Neta de idosa de 101 anos de idade abusada pelo próprio genro fala sobre estupro
Quatro
dias após a prisão de um pedreiro de 44 anos sob suspeita de abusar
sexualmente da própria sogra, uma idosa de 101 anos, a neta da vítima
quebrou o silêncio. Num depoimento intenso, ela detalha como a
desconfiança começou e levou a mãe, filha da idosa, a instalar câmeras
pela casa e flagrar os estupros. José Bezerra da Silva foi preso na
última quinta-feira (7), em Pombos, na Zona da Mata.
“Essa é minha
vozinha, linda, né? No último dia 07, véspera do Dia Internacional da
Mulher, ela foi estuprada pelo próprio genro. Uma mulher de 101 anos que
já passou por muita coisa na vida, quem a conhece sabe. Ela foi
estuprada, violentada não só sexualmente como psicologicamente também,
nos últimos dias ela acorda chorando e não tem dormido direito, acorda
assustada e parece sempre com medo. Eu sinto o medo dela no olhar quando
ela olha pra gente. Até quando viveremos assim? Até quando vamos ser
usadas e tratadas como lixo?”, desabafou. O caso é investigado pela
Delegacia da Mulher da cidade de Vitória de Santo Antão.
Leia o depoimento na íntegra
“No
final do ano passado, a minha mãe desconfiou do meu padrasto. Até então
a gente não tinha nenhum tipo de desconfiança, porque ele sempre foi
uma pessoa que mostrava uma boa conduta, uma boa índole. A gente nunca
imaginava que uma pessoa de tanto tempo de convívio ia fazer uma coisa
desse tipo.
Minha vó tem 101 anos. A gente não costumava e
não costuma deixa-la sozinha até hoje. Minha irmã estuda em tempo
integral, e eu trabalho o dia todo. Fica a minha mãe, meu padrasto e
ela.
Um certo dia, no ano passado, minha mãe veio a uma
agência bancária em Vitória de Santo Antão. Eu vim com a minha mãe,
ficou minha vó e meu padrasto em casa. Quando minha mãe voltou, ela
notou diferença, porque minha vó estava de banho tomado e a calcinha
dela estava lavada.
Minha vó não toma banho sozinha,
alguém tem de ir com ela, porque ela pode cair e se machucar. Às vezes
ela não consegue nem ficar em pé sozinha. Essa foi a primeira
desconfiança.
No dia 4 de janeiro, minha mãe fez uma
viagem para a casa de uma amiga de mais de 20 anos que estava se
mudando. Era a despedida dela. A cidade fica a mais de 200 quilômetros, é
distante. Minha mãe teria que dormir na casa dela para voltar no outro
dia. Nesse dia que minha mãe saiu, só ficou minha irmã, meu padrasto,
que é pai dela, e minha avó.
Nesse dia, minha irmã
flagrou o pai dela no quarto de minha avó às 3h da manhã só de cueca,
ela sem calcinha e triste. Ele se escondeu atrás da porta. Minha irmã
tentava fechar e ele puxava para que permanecesse aberta para que não
visse que ele estava atrás da porta.
Nesse dia, a minha
mãe teve uma desconfiança maior e conversou com a família, eu, meu
esposo e minha irmã, e decidiu colocar a câmera de segurança. Colocou no
quarto e na casa toda. Minha mãe pediu as câmeras no dia 1º de janeiro.
Como foi pela internet, demorou um pouco para chegar. Chegou no final
de fevereiro, só que ele permanecia muito em casa e não tinha como
instalar sem que ele visse.
A gente esperou um dia que
ele saiu para colocar as câmeras para que quando ele chegasse, ele não
notasse a diferença. Eram microcâmeras. A gente conseguiu instalar no
domingo de carnaval. Até então, minha vó não ficava sozinha com ele de
jeito algum, porque a desconfiança estava grande.
Na
terça-feira de carnaval, à noite, minha mãe saiu. A gente recebia as
imagens ao vivo no celular: no meu, no da minha mãe e no da minha irmã.
Quando foi 21h30, aconteceu o primeiro ato. Ele entrou no quarto e a
gente viu que ele estava estuprando ela.
Só que nessa
filmagem não mostrava o rosto da minha avó, porque a minha avó estava
dormindo. Não dava para ver o rosto dela, mas dava para ver pelos atos
que era um estupro. A gente conversou com estudantes de direito, que
disseram que seria uma prova mais convicta, um flagrante se mostrasse o
rosto dela e o rosto dele.
Na quarta (6 de março), a
gente passou o dia todo angustiada. Foi um dia horrível. Na quinta (7), a
gente já pensou em levar essas fotos mesmo sem estarem boas para a
delegacia. Ele ia trabalhar meio-dia. Minha mãe estava em casa. Ele
almoçou, normalmente.
Os dois iam sair no mesmo horário.
Ele estava fechando o portão para sair em seguida da minha mãe. Ele
resolveu voltar e minha mãe saiu para ir a Vitória (de Santo Antão).
Oito minutos após minha mãe sair, ele foi estuprar minha avó. A gente
viu pelo telefone, já tínhamos mudado as câmeras de lugar. Ficamos
desesperadas, começamos a chorar.
A gente tremia, minha
mãe quase desmaiou. Quando a gente chegou em Vitória, eu pesquisei a
Delegacia da Mulher mais próxima. A gente ia ser mais bem atendida lá.
Pegamos um táxi e fomos para a delegacia. Foi feito o flagrante.
Prenderam
no local de trabalho. Era para ele começar meio-dia, ele chegou 15 ou
20 minutos atrasado. A irmã dele disse que minha mãe acabou com a vida
dele e bateu nela na delegacia. Foi presa também em flagrante pela Lei
Maria da Penha e solta depois de pagar fiança.
Ela pediu
para que a minha mãe falasse que a minha avó permitia, pediu para levar
minha avó para a delegacia para que ela falasse isso. Na sexta, a defesa
dele usou essa história, disse que um era apaixonado pelo outro, que
não foi um estupro, que ela pediu.
Ela tem 101 anos, é
impossível que alguém acredite nessa história. Isso me doeu, eu
imaginava que ele ia pedir desculpas, perdão por ter feito uma
barbaridade dessa. Ele continua preso. No dia em que ele foi preso, a
gente ligou para a nossa advogada, que disse que a gente deveria ter
feito isso antes, na primeira vez que a gente viu, mas que a nossa
atitude foi boa, porque muita gente esconde.
Minha avó
demonstra tristeza, chora. Ela não é consciente, fala que tem 15 anos,
brinca de boneca. A gente nem tem animais, ela vê animais. Ela fala,
pede água, quando está com sede, mas ela não consegue manter uma
conversa.
A gente notou que desde que ele não se encontra
mais em casa, ela está demonstrando mais alegria. Ela quer ficar mais
com a gente na sala, antes ela não ficava. Quando ela ia dormir, ela
vestia duas, três roupas, com medo. Ontem, ela foi dormir só com uma
roupa. A gente tenta ser forte, não demonstrar tristeza, fica tentando
fazer ela rir para que ela esqueça o que aconteceu e a gente siga em
frente.”
Maria Talita Bernardo Silva Araújo, de 21 anos.
Confira a postagem feita pela jovem no Facebook
Fonte: OP9
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