‘Bolsonaro atira nos seus próprios soldados pelas costas’, diz Gustavo Bebianno
A
caminho do Palácio dos Bandeirantes, onde se encontraria com o
governador João Doria, pouco antes da filiação do deputado Alexandre
Frota ao PSDB, Gustavo Bebianno adianta seus planos para o futuro: quer
participar da eleição de 2020, talvez como candidato a prefeito do Rio,
filiado ao próprio PSDB ou ao DEM. “Recebi alguns convites e, na hora
certa, vai ser decidido”, disse ele ao jornal O Estado de S. Paulo na
última sexta-feira.
Demitido
da Secretaria-Geral da Presidência, Bebianno afirmou que sua saída do
governo e a expulsão de Frota do PSL mostram um “viés autoritário” do
presidente Jair Bolsonaro, cujo destino seria terminar o governo
isolado. “Ele próprio atira nos seus soldados. E pelas costas.”
Como o sr. avalia a expulsão de Alexandre Frota pelo PSL?
O
partido tem de ser composto por vozes que destoam entre si. Ele tem de
ter um núcleo, um alinhamento, mas é muito saudável que haja
divergências internas. Então, este tipo de atitude revela um viés muito
autoritário que infelizmente vem sendo demonstrado pelo presidente desde
a sua eleição. É muito preocupante o presidente determinar ao seu
partido uma ordem sumária para que um de seus membros seja expulso. O
presidente revela uma absoluta falta de lealdade com seus próprios
soldados. Algumas pessoas dizem que o Jair tem deixado seus soldados
para trás. Acho que é muito pior. Acho que ele próprio atira nos seus
soldados. E pelas costas.
O sr. acha que os expurgos param por aí ou continuam?
Não
vão parar por aí. Isso começou comigo, no início do governo, e
continuou. Tem casos emblemáticos como o do general Santos Cruz
(ex-ministro da Secretaria de Governo), muito fiel ao presidente e, mais
do que isso, um amigo dele de mais de 40 anos de convivência. Se ele
fez isso com um amigo de 40 anos, se fez isso comigo… Não é só a
demissão, mas a forma como se faz. Sempre de maneira desrespeitosa,
jocosa, provocativa, tentando denegrir a imagem do outro. Pode escrever
aí, o presidente vai se tornar um homem solitário com o passar do tempo
porque os que ficam são os fracos e esses são os primeiros a pular fora
na hora da turbulência.
Por que o presidente dá mais crédito por sua eleição ao filho Carlos do que ao partido?
Já
ao longo da pré-campanha, o presidente verbalizava para várias pessoas
que não teria chegado até aqui se ‘não fosse por esse cara’. E batia no
meu ombro. O Carlos nunca moveu uma palha, a não ser escrever baboseira
nas redes sociais. Carlos sempre atrapalhou. Nestas manifestações
recentes, eu não posso crer que o presidente esteja sofrendo de amnésia.
Ele está embalando um capricho do filho.
A indicação do filho Eduardo para a embaixada em Washington seguiria a mesma lógica?
Se
o Eduardo não tivesse o papai como presidente da República, ele teria a
mínima chance de ser indicado para alguma embaixada no planeta Terra?
Óbvio que não. É um rapaz que tem uma formação acadêmica muito frágil, é
inexperiente, muito imaturo e mimado. É um capricho dele perante o pai,
e o pai está atendendo.
Bolsonaro
foi eleito com uma agenda de combate à corrupção, segurança pública e
liberalismo econômico, além das questões morais. No governo, ele está
sendo coerente com esta agenda?
No
que se refere ao liberalismo econômico, ele de verdade, lá no fundo,
não é um liberal. Nunca foi. Foi se convencendo aos poucos, ao longo da
pré-campanha. Houve muitos desgastes entre ele e Paulo Guedes (atual
ministro da Economia) durante a pré-campanha. No entanto, ele tem
permitido que Guedes vá tocando essa agenda na área econômica. Até
porque ele sabe que não pode prescindir da presença do Paulo Guedes. Se o
Paulo Guedes sair, acaba o governo.
E as agendas da segurança e combate à corrupção?
Jair
não está agindo corretamente com o ministro (Sérgio) Moro (Justiça).
Ele revela uma falta de consideração muito grande com o sacrifício que
as pessoas fazem pelo bem do Brasil. Precisamos lembrar que o ministro
Moro abandonou sua carreira como magistrado para abraçar um projeto que
hoje vem sendo frustrado pouco a pouco por medidas que partem do próprio
Palácio. Essa paralisação das investigações por conta de uma decisão do
ministro (Dias) Toffoli (presidente do STF) a pedido do Flávio
Bolsonaro.
Qual será o papel de Bolsonaro nas eleições do ano que vem?
Acredito que vai mergulhar de cabeça, porque será muito importante para
solidificar bases nos municípios. Sem isso, ele corre risco de não ser
reeleito. O fenômeno de 2018 não vai se repetir.
O sr. definiu seu futuro político?
Acho
que posso ajudar minha cidade que está um caos. O Rio precisa hoje de
menos ideologia e de melhor gestão, mais eficiência. Como gestor, acho
que posso ajudar de alguma maneira, não necessariamente como prefeito.
Recebi alguns convites e, na hora certa, vai ser decidido.
O PSDB é uma opção?
O PSDB é uma opção, o DEM é outra opção, estamos conversando.
Fonte: Noticias ao minuto com informações do jornal O Estado de S. Paulo

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