Tragédia do Museu Nacional do Rio de Janeiro deve servir para fortalecer museus
Coordenador
do Sistema Nacional de Museus do Uruguai, o especialista Javier Royer
espera que o incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro, ocorrido no
último domingo (2), sirva para fortalecer a importância do papel dessas
instituições.
“Espero que a tragédia se transforme em algo
permanente e que fortaleça os museus e sua dimensão social, o seu papel
na sociedade, a sua pertinência social. O museu não é só para contar o
passado; nos dá elementos para interpretar o que está acontecendo agora e
para sabermos onde queremos ir”, afirmou o especialista em entrevista
à Agência Brasil.
Javier classificou o incêndio no Museu do Rio
como uma perda irreparável em nível mundial. “Uma desgraça e um evento
terrível para o campo museológico do Brasil, particularmente dadas as
características que tinha o museu.”
Reunião Mercosul
Ele
adiantou que, na próxima semana, haverá uma reunião do comitê técnico de
museus do Mercosul em que participarão quase todos os países da América
do Sul. Na ocasião, serão discutidas formas de as nações colaborarem
com a reconstrução do museu brasileiro.
“Estamos abertos a
colaborar com o que for possível. Na medida em que possam entrar [nos
escombros] e avaliar qual é a situação, sobretudo em relação às coleções
e o que conseguiram recuperar, é que se definirá como vão reconstruir o
museu, como será esse novo projeto”, afirma.
Javier acredita que o
Uruguai poderá ceder profissionais e técnicos para contribuir com os
trabalhos, mas dificilmente terá condições de apoiar financeiramente o
Brasil.
Investimentos
Royer destacou a necessidade de valorização do patrimônio museológico e de investimentos a longo prazo no setor.
“O
sistema em que vivemos, com o consumismo e as novidades permanentes,
gera certo desapego e a noção de que não é necessário conservar, onde é
tudo descartável. Mas há muitas coisas que não são descartáveis. Tem a
ver com o que se entende como valioso. E isso é algo que nós, dos
museus, temos que trabalhar, pois o patrimônio é parte da memória do
mundo”, destacou.
Javier reconhece que nem sempre é possível
evitar danos ao patrimônio, mas detalha a experiência do Uruguai que
investiu em políticas de prevenção de riscos de origem natural
(inundações, queda de árvores, etc) e humana (roubos, vandalismo,
depredações).
“Em 2010, quando eu assumi [a coordenação nacional
do sistema de museus], não tínhamos nenhum museu com sistema de
segurança. Hoje, todos os museus vinculados têm. Estou falando de
sensores de fumaça, de incêndio, câmeras de vigilância e sensores contra
furto. Foi feito um investimento e seguimos fazendo porque a tecnologia
vai mudando e temos que atualizar esses sistemas eletrônicos”,
destacou.
Conservação
O especialista destaca que a conservação é o maior desafio para o setor museológico.
“Nunca
tivemos, pelo menos nos museus vinculados ao sistema nacional de museus
uruguaio, um edifício feito especialmente para ser um museu. Sempre
tivemos que adaptar edifícios, muitas vezes históricos, como é o caso do
Rio. E esses edifícios, classificados como monumentos históricos, têm
restrições quanto a obras – não podemos fazer saídas de emergência com
uma porta enorme, corta-fogo. Isso tudo gera dificuldades.”
Agência Brasil

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