Vítimas da ditadura pedem ao Supremo Tribunal Federal que proíba comemoração do golpe
Também pede a proibição qualquer norma presidencial que obrigue órgãos públicos federais de comemorarem a data - ou, se já houver, alguma, "que sejam cassados os efeitos da ordem para que ela não seja cumprida"
© Divulgação
Um grupo que inclui
vítimas e familiares de vítimas da ditadura militar pediram ao STF
(Supremo Tribunal Federal) que suspenda a determinação do presidente
Jair Bolsonaro de que haja celebrações em quartéis dos 55 anos do golpe
militar de 1964.
Também pede a proibição qualquer norma
presidencial que obrigue órgãos públicos federais de comemorarem a data
- ou, se já houver, alguma, "que sejam cassados os efeitos da ordem para
que ela não seja cumprida".
Em um mandado de segurança protocolado
nesta quarta-feira (27), o grupo afirma que o ato do presidente viola o
direito à memória e à verdade das vítimas da ditadura, alvos de
torturas e assassinatos, e de suas famílias.
Os
pedidos foram feitos após o porta-voz da Presidência, general Otávio
Rêgo Barros, afirmar na segunda (25) que o presidente, capitão reformado
do Exército, determinou ao Ministério da Defesa que seja comemorado o
31 de Março.
O grupo também ingressou com uma ação popular na
Justiça Federal de São Paulo em que afirma que o ato do presidente fere a
moralidade e a legalidade administrativa. Segundo a ação, é um
"atentado contra a dignidade do cargo de presidente da República".
"A
ação é proposta por professores, crianças [à época da ditadura],
jornalistas e familiares dessas pessoas que foram torturadas ou
obrigadas a acompanhar torturas", afirma a advogada Eloísa Machado,
professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) que representa as vítimas.
No
mandado de segurança enviado ao Supremo ela argumenta que há "evidente
ilegalidade em ordem de comemoração de regime de exceção, rechaçado pela
Constituição, pelas leis e por decisões internacionais baseadas em
tratados internacionais do qual o país faz parte, por promover graves
violações de direitos humanos no Brasil".
Entre os autores das
ações estão familiares do jornalista Vladimir Herzog, assassinado por
agentes da ditadura, Maria Amélia de Almeida Teles, militante de
esquerda torturada pelo major do Exército Carlos Alberto Brilhante
Ustra, e seus dois filhos, que viram os pais sendo torturados.
Também
ingressou com os pedidos a jornalista Tatiana Merlino, sobrinha do
também jornalista Luiz Eduardo Merlino, morto após ser torturado em
1971.
"Quando soubemos da determinação [de Bolsonaro] tivemos
sensação enorme de retrocesso, como se os familiares e as vítimas
voltassem a ser vitimas. É uma celebração da morte, de tortura,
inclusive de crianças, e do estupro", afirmou Tatiana.
"É um
desrespeito e um acinte às pessoas assassinadas e às que sobreviveram
nesse período. É inaceitável que um presidente, um chefe de Estado,
celebre a morte de crianças."
Nesta quarta, a entidade de defesa
dos direitos humanos Human Rights Watch também criticou em nota o
presidente por comemorar "ditadura brutal".
"Bolsonaro critica com
razão os governos cubano e venezuelano por violarem os direitos básicos
da população", disse na nota José Miguel Vivanco, diretor da divisão
das Américas entidade.
"No entanto, ele celebra ao mesmo tempo uma
ditadura militar no Brasil que causou um sofrimento indescritível a
dezenas de milhares de brasileiros. É difícil imaginar um exemplo mais
claro de dois pesos e duas medidas".
A Defensoria Pública da União
também ingressou, nesta terça (26), com uma ação civil pública na
Justiça do Distrito Federal para impedir as comemorações do golpe
militar.
A defensoria argumenta que a mensagem de Bolsonaro aos
quartéis é ofensiva "à memória de todas as pessoas que foram
perseguidas, torturadas e assassinadas no período ditatorial
brasileiro", além de violar "profundamente a moralidade administrativa
nacional" ao estimular o uso de verba pública.
A ação diz também
que o ato de Bolsonaro afronta a lei 12.345/2010, segundo a qual datas
comemorativas que vigorem em todo território nacional devem ser objeto
de projeto de lei.
Notícias ao Minuto com informações da Folhapress
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