A decisão, a demissão e o tempo: a cronologia da queda de um elogiado e isolado Barbieri
Clima de tensão marca últimas 24 horas do agora
ex-treinador do Flamengo, que encarou solidão, incômodo e segredo sobre
saída para se despedir dos jogadores. Lomba conduz processo, que ficou
insustentável ainda no vestiário da Arena
Questão de tempo. Desde o apito final da eliminação para o
Corinthians na Copa do Brasil, este era o cenário da demissão de
Mauricio Barbieri no Flamengo. Tempo que custou a passar para um
resignado treinador na solitária noite que antecipou a oficialização do
adeus.
Barbieri sabia desde o início da madrugada de sexta-feira que estava
fora do Rubro-Negro. O aviso foi dado por Ricardo Lomba e Carlos Noval.
Não o surpreendeu, mas o incomodou pela forma como o processo foi
conduzido nas pouco mais das 24 horas que anteciparam a confirmação.
A situação não impediu que Barbieri mantivesse a serenidade. Com o
embarque para Salvador previsto para a manhã seguinte, encarou o vazio
de seu quarto e buscou conforto em pessoas próximas ao telefone para se
despedir dos jogadores. Assim o fez durante o café da manhã.
Quase que simultaneamente ao anúncio do Flamengo através das redes
sociais, Barbieri cumprimentou um a um antes de deixar o hotel em
Guarulhos rumo a São Paulo, onde permaneceu durante o dia. Era o ato
final da trajetória do auxiliar permanente que deixa o clube como mais
um treinador no mercado.
O processo de demissão foi conduzido por Ricardo Lomba, que fez valer
da autonomia na pasta do futebol e da exposição por ser o candidato da
situação para ditar os rumos. O dirigente tentou colocar o desejo, que
já vinha desde o empate com o Vasco, em prática ainda no vestiário,
quando a troca de comando se tornou iminente.
Já ali, Barbieri se viu isolado enquanto seus superiores debatiam seu
futuro em espaço separado. Eduardo Bandeira de Mello, Ricardo Lomba,
Carlos Noval (diretor executivo) e o CEO Bruno Spindel iniciaram as
conversas que tiveram início em sala reservada na Arena Corinthians e se
estenderam por toda a quinta-feira.
Mauricio Barbieri demorou uma hora entre o fim do jogo e o início da
entrevista coletiva que escancarou o litígio. Sob os olhares do quarteto
forte do futebol, foi questionado sobre seu futuro e, visivelmente
constrangido, disse que a decisão era do clube. Bandeira, Lomba, Noval e
Spindel se calaram e consentiram.
Na porta da sala, o auxiliar Maurício Souza e o preparador Diogo
Linhares acompanhavam as respostas em cena incomum, como se respaldassem
o companheiro. E assim foi. Boa parte da comissão técnica e até
jogadores não aprovaram o escanteamento, que continuou na quinta-feira.
Bandeira e Spindel retornaram ao Rio, Noval e Lomba ficaram em São
Paulo, mas os contatos seguiram constantes. Tanto que os dois últimos
sequer acompanharam a atividade da tarde no CT do Palmeiras, algo
surpreendente.
Com o consenso a respeito da demissão por entenderem que “Maurício é
muito bom, mas não é mais capaz de extrair algo além deste elenco”, a
pergunta era: quem colocar? Nome de consenso, Abel Braga manteve-se
firme no posicionamento de só voltar a trabalhar em janeiro.
Dorival Junior surgiu como opção pacificadora, uma vez que Bandeira
rechaçava Vanderlei Luxemburgo, de saída conturbada em 2015. Foi quando
houve a reunião com Barbieri, no início da madrugada, para que o
compromisso da manhã fosse ir atrás do novo treinador.
Questionado pelo desempenho recente da equipe, Barbieri deixa o Ninho
como unanimidade positiva pelo trato no dia a dia e profissionalismo -
inclusive para os dirigentes do clube. O desejo de mantê-lo na comissão
técnica esbarrou no aumento de salário na época da efetivação e na
convicção do profissional do que quer para a carreira.
Com o anúncio da demissão, o Flamengo ligou para Dorival, que de cara
manifestou interesse em voltar. O imbróglio judicial entre as partes,
com dívida de cerca de R$ 10 mi para o treinador, foi deixado de lado
desde o primeiro diálogo e o deslocamento São Paulo - Salvador adiou por
algumas horas a confirmação.
O tempo que tanto demorou a passar para Barbieri na noite do adeus
tende a correr para seu substituto. Serão três meses de contrato, 12
jogos.
A estreia acontece neste sábado, às 21h (de Brasília), diante do
Bahia, na Fonte Nova, pela 27ª rodada do Brasileirão. Uma vitória fará o
clube dormir na liderança e dará tempos de paz.
Globo Esporte
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