Mãe que perdeu filho baleado por PM morre após sofrer com depressão por 3 anos e sem ver fim da investigação
Moradora de Manguinhos, ela passou mal em meio a recente onda de violência na região. Atestado de óbito de Janaína Soares diz que a causa da morte é ‘indeterminada’, mas para familiares, ela morreu de tristeza.
Em
2015, Janaína Soares, que já havia perdido o marido em um assalto, viu o
filho morrer após ser baleado por um policial durante operação em
Manguinhos, comunidade na Zona Norte do Rio. Na segunda-feira (5), após
três anos sofrendo de depressão, ela passou mal e morreu, como mostrou o
RJ2 nesta quarta-feira (7).
A
causa oficial, segundo os médicos, foi “indeterminada”, mas para os
para os familiares e amigos, foi a tristeza que matou Janaína.
A
mãe conta que há tempos, a filha tinha perdido a alegria e o brilho.
Segundo Maria das Graças Soares, a vida de Janaína começou a mudar desde
a morte do marido, durante um assalto. Na época, os dois filhos só
tinham 3 e 4 anos.
O
outro choque aconteceu 10 anos depois com a morte de Christian, o filho
mais velho, que tinha 13 anos. O adolescente morreu em setembro de
2015. Segundo a família, Christian um tiro que partiu da arma de um
policial enquanto ele jogava bola, num campinho de futebol em
Manguinhos.
A
mãe contou para a reportagem que Janaína nunca se recompôs após a morte
do filho. Ela foi indenizada pelo estado e o dinheiro que recebeu foi
suficiente para reformar a casa e fazer uma pequena poupança, de R$ 5
mil. No entanto, Janaína morreu sem saber o final da investigação, três
anos após o crime.
“[O
policial] confirmou. Confirmou que foi a polícia. E o moço pediu
perdão [o policial]. Mas perdoar quem para tirar uma vida? Só Deus que
pode perdoar. A gente não é ninguém para perdoar. Aí ela[Janaína] falou
‘mãe botei 5 reais lá porque quando eu morrer, para você fazer o meu
enterro’. E eu fui ontem, lá no banco, estava lá para mim enterrar a
minha filha. Ela deixou o dinheiro para ser enterrada. É dose viver
assim. Vir uma pessoa tirar a vida assim de um inocente. Leva o meu
neto, agora a minha filha também foi embora”, disse Maria das Graças.
Numa
cidade onde os tiroteios são rotinas e os mortos contados às dezenas,
fica difícil se blindar. O jovem de 17 anos, morto em Manguinhos no fim
de semana enquanto andava de bicicleta, mexeu com o coração de Janaína,
como contou uma amiga.
“No
domingo, na hora do tiroteio, a Janaína recebeu uma foto do menino
caído ensanguentado e ela me mandou essas fotos por zap, com várias
carinhas de choro, dela. E nessa hora eu tava sentada no chão da cozinha
da minha casa, tentando me proteger também. Eu mandei mensagem para ela
pedindo para que ela ficasse calma. Isso foi domingo à noite. Na
segunda, Janaína já começou a passar mal”, disse Ana Paula de Oliveira,
do Movimento Mães de Manguinhos.
Diagnóstico de depressão
Os
médicos diagnosticaram depressão em Janaína. No enterro, as mães sem
filhos descobriram mais uma vez que sempre cabe mais dor no coração.
Sobre o caixão dela foram colocadas a bandeira de luta do grupo e fotos.
“A
dor de ver nossos filhos serem arrancados da gente em nome de uma
política de segurança pública que não nos serve. Não garantiram a vida
dos nossos filhos, não garante as nossas vidas. É uma política de
segurança pública pautada pra quem?”, questionou Ana Paula.
Investigação do caso
A
Polícia Civil do Rio de Janeiro disse que o inquérito que investiga a
morte do filho de Janaína foi encaminhado ao Ministério Público Estadual
(MP) e nunca mais retornou para a corporação. Segundo o MP, as
investigações continuaram, algumas testemunhas foram chamadas, mas que
uma conclusão do caso ainda depende de alguns laudos, mesmo depois de
três anos de espera por uma resposta.
Fonte: G1 - Publicado por: Alana Yaponirah
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