Na gangorra jurídica do último domingo quem mais perdeu foi a Justiça
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| Sérgio Moro, juiz da Vara Federal de Curitiba | 
Lula
 preso, Lula livre, Lula preso, Lula livre… A gangorra jurídica de 
domingo não afetou tanto o ex-presidente, que nem chegou a sair da cela.
 Quem mais perdeu foi a Justiça, que recebeu novos arranhões numa imagem
 que já andava desgastada.
Não é difícil apontar a primeira 
lambança. De plantão no TRF-4, o desembargador Rogério Favreto usou um 
argumento exótico para determinar a libertação do petista. Afirmou que 
seria preciso garantir a “isonomia” e a “liberdade de expressão” na 
corrida presidencial.
Para justificar a decisão em caráter de 
urgência, Favreto sustentou que a pré-candidatura de Lula seria um 
“evidente fato novo”. Só para alguém que acabou de chegar de Marte. No 
mundo que habitamos, o ex-presidente já está em campanha desde o ano 
passado.
Antes que o petista deixasse a cadeia, o juiz Sergio Moro
 se mexeu. De férias, ele se insurgiu contra a ordem de soltura e 
orientou a Polícia Federal a ignorá-la. Acrescentou que o desembargador 
seria “absolutamente incompetente” para conceder o habeas corpus.
Na
 prática, assistiu-se a uma quebra de hierarquia. Juiz de primeiro grau,
 Moro não tem poderes para rever ou censurar decisões de instância 
superior. Não é a primeira vez que ele é acusado de fazer isso na 
Lava-Jato.
O desembargador João Gebran Neto entrou em campo para 
apoiar o juiz, de quem é amigo. Ele desautorizou o colega plantonista e 
determinou que Lula continuasse preso. Favreto chutou a bola de volta e 
reiterou a ordem de soltura. O presidente do TRF-4, Thompson Flores, 
encarnou o árbitro de vídeo e decidiu a favor de Moro e Gebran.
A 
confusão poderia ter sido evitada com um pouco de cautela. Cabia ao 
Ministério Público recorrer contra a frágil decisão do desembargador, 
que tendia a ser anulada pelos tribunais superiores. Ao atropelá-lo, 
Moro se expôs a novas acusações de ativismo e parcialidade.
Por 
ter sido filiado ao PT, Favreto também poderia ter se declarado 
impedido. No entanto, ele não é o único a trocar a militância partidária
 pela toga. O ministro Alexandre de Moraes, que negou outro habeas 
corpus a Lula há 11 dias, portava carteirinha do PSDB até o ano passado.


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