Juan Guaidó rejeita diálogo proposto nesta sexta-feira por Nicolás Maduro
O
presidente venezuelano, Nicolás Maduro, se declarou nesta sexta-feira
(25) disposto a se reunir com o líder opositor, Juan Guaidó,
autoproclamado chefe de Estado interino, que quase simultaneamente
afirmou que não se prestará a um “falso diálogo”.
“Estou
comprometido com o diálogo nacional. Hoje, amanhã e sempre estarei
comprometido e pronto para ir aonde tiver que ir. Eu, pessoalmente, se
tiver que ir me encontrar com esse rapaz (Guaidó), vou”, assegurou
Maduro em coletiva de imprensa no Palácio de Miraflores.
Diante de
centenas de simpatizantes em um comício na praça central de Chacao
(leste de Caracas), Guaidó, presidente do Parlamento – de maioria
opositora -, recusou-se a se sentar à mesa de negociações, ao se referir
perante a imprensa a iniciativas propostas por México e Uruguai.
“A
repressão, quando não lhes dá resultado, se torna um falso diálogo (…) O
mundo e este regime devem ter muito claro: ninguém se presta aqui a
falso diálogo”, advertiu Guaidó, consultado pela imprensa em sua
primeira aparição pública desde que se autoproclamou presidente interino
na quarta-feira. “Presidente!”, repetiam, em coro, seus seguidores.
Nesta
sexta, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que
as portas de seu país estão abertas para que Maduro e Guaidó dialoguem.
“Se as partes solicitarem, estamos na melhor disposição de ajudar”,
manifestou.
Na Casa de Governo, Maduro reiterou suas denúncias de
um golpe de Estado da direita em andamento, orquestrado pelos Estados
Unidos.
“Golpe seria se me levassem, isso é um golpe”, declarou Guaidó, cercado de jornalistas, ao comentar o risco de ser preso.
O
líder da oposição se autoproclamou presidente interino, invocando o
artigo 233 da Constituição, que destaca a existência de uma vacância de
poder com a renúncia, a incapacidade mental, a morte do presidente ou o
abandono do cargo, um ponto polêmico, pois o Congresso já o tinha
declarado em 2017, embora suas decisões sejam consideradas nulas pela
Suprema Corte.
– “Rua por um tempo” –
O líder opositor, de
35 anos, convocou uma “grande mobilização” para a próxima semana após as
marchas multitudinárias de opositores e governistas na quarta-feira, no
âmbito das quais 26 pessoas morreram e 350 foram detidas.
“Os que
pensam que murchamos, vão ficar na vontade, porque aqui tem gente na
rua por um tempo, até conseguirmos o cessar da usurpação, um governo de
transição e eleições livres”, disse Guaidó, ao destacar que a data será
informada no domingo.
Como parte de sua estratégia, Guaidó não
descartou incluir Maduro na anistia que oferece a militares e civis que
ajudam com uma transição, mas afirmou que no caso do presidente seria
preciso avaliá-lo bem porque se trata de “um ditador”.
O líder do
Parlamento quer quebrar a principal sustentação de Maduro, a Força
Armada, que na quinta-feira expressou sua “lealdade absoluta” ao
presidente.
“Chegou o momento de se colocar do lado da
Constituição, de respeitar e se posicionar ao lado do povo”, manifestou,
dirigindo-se aos militares.
Guaidó afirmou que trabalha para que
chegue ajuda humanitária ao país e proteger os ativos venezuelanos no
exterior. Na quinta-feira, o Departamento de Estado americano anunciou
que prepara uma ajuda de 20 milhões de dólares para entregar à Venezuela
“quando for possível”.
– Chamado urgente a eleições –
Washington
pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a Venezuela no
sábado, mas pressionou sem sucesso para que a Organização de Estados
Americanos (OEA) reconheça Guaidó em uma sessão na quinta-feira.
Maduro delegou nesta sexta seu chanceler, Jorge Arreaza, para participar da reunião.
Após
se autoproclamar presidente interino, Guaidó recebeu primeiro o apoio
dos Estados Unidos, seguido de Canadá e de uma dezena de países
latino-americanos. Maduro obteve o apoio de seus aliados Rússia, China,
Turquia, Nicarágua, Bolívia e Cuba, enquanto México e Uruguai mantiveram
seu reconhecimento.
A União Europeia (UE) se prepara para exortar
o presidente a convocar “imediatamente” as eleições, com alguns
membros, como Alemanha e Espanha, propondo o reconhecimento a Guaidó.
Em
resposta ao apoio decidido de Washington ao opositor, Maduro rompeu
relações com os Estados Unidos, deu 72 horas de prazo para os diplomatas
americanos deixarem o país e anunciou o fechamento de sua embaixada e
seu consulado naquele país. Um grupo de diplomatas não essenciais
deixava a Venezuela nesta sexta.
Em desafio à decisão de Maduro,
Guaidó assegurou que a embaixada dos Estados Unidos em Caracas
continuará aberta e pediu a funcionários consulares venezuelanos que
permaneçam no país.
“Eles estão preocupados com sua segurança (…)
Provavelmente sairão alguns de seus familiares, mas quero dizer-lhes que
a embaixada americana na Venezuela fica e se mantém com as portas
abertas. E tomara que fiquem todas: a russa, a chinesa”, prosseguiu
Guaidó.
A grande incógnita é até onde Trump vai levar sua ofensiva
contra o governo Maduro. Os Estados Unidos compram da Venezuela um
terço de sua combalida produção de 1,4 milhão de barris diários de
petróleo, fonte de 96% de suas divisas.
Segundo analistas, o
presidente americano pode considerar congelar ativos da Venezuela e
impor sanções petroleiras. “Sem controle financeiro, a posição de Maduro
seria seriamente socavada”, destacou a consultora Capital Economics.
Estados
Unidos, UE e uma dezena de países latino-americanos não reconheceram o
segundo mandato iniciado por Maduro em 10 de janeiro por considerar sua
reeleição fraudulenta.
O agravamento da crise política ocorre em
meio à pior crise econômica da história moderna da Venezuela, com sua
petroleira Pdvsa declarada em default e uma hiperinflação que o FMI
estima que vá chegar a 10.000.000% este ano.
“Tudo sugere que a hiperinflação desencadeia uma agitação política e econômica dramática”, acrescentou a Capital Economics.
AFP
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