terça-feira, 12 de março de 2019

Entre os 40 repentistas de destaque da atualidade está o juruense Gilberto Alves


 
Por João Santana
A arte hoje conhecida como Cantoria ou Repente teve origem na segunda metade do século XIX, na Serra do Teixeira, Sertão da Paraíba, região onde os primeiros repentistas começaram a travar desafios de repentes. A maioria desses primeiros repentistas cultivava o hábito da leitura e da escrita e vivia da agricultura, comércio e outras atividades, sendo o resultado financeiro das cantorias uma renda complementar.
O Repente, ou Cantoria, é uma das principais vertentes da poesia caracterizada pelo uso de rima e métrica. Chegou ao seu apogeu se aperfeiçoou ao longo de décadas no Nordeste, hoje conta com mais de 30 estilos poéticos e se caracteriza por genuína brasilidade.
No início do século XX, o número de repentistas já era grande em vários estados do Nordeste. Estimativas mais recentes apontam para poucos milhares entre profissionais e amadores. Em 2010 foi sancionada a Lei que estabelece a profissão de repentista.
Na configuração que tomou durante o século XX, a Arte do Repente se caracteriza pela ação dos cantadores que, em dupla, tocam violas com afinação regra inteira ou nordestina e cantam alternadamente estrofes rimadas compostas no momento da apresentação. Os repentistas utilizam estruturas pré-definidas com relação à métrica e melodias pré-existentes, as toadas, que são compartilhadas por esses artistas e, em muitos casos, se desconhece a autoria das mesmas.
A remuneração desses artistas sempre fez parte do rito das cantorias, fosse ela como retribuição espontânea ao atendimento de um tema e boa abordagem, como compra de ingresso ou como cachê acordado com o organizador do evento.
Existem mais de 30 modalidades de Repente. De acordo com a modalidade, os versos podem ser de 4, 5, 7, 10 ou 11 sílabas rítmicas e as estrofes, em maioria, são compostas por 6, 7, 8 ou 10 versos cada. Em certas modalidades, alguns dos versos componentes das estrofes são pré-definidos, com os quais são rimados versos improvisados. Dentre as modalidades mais usadas estão: Sextilhas, Mote de Sete Sílabas, Mote Decassílabo,  Martelo Agalopado, Galope à Beira-Mar, Mourão e Coqueiro da Bahia.
Diversos profissionais do Repente atualmente participam de inúmeros festivais, apresentações e cantorias de pé-de-parede no Nordeste e outras regiões do País, têm CDs e DVDs gravados e vêm agradando às plateias dessa Arte, alguns com turnês internacionais.
Sem citar os gigantes da geração passada, de acordo com o poeta João Santana, entre estes figuram os seguintes cantadores/repentistas de destaque na atualidade e respectivos estados de origem, que hoje mantém a Arte do Repente viva, e ainda estão, ou estavam vivos até 2016: Ivanildo Vila Nova (PE), Oliveira de Panelas (PE), Geraldo Amâncio (CE), Gilberto Alves (PB), Antônio Lisboa (RN), Edmilson Ferreira (PI), Raimundo Caetano (PB), Rogério Meneses (PB), Hipólito Moura (PI), Raullino Silva (RN), Jonas Bezerra (CE), Ismael Pereira (CE), Valdir Teles (PB), Sebastião Dias (RN), Sebastião da Silva (PB), Moacir Laurentino (PB), Zé Cardoso (RN), João Lourenço (PB), Zé Viola (PI), Severino Feitosa (PB), Chico Alves (CE), Sílvio Granjeiro (CE), Edezel Pereira (PB), Biu Dionízio (PB), Geraldo Alves (PB), Acrízio de França (PB), Edvaldo Zuzu (PB), Zé Galdino (PB), Antônio Raimundo (PI), Jomaci Dantas (PB), João Lídio (PE), José Carlos do Pajeú (PE), Luciano Leonel (PE), Paulo Pereira (CE), Genaldo Pereira (CE), Jairo Silva (PI), Jeferson Silva (PI), Felipe Pereira (RN), Helânio Moreira (RN), Chico de Assis (RN) e João Santana (DF).
Dois repentistas não citados acima, que fizeram história na Cantoria, são Raimundo Nonato (PB) e Nonato Costa (CE). Hoje eles são compositores e cantores com banda de destaque no cenário nordestino, Os Nonatos.
ANTECEDENTES
Segundo o grande pesquisador e folclorista Luís da Câmara Cascudo, o desafio dos repentistas do Nordeste descende diretamente do Canto Amebeu (dos pastores da Grécia Antiga). Tal hipótese carece de estudos historiográficos que a comprovem.
Vários ensaios apontam para uma possível ligação entre a figura do Cantador do Nordeste brasileiro e a do Trovador da Provença, sul da França, do início do 2º milênio. O trovadorismo floresceu em Portugal, no século XII. Identificam-se também influências dos árabes do norte da África que colonizaram a Provença e a península ibérica.
A primeira forma de improvisar versos no Brasil é provavelmente a Glosa, que em várias regiões do Nordeste é compreendida como prática em que o poeta fala ou declama versos feitos na hora, obedecendo aos preceitos de rima, métrica e oração poética, em geral versos septissílabos, desenvolvidos a partir de um mote.
Um dos primeiros grandes glosadores brasileiros foi Gregório de Matos e Guerra (Salvador, 1636-1695). Não se sabe ao certo quanto tempo ele levava para o desenvolvimento de suas glosas, mas é fato a ampla repercussão que tomou sua produção poética.
a arte do repente

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