Morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista envolveu políticos, diz Raul Jungmann
O
ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) afirmou que a dificuldade no
esclarecimento dos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco
(PSOL) e do motorista Anderson Gomes ocorre por conta do envolvimento de
agentes do estado e de políticos no crime. As declarações foram dadas
no programa “Entre Aspas”, da Globonews, na noite de terça-feira (7).
Questionado a respeito da demora na elucidação do crime, Jungmann declarou que vê duas grandes dificuldades.
“Em
primeiro lugar é o fato [de] que é difícil de lhe responder. Com as
informações que tenho, eu não posso trazer todas aqui porque senão eu
criaria problemas para a própria investigação”, declarou.
“Em
segundo lugar, a complexidade. O que eu posso dizer a você: esse
assassinato da Marielle envolve agentes do estado. Envolve, inclusive,
setores ligados seja a órgãos de setores do estado, seja a órgãos de
representação política”, continuou sem citar nomes.
A jornalista
Mônica Waldvogel, que apresenta o programa, perguntou se seriam
ramificações dentro do parlamento e da própria polícia.
“Eu diria
que sim. Esse é um dos problemas que existe. A complexidade deriva do
profissionalismo com que [os assassinatos] foram feitos e com o fato de
que eles têm uma rede de intersecção, que eu poderia chamar daqueles que
têm interesse de que eles acontecessem e que, aparentemente, você tem
que chegar e comprovar isso”, respondeu o ministro.
“Daí a grande
dificuldade que você tem para esclarecer o caso de Marielle”,
prosseguiu, acrescentando que acredita que os assassinatos serão
elucidados até o final deste ano e que a inteligência federal está à
disposição para ajudar nas investigações da Polícia Civil, responsável
pelo inquérito.
Ele relembrou os assassinatos da juíza Patrícia
Acioli e do pedreiro Amarildo, cujos casos levaram até três meses para
ser solucionados. “É verdade que [o caso] Marielle já ultrapassou isso
[o tempo de resolução], mas isso se deve à complexidade e à teia das
relações que se estabeleceram para se chegar a essa tragédia”, afirmou
Jungmann.
Marielle e Anderson foram assassinados em 14 de março no
Estácio, região central do Rio. Nenhum suspeito foi apontado
oficialmente como responsável pelas mortes. O inquérito do caso corre
sob sigilo.
No início de maio, uma testemunha, em depoimento à
Delegacia de Homicídios do Rio, disse ter presenciado conversas entre o
vereador Marcelo Siciliano (PHS) e Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando
da Curicica, apontado como chefe de uma quadrilha de milicianos, nas
quais supostamente teriam discutido o assassinato de Marielle. O
depoimento foi revelado pelo jornal “O Globo”. Os dois negam qualquer
participação no crime.
À polícia, o delator narrou que as
conversas sobre a morte da vereadora teriam começado em junho do ano
passado depois de ela ter passado a promover ações comunitárias em
bairros da zona oeste –os quais, embora controlados por traficantes,
seriam de interesse da milícia.
Preso preventivamente por outros
dois crimes (homicídio e posse ilegal de armas), Araújo afirmou na
ocasião que a testemunha é um PM da ativa que estaria agindo por
vingança.
De acordo com a testemunha, após a morte de Marielle,
pelo menos dois outros assassinatos foram cometidos como “queima de
arquivo”: dois dias depois da morte de Alexandre Cabeça, em 8 de abril,
foi assassinado a tiros o subtenente reformado da PM Anderson Claudio da
Silva, suspeito de envolvimento com milicianos. No entanto, as
informações dadas pela testemunha ainda não foram confirmadas na
investigação.
Há duas semanas, a polícia prendeu dois possíveis
suspeitos de envolvimento nos homicídios da vereadora e de seu
motorista. Eles foram presos por outro crime, contudo, e não foram
formalmente indiciados pelos assassinatos de Marielle e Anderson.
Uol
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