FHC e Lula debatem eleições presidenciais através de jornais internacionais
Em
artigo publicado nesta terça-feira, 21, pelo jornal inglês Financial
Times, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebate as afirmações
feitas pelo seu sucessor na Presidência da República, Luiz Inácio Lula
da Silva, em texto divulgado semana passada no The New York Times, onde o
petista condenado e preso pela Operação Lava Jato afirma que há um
golpe de direita em andamento no Brasil para que ele não concorra às
eleições deste ano. FHC afirma que Lula retrata o País como uma
“democracia em ruínas”, na qual a lei foi usada de maneira arbitrária
para minar o petista e seu partido, o que não é verdade. “Meu país
merece mais respeito”, cobrou o ex-presidente tucano.
No
artigo, FHC afirma que a visão sobre o Brasil do seu sucessor, Luiz
Inácio Lula da Silva, é uma “ficção danosa”. “Meu sucessor como
Presidente falsamente se apresenta como vítima de uma conspiração da
‘elite'”, acusou, acrescentando que o retrato pintado pelo petista de
que o País conta com uma democracia em ruínas, na qual o Estado de
Direito deu lugar a medidas arbitrárias destinadas a enfraquecê-lo e a
seu partido, não é verdade.
Em
seguida, FHC diz que a visão de Lula “é uma versão peculiar das últimas
décadas da história do Brasil, na qual ele, às vezes, aparece como o
salvador do povo e, às vezes, como vítima de uma conspiração de “elite”.
O ex-presidente escreve ainda que o caso de Lula não é isolado e que,
no Brasil, há políticos de todos os partidos na prisão e salienta que a
Operação Lava Jato descobriu um esquema de desvio de bilhões de dólares
para o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula. “O Brasil está passando
por um doloroso, mas necessário processo de reaplicação da sua vida
pública, e as ações do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário
fazem parte disso. Nem sempre me sinto à vontade com a extensão das
penas impostas ou com a expansão da prisão preventiva, na qual o acusado
é preso antes mesmo de seu primeiro julgamento em um tribunal inferior.
É uma grave distorção da realidade, no entanto, dizer que há uma
campanha direcionada no Brasil para perseguir indivíduos específicos.
Meu País merece mais respeito.”
Em
outro trecho, Fernando Henrique também responde à declaração de Lula
sobre a situação brasileira em 2003. “Também não é verdade, como Lula
afirma, que o Brasil não tinha direção antes de ele assumir a
Presidência, em 2003. É preciso lembrar que a estabilização depois de
anos de hiperinflação começou com o Plano Real, lançado pelo
ex-presidente Itamar Franco, e continuou no meu governo. Esse também foi
um período marcado pelo estabelecimento de programas de bem-estar
social que Lula posteriormente iria expandir”, ressalta o tucano.
“O
impeachment e a destituição da Presidente Dilma Rousseff em 2016 não
foram, ao contrário do que Lula afirma, um golpe de Estado. Foi o
resultado, entre outras coisas, da violação do seu governo à lei de
responsabilidade fiscal do Brasil no período que antecedeu a eleição de
2014”, defendeu.
Para
Fernando Henrique Cardoso, o processo de impeachment seguiu todos os
trâmites constitucionais sob a supervisão da Suprema Corte brasileira,
na qual a maioria dos juízes foi nomeada por Lula e Dilma. “Minha
crítica não é motivada pelo antagonismo pessoal. Lula e eu lutamos
juntos contra o regime autoritário que governou o Brasil entre 1964 e
1985. Quando, depois, concorremos um contra o outro em eleições
democráticas, mantive uma relação construtiva com ele”, relatou.”Lamento
que o ex-presidente enfrente acusações de corrupção e lavagem de
dinheiro. Mas o fato é que os processos judiciais em que ele esteve
envolvido seguiram o devido processo e foram conduzidos de acordo com a
Constituição e o estado de direito”, acrescentou.
O
caso de Lula não é isolado, segundo o artigo. O autor lembrou que há
políticos de todos os partidos na prisão, inclusive membros do PSDB, ao
qual é ligado. Ele também citou que a inelegibilidade de Lula para
concorrer à Presidência nas próximas eleições é a consequência de uma
iniciativa popular que recebeu mais de 1 milhão de assinaturas, foi
aprovada pelo Congresso e sancionada pelo próprio ex-Presidente em 2010.
FHC ressaltou que a iniciativa foi uma resposta ao escândalo Mensalão,
descoberto em 2005, mas que não impediu que outro, ainda maior, fosse
perpetrado em algumas das maiores estatais, particularmente a Petrobras.
Fonte: Estadão
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