A Sombra de Albert Einstein – Por Gustavo Rojas
O buraco negro no centro da galáxia M87 - Crédito: EHT Collaboration |
Há
bastante tempo o ano de 2019 já estava sendo aguardado com expectativa
no mundo da Astronomia. Neste ano celebram-se algumas efemérides
científicas importantes: os 50 anos da chegada do homem à Lua, o
aniversário de 100 anos da União Astronômica Internacional, e o
centenário da observação do eclipse total do Sol que comprovou a Teoria
da Relatividade Geral de Einstein. Em todo o mundo, eventos de
comemoração estão sendo planejados para festejar essas importantes
conquistas da ciência.
Mas uma festa só fica completa com
presentes, e é isso que acabamos de ganhar nesta quarta-feira (10/4),
quando cientistas anunciaram os resultados de um experimento científico
que provavelmente será lembrado daqui a 100 anos: a primeira observação
direta de um dos fenômenos mais enigmáticos do universo: um buraco
negro.
O
anúncio feito em 5 países pelos membros da colaboração do Telescópio do
Horizonte de Eventos (EHT, na sigla em inglês) foi acompanhado com
curiosidade por jornalistas e aficionados por astronomia. Havia muita
expectativa sobre qual o alvo observado pelo experimento, e mais ainda
pela tão aguardada “foto” do buraco negro.
Ainda é cedo para
avaliar a repercussão do anúncio, mas podemos desde já comentar a
magnitude científica dessa descoberta. O feito só foi possível graças a
mais de uma década de esforços coordenado de centenas de cientistas em
institutos de pesquisa espalhados pelo globo.
Telescópios da colaboração Telescópio do Horizonte de Eventos - Crédito: EHT Collaboration |
A observação utilizou a capacidade combinada de 8 observatórios
situados em algumas das regiões mais inóspitas do planeta, como o
deserto do Atacama, o topo de um vulcão dormente no Havaí, e até mesmo o
pólo Sul.
Localização dos telescópios da rede EHT - Crédito: ESO/ L. Calçada
|
Os dados coletados pelos radiotelescópios foram sincronizados
utilizando uma técnica desenvolvida nos anos 1970 chamada
Interferometria de Base Muito Longa (VLBI), que permite obter imagens
com detalhes iguais ao que seria possível com um telescópio do tamanho
da Terra.
A galáxia elíptica gigante M87, em cujo centro está o buraco negro observado pelo EHT = Crédito: ESO |
Ao contrário do que muitos esperavam, a imagem divulgada não veio do
buraco negro do centro da nossa galáxia, a Via Láctea, mas de muito mais
longe, do coração da galáxia gigante M87, a 55 milhões de anos luz
daqui. A posição dessa galáxia no céu permitiu que ela fosse observada
por todos os observatórios de modo a se obter a resolução necessária
para conseguir identificar a estrutura. Na entrevista coletiva, os
pesquisadores comentaram que os dados do centro da nossa galáxia deverão
ser publicados num futuro próximo.
Trajetória dos fótons na vizinhança de um buraco negro - Crédito: NSF
|
Mas o que a imagem mostra afinal? O buraco negro não emite luz. O que
vemos é na realidade a sombra que ele provoca na sua vizinhança
brilhante. Os raios de luz nas redondezas do buraco negro são desviados e
distorcidos pelo seu intenso campo gravitacional. A fronteira do
buraco negro, conhecida como horizonte de eventos, que marca o ponto
onde nem a luz consegue escapar da gravidade, é 2,5 vezes menor que a
sombra que projeta e mede 40 bilhões de km de um lado ao outro.
Comparação da imagem do EHT (acima) e da simulação (abaixo) - Créditos: EHT Collaboration/Bronzwaer, Moscibrodzka, Davelaar and Falcke (Radboud University) |
A imagem obtida pelo EHT é incrivelmente semelhante à
simulações, um belo exemplo de concordância entre teoria e observação. A
massa do buraco negro central de M87 é 6,4 bilhões de massas solares,
mais de mil vezes a massa do buraco negro no centro da nossa galáxia!
Os resultados detalhados das observações foram publicados numa série de seis artigos científicos na renomada revista Astrophysical Journal Letters. Cientistas de todo o mundo devem passar os próximos dias analisando os resultados e trabalhando nas suas implicações.
Para o público geral, recomendo material do site preparado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), com conteúdos produzidos especialmente para essa ocasião memorável. Em particular, não deixem de conferir o fantástico vídeo “In The Shadow Of The Black Hole”, que conta em 17 minutos e meio essa saga do conhecimento.
Fonte: Estadão - Publicado por: Fabricia Oliveira
Os resultados detalhados das observações foram publicados numa série de seis artigos científicos na renomada revista Astrophysical Journal Letters. Cientistas de todo o mundo devem passar os próximos dias analisando os resultados e trabalhando nas suas implicações.
Para o público geral, recomendo material do site preparado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), com conteúdos produzidos especialmente para essa ocasião memorável. Em particular, não deixem de conferir o fantástico vídeo “In The Shadow Of The Black Hole”, que conta em 17 minutos e meio essa saga do conhecimento.
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