Uso de imunoterapia contra câncer inspira otimismo e avança, apesar de custos e limitações
Um das ressalvas é que o método ainda se mostra eficaz só para cerca de 20% dos pacientes
© Pixabay
Um dos caminhos mais
promissores para o tratamento do câncer utiliza o próprio sistema
imunológico dos pacientes para destruir os tumores. Após sete anos da
liberação das primeiras drogas no mundo, a imunoterapia inspira otimismo
e avança nas clínicas, apesar do custo alto e da eficácia restrita.
De acordo com os especialistas, os tratamentos que utilizam
drogas imunoterápicas já são aplicados rotineiramente nos consultórios.
Cinco delas foram aprovadas no Brasil para diversos tipos de câncer,
como melanoma, linfoma de Hodgkin e tumores de pulmão, bexiga, cabeça e
pescoço.
A maior parte dessas terapias envolve os chamados
"bloqueadores de checkpoint". Basicamente, eles obstruem um receptor das
células do sistema imunológico que é utilizado pelos tumores para se
tornarem invisíveis às defesas do organismo.
"Há
muito tempo se imaginava que o sistema imunológico poderia atacar o
câncer, especialmente alguns tipos de tumores mais 'visíveis' para ele,
como o melanoma e o câncer de rim. Mas os medicamentos que existiam para
isso tinham eficácia muito baixa. O que mudou radicalmente a maneira
como enxergamos a imunoterapia para o câncer foi o lançamento das
primeiras drogas bloqueadoras", explica o médico William William,
diretor de Oncologia Clínica da Beneficência Portuguesa (BP), em São
Paulo.
Um das ressalvas é que o método ainda se mostra eficaz só
para cerca de 20% dos pacientes. "No entanto, tem uma enorme vantagem:
quando funciona, os benefícios são de longo prazo - ao contrário do que
ocorre com a quimioterapia - e os efeitos colaterais são bem menores",
explica William.
Segundo o médico Vladmir Cordeiro de Lima, do
departamento de Oncologia Clínica do Hospital AC Camargo, em São Paulo, o
baixo número de potenciais beneficiados não impede que a técnica seja
considerada uma revolução. "De fato, temos um novo paradigma. Um dos
grandes atrativos é que essas drogas têm funcionado bem para doenças
metastáticas e já começam a ser aplicadas em fases mais precoces do
tratamento." Quando há retorno, a sobrevida dos pacientes pode
triplicar.
Estratégia
Além da eficácia
limitada, outro problema com as drogas imunoterápicas, segundo os
especialistas, é o preço. Uma única caixa de pembrolizumab, por exemplo,
que é um dos medicamentos aprovados no Brasil para melanoma em estágio
avançado, custa cerca de R$ 18,8 mil. Um tratamento de um ano pode
chegar a R$ 582 mil. Os pacientes que conseguem a cobertura desses
medicamentos pelos planos de saúde são exceções e, para o oncologista
Artur Katz, do Hospital Sírio Libanês, o preço não cairá. "Essas drogas
são extraordinariamente caras no mundo todo, e esse é um problema
global."
Os caminhos para superar o problema do preço dos
imunoterápicos - assim como as limitações da eficácia -, segundo Lima e
William, passam pelo aprimoramento das estratégias para identificar os
pacientes que mais se beneficiam das drogas imunoterápicas. "A relação
custo-benefício melhora", afirma William.
O AC Camargo, por
exemplo, já tratou cerca de 400 pacientes com as novas drogas nos
últimos sete anos e está terminando a instalação de um Centro de
Imunoterapia, com cerca de 70 médicos de várias especialidades. O
oncologista norte-americano Kenneth Gollob foi trazido em setembro
especialmente para liderar o novo grupo. Ele conta que o centro adquiriu
duas máquinas que chegarão ao Brasil em agosto e permitirão "direcionar
os pacientes que mais terão benefício".
Segundo
Gollob, há várias razões para que alguns pacientes respondam à
imunoterapia melhor. "A eficácia depende muito dos marcadores genéticos
presentes no tumor. Outro fator é o grau de mutação. Por isso precisamos
refinar o tratamento."
Aval recente
Outro
caminho para aumentar a eficácia é a combinação com a quimioterapia. Um
avanço foi a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), na segunda-feira, do uso combinado de imunoterapia e
quimioterapia para tratamento de câncer de pulmão avançado. Em estudos
clínicos, o uso combinado de inibidores de checkpoint e imunoterapia
reduziu em 51% os risco de morte de pacientes e diminuiu em 48% a chance
de progressão da doença.
De acordo com Roger Miyake, diretor
médico da empresa farmacêutica Bristol-Myers Squibb (BMS), a combinação
de tratamentos é uma tendência cada vez mais importante. "As drogas
imunoterápicas que temos disponíveis podem ser combinadas com a
quimioterapia, com a radioterapia e com a cirurgia, criando uma nova
gama de abordagens."
O oncologista Felipe Ades, do Hospital Israelita Albert Einstein,
afirma que, além dos cinco medicamentos imunoterápicos já aprovados no
Brasil, outros estão em vias de aprovação. "Há várias outras drogas a
caminho, além de novos alvos moleculares para os medicamentos que já
existem, o que aumentará sua abrangência."
LifeStyle ao Minuto com informações do Estadão
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