Tratamento brasileiro contra Aids se consolida como referência mundial
Cerca
de 585 mil pessoas que vivem com o vírus HIV no País realizam a terapia
antirretroviral em unidades da rede pública de saúde. Esses pacientes
encontram nesses locais uma realidade bem diferente daquela enfrentada
na década de 1980, quando começaram a surgir os casos da doença no
Brasil.
O remédio, que inicialmente havia sido criado para
combater células cancerígenas, se tornou o principal aliado dos
soropositivos. No entanto, as altas doses recomendadas causavam muitos
efeitos colaterais. “De 1987 até 1995, a gente fazia o tratamento
baseado em uma única droga [o AZT]. Isso não foi suficiente para reduzir
a mortalidade por Aids. O medicamento prolongava a vida dos pacientes,
mas infelizmente não conseguia controlar o vírus”, explica Roberta
Schiavon, membro do Comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI).
Foi só em 1996, com o Sistema Único de Saúde
(SUS) já consolidado, que o Brasil estabeleceu de vez o chamado
coquetel, que reúne três tipos de medicamentos. No mesmo ano, a Lei
9.313 determinou a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores
de HIV.
Na
década seguinte, o foco passou a ser a produção interna das medicações
para reduzir os custos. Em 2002, a Fundação Oswaldo Cruz começou a
produzir sete antirretrovirais que são utilizados até hoje.
Como agem os antirretrovirais?
Os
medicamentos antirretrovirais para o HIV atuam no mecanismo de
multiplicação do vírus, evitando que ele infecte as células de defesa do
organismo. Desta forma, impede-se o enfraquecimento do sistema
imunológico da pessoa e o seu adoecimento. É por esse motivo que o uso
regular dos medicamentos é imprescindível para aumentar o tempo e a
qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de
internações e infecções por doenças oportunistas.
As pessoas que
usam os medicamentos de forma correta e adequada reduzem o número de
vírus circulante a níveis indetectáveis no organismo. Nesse estado,
evidências científicas demonstram que além da melhora significativa na
qualidade de vida e do não adoecimento, a condição de se estar
indetectável impede a transmissão do HIV por via sexual.
Tratamento para todos
Atualmente,
o tratamento para o HIV envolve a combinação de três categorias
diferentes de medicamentos e cada uma dessas categorias envolve um
número de medicamentos. São mais de 36 combinações diferentes aplicadas
hoje em dia. A variedade de opções se dá pela necessidade de adequar o
tratamento ao estilo de vida do paciente. “Para um piloto de avião, por
exemplo, não é recomendado dar medicação baseada no Efavirenz, pois ele
pode ter um surto psicótico durante o trabalho. Um técnico de enfermagem
que trabalha à noite pode ficar com sono e ter o desempenho
comprometido. Grávidas também têm restrições e precisam de atenção
especial”, diz Schiavon.
Desde 2013, todas as pessoas com o HIV,
independentemente da carga viral têm acesso ao tratamento pelo SUS. “A
garantia de tratamento para todos já reduziu em 16% os casos de Aids nos
últimos quatro anos, fazendo cair a taxa de detecção de 22 casos para
cada 100 mil habitantes, em 2011, para 18,3 em 2017”, explica a diretora
do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções
Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, Adele
Benzaken.
Antes,
o Brasil oferecia o tratamento pela rede pública apenas quando a
contagem das células de defesa (CD4) do paciente caía para abaixo do
patamar de 500 células por milímetro cúbico de sangue. A mudança foi
elogiada pela Organização das Nações Unidas e manteve o Brasil como
referência no tratamento de pacientes soropositivos.
O uso regular
dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das
pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções
por doenças oportunistas.
Inovação
A
novidade mais recente no tratamento oferecido pelo SUS em relação ao HIV
ocorreu em 2017. No ano passado, a rede pública passou a ofertar um dos
melhores antirretrovirais do mundo: o Dolutegravir. Ele já é usado por
87% das pessoas que iniciam o tratamento no Brasil. Esse antirretroviral
aumenta em 42% a chance de indetecção viral (carga viral indetectável).
Após três meses de uso do Dolutegravir, 87% das pessoas com HIV/Aids já
apresentavam carga viral inferior a 50 cópias/mL. Ele é usado em
combinação com os antirretrovirais Tenofovir e Lamivudini no esquema
chamado “2 em”. Ou seja, apesar de serem três compostos, estão presentes
em dois comprimidos, sendo um de Dolutegravir e outro formado por
Lamivudina + Tenofovir.
Fonte: Noticias ao Minuto
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