Diante de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, Rússia quer romper com o dólar
AFP/Arquivos / Brendan Smialowski |
Rublo,
euro, yuan… Qualquer coisa, menos o dólar! Num contexto em que as
sanções econômicas contra a Rússia parecem se estender a longo prazo, o
Kremlin está redobrando seus esforços para afastar a economia russa da
moeda americana – imprescindível no comércio mundial.
Debatido
durante muito tempo sem resultados importantes, o árduo projeto das
autoridades para “desdolarizar” a economia russa é mais necessário que
nunca quando a comunidade empresarial teme o anúncio iminente de novas
medidas punitivas nos Estados Unidos.
Quatro anos depois da
introdução das primeiras sanções ocidentais contra Moscou, devido à
anexação da Crimeia e ao conflito no leste da Ucrânia, as restrições são
reforçadas nas transações financeiras russas.
E com essas
restrições, aumentam os riscos de que aqueles que fazerem operações em
dólares sejam processados nos Estados Unidos simplesmente por ter usado
essa divisa.
Os ministérios de Economia e Finanças, assim como o
Banco Central, têm que apresentar em breve medidas ao primeiro-ministro
Dmitri Medvedev para estimular o uso de outras moedas nas transações
internacionais.
– ‘Limitar os riscos’ –
A restauração de
sanções contra o Irã pelo presidente Donald Trump e guerra comercial
entre os Estados Unidos e a China parece ser um cenário favorável para
alcançar este objetivo, ao empurrar os parceiros da Rússia a aceitar
jogar este jogo para proteger seus negócios de uma política
imprevisível.
De acordo com analistas da seguradora de crédito
Euler Hermes Group, “os esforços anteriores (de desdolarização)
fracassaram e revelaram a necessidade de cooperar estreitamente com
outros países, o que poderia ser mais simples hoje diante do crescente
protecionismo dos Estados Unidos”.
Eles também estimam que reduzir significativamente a dependência do dólar poderia levar entre um ano e meio e cinco anos.
Os candidatos ideais parecem ser a União Europeia e a China, que juntas representam 60% do comércio exterior russo.
Vladimir
Putin menciona regularmente essa questão em suas reuniões com líderes
estrangeiros, como aconteceu em setembro com seu colega chinês Xi
Jinping.
Em outubro, as autoridades russas anunciaram que estavam
preparando um acordo intergovernamental sobre pagamentos bilaterais em
moedas nacionais com a China.
Segundo o banco ING, as trocas entre
a Rússia e a China feitas em rublos ou em yuan quadruplicaram nos
últimos quatro anos, embora ainda representem apenas entre 18% e 19%.
Para
ir além, o fundo soberano russo criou dois fundos de cooperação com a
China de até 70 bilhões de yuans, destinados a transações em moedas
nacionais.
“As primeiras transações são esperadas a partir de
2019. Ferramentas de investimento semelhantes poderiam ser criadas com
outros países”, sugeriu Dmitri Polevoi, economista-chefe do fundo
soberano russo RDIF.
De acordo com os dados do Banco Central da
Rússia, entre 2013 e 2017 a proporção de pagamentos em dólares
norte-americanos nas exportações de bens e serviços foi reduzida de 80%
para 68%. Ao mesmo tempo, a participação do euro aumentou de 9% para 16%
e a do rublo de 10% para 14%. Para as importações, o movimento não é
tão significativo, mas a participação do dólar passou de 41% para 36%.
Outra
amostra dessa tendência: em outubro, o vice-primeiro-ministro russo
Yuri Borisov anunciou que a Índia pagaria em rublos pela compra de
sistemas antiaéreos russos S-400.
Segundo o economista Oleg Kuzmin
da Renaissance Capital, o principal obstáculo para transações em moedas
nacionais menos importantes que o yuan é que “ninguém precisa, por
exemplo, de rublos russos na Croácia ou da moeda croata na Rússia”.
“Mas,
se existir um mecanismo simples e eficaz para trocar diretamente uma
moeda por outra, isso pode funcionar”, disse ele. “No caso de sanções
muito duras serem adotadas, isso permitiria à Rússia limitar os riscos”.
A
presidente do Banco Central, Elvira Nabiúllina, quer “estimular
lentamente os bancos a mudar para o rublo” e “reduzir o papel do dólar
em seus balanços”, emprestando menos na moeda norte-americana.
Segundo
Euler Hermes, outras medidas poderiam prever a transferência dos
principais grupos russos dos centros financeiros estrangeiros para a
bolsa de valores russa e aumentar as reservas de ouro e euros. A Rússia
já reduziu seu volume de dívidas americanas.
Mas, apesar dessas
grandes intenções, a Rússia tem um grande obstáculo: sua economia ainda
depende em grande parte dos hidrocarbonetos, que são cotados em dólares.
AFP
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