Pesquisas apontam que política é o principal assunto das fake news em grupos de WhatsApp
Os autores de uma pesquisa identificaram ainda um aumento significativo nas conversas políticas com dados falsos perto das eleições

© Reuters / Dado Ruvic
Após analisar por um ano 120
grupos de WhatsApp, pesquisadores da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) descobriram que as correntes de mensagens que continham
fake news sobre política atingiam mais usuários do que as conversas com
desinformação de outros assuntos. O conteúdo enganoso de política também
suscitou discussões mais longas e mais duradouras no aplicativo.
Os autores da pesquisa identificaram ainda um aumento
significativo nas conversas políticas com dados falsos perto das
eleições. "Teve um pico enorme. O momento político favoreceu a discussão
com fake news no WhatsApp", disse um dos coautores do estudo, Josemar
Alves, pesquisador de Ciência da Computação da UFMG.
Estudos sobre
desinformação no WhatsApp ainda são raros por causa da natureza privada
do aplicativo. As mensagens enviadas são criptografadas de ponta a
ponta, o que quer dizer que não podem ser lidas por terceiros. Para
driblar essa dificuldade, os pesquisadores selecionaram aleatoriamente
na internet links de grupos públicos - aqueles em que qualquer um pode
participar com uma URL de convite.
Os autores de "Caracterizando
cascatas de atenção em grupos de WhatsApp" coletaram 1,7 milhão de
mensagens trocadas por 30,7 mil usuários nesses grupos entre outubro de
2017 e novembro de 2018. A maioria tinha discussão com temática
política: 78 dos 120 grupos.
Os pesquisadores perceberam que, em
grupos de WhatsApp, a função de responder diretamente a uma mensagem
criava um encadeamento nas conversas. Eles chamaram essas correntes de
mensagens de "cascatas de atenção". Durante o período de análise, os
autores identificaram mais de 150 mil discussões desse tipo.
O
próximo passo do estudo foi comparar as mensagens enviadas nessas
cascatas a textos de seis sites de fact checking brasileiros - incluindo
o Comprova, coalizão de 24 veículos de mídia da qual o faz parte o
Estado. Os autores encontraram 666 discussões com conteúdos
comprovadamente falsos, 92% delas com teor político.
Os resultados
seguem a mesma linha de descoberta de outros trabalhos sobre
desinformação, segundo o professor da UFMG Virgilio Almeida, coautor do
estudo e associado ao Berkman Klein Center for Internet & Society,
da Universidade Harvard. O que a pesquisa brasileira tem de novidade é
principalmente a ambientação no WhatsApp.
Diferentemente do
Twitter, Facebook e outras redes sociais, o aplicativo não tem
algoritmos que influenciam o que os usuários veem primeiro. A ordem de
leitura das mensagens é cronológica; é o próprio usuário que define o
que quer discutir e o que chama mais sua atenção - o que lhe dá papel
fundamental na propagação das fake news. "O conteúdo daquela fake news
está de acordo com o que a pessoa acredita e faz com que ela passe para
frente aquele conteúdo", disse Josemar Alves.
O fato de o WhatsApp ser fechado também pode facilitar a disseminação
de conteúdo falso. Para o pesquisador, o WhatsApp poderia tomar medidas
para elevar o custo de repassar fake news no aplicativo, como criar uma
função para que moderadores ou usuários denunciassem pessoas que
enviassem conteúdo indevido ou falsificado. Recentemente, a empresa
dificultou o encaminhamento de mensagens, limitando o número de repasses
que podem ser feitos de uma só vez.
Notícias ao Minuto com infrmações do jornal O
Estado de S. Paulo
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