Havana, presos em Cuba.
No caso dos padres, Guevara concordou com a libertação, avisando,
entretanto que, dentro das regras cubanas, eles seriam em seguida
expulsos para a Espanha. Jânio manifestou sua opinião de que a expulsão é
um assunto interno de Cuba, que só a ela cabe resolver. O Brasil
defende a libertação e com esse ato considera o pedido satisfeito.
Mesmo
tentando ocultar ou minimizar os efeitos deste tropeço – para atender o
mais expressivo segmento popular que apoiava seu governo – foi
inevitável o estardalhaço da mídia nacional e internacional, que com
manchetes sensacionalistas estamparam: “Brasil a um passo do Comunismo”.
Revolta nos quartéis com ameaça de motins, pedidos de justificativas
dos Estados Unidos… O homem da vassoura escorregou feio. Segundo o
ex-governador da Paraíba João Agripino Filho, na época um homem para
evitar a renuncia. Se eu estivesse lá, não teria acontecido”. Cansado
desta narrativa, um repórter Paraibano um dia lhes perguntou: “o que o
Senhor faria”? Agripino respondeu:
“Arrebatava
a carta em plenário e a rasgava. Quem tivesse disposição em me
enfrentar teria que passar por cima de meu cadáver”. Coragem, nós que o
conhecemos sabemos que ele tinha para fazer coisas piores que isto.
Por
outro lado, destaque-se a covardia do Monsenhor Lombardi e a hipocrisia
da CNBB, que não saíram em defesa de Jânio, se responsabilizando pelo
evento. O papa Pio XI em sua Encíclica “Divini Redemptoris” de 1937,
redigida pelo seu sucessor Cardeal Pacelli (Pio XII) havia declarado
guerra ao comunismo. perigo ameaçador é do comunismo, denominado
bolchevista e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar
radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da
civilização cristã. O Brasil é conservador e maior país Cristão do
mundo. Jânio sabia disto. Como iria marchar para o comunismo? Idiotice
malvada da mídia.
No fatídico mês de agosto de 1961, perdemos o
“bonde da história”. Jânio se antecipou a sua deposição, e surpreendeu
seus algozes com a renúncia. Jornalistas e escritores têm discorrido
sobre os mais diversos motivos da abdicação de Jânio. Mas, cabe somente a
Nelson Valente repetir o gesto de Robert A. Caro: resgatar com precisão
todos os fatos históricos documentados nos “bilhetinhos”, cartas e
ofícios de Jânio.
Fonte: Júnior Gurgel

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