Mudanças climáticas podem reduzir produção de cerveja, diz pesquisa publicada por renomada revista científica
Possível escassez de bebida é ‘alarmista’, segundo associação brasileira.
Uma
pesquisa publicada pela renomada revista científica Nature Plant
preocupou amantes de cerveja em todo o mundo. As mudanças climáticas
podem reduzir a produção da cevada, principal ingrediente utilizado para
fabricar a bebida alcoólica mais amada pelos brasileiros.
O
estudo, publicado na última segunda-feira (15), explica que eventos
climáticos extremos, como ondas de calor, secas e aumento das
temperaturas, podem impactar a produtividade global da cevada. A
produção pode cair até 17% nas próximas décadas, em comparação aos
níveis atuais.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores
examinaram a probabilidade de grandes secas e ondas de calor nas regiões
de cultivo da cevada nos 6 continentes entre 2010 e 2099. Eles
consideraram 4 possíveis projeções, dos níveis relativamente baixos do
gases do efeito estufa até na pior das hipóteses, com emissões mais
altas.
Nestes prováveis cenários, as descobertas não foram
animadoras: globalmente, o clima extremo reduziria a produção da cevada
entre 3% e 17%.
Alguns
países se sairiam melhor que os outros: as áreas tropicais, como
América Central e América do Sul seriam gravemente atingidas, enquanto
colheitas em áreas de clima temperado, como o norte da China e os
Estados Unidos, poderiam ter melhores rendimentos. Algumas áreas desses
países registram aumentos de até 90% no rendimento, mas isso não seria
suficiente para compensar a queda global, de acordo com a Nature.
A queda da produção da cevada significará escassez da cerveja e, com isso, aumento nos preços. Os preços subirão mais na Irlanda, Itália, Canadá e Polônia, preveem os pesquisadores.
“O
que estou tentando mostrar aqui é que a mudança climática terá impacto
sobre o estilo de vida das pessoas”, afirmou o autor do estudo, Dabo
Guan, economista da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, à
Nature. “Se as pessoas querem beber cerveja enquanto assistem futebol,
então temos que fazer alguma coisa”, disse.
E no Brasil?
Como
o estudo citou, a América do Sul deve ser uma das regiões mais afetadas
pelas mudanças climáticas nas próximas décadas. Mas o panorama não
causa apreensão a Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de
Cerveja Artesanal (Abracerva).
Em entrevista ao HuffPost Brasil,
Lapolli explica que as safras da cevada dependem muito do clima e de
períodos de chuvas, mas que não há uma grande preocupação do setor
brasileiro neste momento sobre a escassez da cevada causada pelas
mudanças climáticas.
“O preço da cevada é bastante variável, às
vezes tem quebra de safra, como trigo, soja e outros cereais. Mas não
temos essa preocupação [com a escassez]. Não está na nossa pauta isso.”
[O estudo] me parece um pouco alarmista. Acredito que não vai ter alteração.
Hoje,
o Brasil produz 40% da cevada utilizada em território nacional. Outros
60% são importadas do Uruguai, Argentina, Canadá e outros países.
“Aumentamos bastante a produção nos últimos anos. Décadas atrás só
usávamos cevada importada, hoje já produzimos 40%”, avalia.
Ele explica que é difícil prever a produção da cevada, mas que ela não tem apresentado um movimento de alta.
Por
outro lado, ele diz que há outros problemas mais urgentes que embargam o
aumento da produção da cerveja de qualidade no Brasil, como os impostos
sobre as cervejas artesanais. Lapolli conta que 60% do valor de uma
cerveja artesanal vai para impostos, em média.
Outro fator que
influencia diretamente o preço da cerveja é o dólar, uma vez que uma
grande parcela da cevada é importada. Quanto mais alto o dólar ante do
real, mais cara fica a cerveja.
Hoje,
a produção brasileira da cevada se concentra majoritariamente no Sul do
País, onde o clima é mais frio e propício para o cultivo do grão.
As
cervejarias artesanais também têm crescido nas últimas décadas. De 2007
a 2017, a procura por cervejas artesanais passou de 1% para 2%. Parece
pouco em termos percentuais, mas o aumento impulsionou a abertura de
mais cervejarias independentes, saindo de 80 para 800 indústrias em 10
anos.
Fonte: Huffpost Brasil - Publicado por: Alana Yaponirah
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