Dias Toffoli defende Supremo Tribunal Federal e insinua que "fundação" da Lava Jato seria crime
Toffoli disse que o Supremo precisa ser defendido de ataques
© Alan Santos/PR
Em jantar de desagravo ao
Supremo Tribunal Federal (STF) realizado na noite de sexta-feira (03), na
capital paulista, o presidente da corte, ministro Dias Toffoli, disse
que o Supremo precisa ser defendido de ataques e criticou a tentativa de
integrantes da força-tarefa da Lava Jato de usar os R$ 2,5 bilhões
ressarcidos no âmbito da investigação da Petrobras para criar uma
fundação própria.
Diante de mais de 300 pessoas, entre eles alguns dos
principais advogados do País, reunidos em um restaurante no bairro dos
Jardins, Toffoli disse que as instituições democráticas estão sob ataque
e precisam ser defendidas pela sociedade.
"Há quem diga que o STF
não precisa ser defendido. Será que a democracia não precisa ser
defendida? É preciso que defendamos diuturnamente as instituições
responsáveis pelo estado democrático de direito e pela democracia",
enfatizou.
Os participantes responderam afirmativamente à
provocação de Toffoli. Pouco depois, o ministro fez uma ressalva ao
dizer que autoridades tentam se apossar das instituições e, de forma
implícita, criticou a tentativa da Lava Jato de usar os R$ 2,5 bilhões
da Petrobras para criar uma fundação, deixando no ar que a atitude
poderia ser considerada criminosa.
"O que não pode é querer ser
dono do poder usando, inclusive, recursos para isso. Recursos devem
voltar para os cofres da União. Isso tem até nome no Código Penal, mas
não vou dizer o tipo", apontou o presidente do STF. A tentativa de
procuradores da Lava Jato de usar o dinheiro relativo à Petrobras foi
barrada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Em um longo discurso
permeado de citações a livros e a filmes, Toffoli disse que os ataques
às instituições não são uma exclusividade do Brasil. "O ataque às
instituições, à democracia, ao estado democrático de direito não é
privilégio do Brasil. São questões que vêm ocorrendo em todo mundo. O
ataque ao STF também não é algo recente, é algo que já vem ocorrendo há
algum tempo assim como o ataque à advocacia, ao Parlamento, a quem
esteja no poder, no momento que esteja, mesmo tendo a legitimidade do
voto", afirmou.
Nas últimas semanas, aliados do presidente Jair
Bolsonaro têm feito ataques ao STF por meio das redes sociais e tentaram
criar uma CPI para investigar o Judiciário. No ano passado, o senador
Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, disse que bastavam um
cabo e dois soldados para fechar o Supremo.
Só a nata
O
jantar organizado pelo grupo Prerrogativas, que integra centenas de
advogados do País, e pelo site Consultor Jurídico, reuniu a nata da
advocacia paulistana.
Os organizadores tiveram o cuidado de
convidar nomes associados à direita, como o jurista Ives Gandra Martins,
que foi acompanhado da filha Ângela, secretária nacional da Família no
governo Bolsonaro.
"Sob a presidência do ministro Toffoli temos a garantia de o Supremo ser o guardião da Constituição", afirmou Ives Gandra.
Alberto
Zacharias Toron, Lenio Streck, Helio Silveira, Nelson Jobim, Antônio
Carlos de Almeida Castro, o Kakay, Augusto Arruda Botelho, Fabio Toffic,
Marco Aurélio Carvalho, coordenador do Prerrogativas, Marcelo Leonardo,
que veio de Belo Horizonte, o diretor da faculdade de direito do Largo
São Francisco, Floriano de Azevedo Marques, o presidente da Associação
dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Fernando Marcelo Mendes,
representantes do Ministério Público, da Defensoria Pública, o médico
Raul Cutait e empresários participaram do evento.
Um dos discursos
mais aplaudidos foi o do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Felipe Santa Cruz, que comparou o momento atual à ditadura
militar (1964-1985).
"Advocacia criminal brasileira talvez tenha
passado nos últimos cinco anos tempos que não viveu nem na ditadura. As
pessoas nesta sala sabem o custo do processo que levou à Constituinte de
1988", disse ele. "Os protocolos das milícias das redes sociais não
assustam aos que resistiram aos porões da ditadura", completou. Os
participantes do jantar aplaudiram de pé. Duas semanas atrás o mesmo
grupo lançou um manifesto em defesa do STF com mais de 500 assinaturas.
O ingresso para o jantar custava R$ 250. No cardápio havia salada de
entrada, bife de chorizo e salmão como pratos principais, e torta de
chocolate com sorvete de gengibre de sobremesa. Entre as bebidas
servidas, estava o vinho chileno Trofeo, água, Coca-Cola e cerveja
Heineken.
Notícias ao Minuto
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