Ex-ministro Guido Mantega admite encontros com o empresário Joesley Batista
Ex-ministro Guido Mantega - Givaldo Barbosa/Agência O Globo |
O
ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu à Polícia Federal que se
encontrou com Joesley Batista, da empresa JBS, no Ministério da
Fazenda, mas negou que fosse para favorecer a empresa.
Joesley
Batista contou em acordo de delação premiada com o Ministério Público
Federal (MPF) que Mantega interferia no Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para favorecer operações da
JBS.
Mantega
prestou depoimento à PF em São Paulo, no dia 29 de maio. O depoimento
integra investigação da Operação Bullish, deflagrada em maio de 2017,
para investigar fraudes e irregularidades em aportes do BNDES ao
frigorífico JBS. A TV Globo teve acesso ao depoimento.
“Que,
como ministro da Fazenda, o declarante participou de reuniões com o
empresário Joesley, nas dependências do ministério, em Brasília , assim
como no prédio do Banco do Brasil em São Paulo, pois eram os locais onde
o declarante atendia os empresários”, disse Mantega, durante o
depoimento.
Questionado
sobre o assunto das reuniões, o ex-ministro disse que não se recordava.
“Que não se recorda especificamente dos assuntos dessas reuniões, mas
os encontros com empresários tinham como objetivo tratar dos rumos da
economia, perspectivas de crescimento e saídas para a crise
internacional”, pontua as notas do depoimento.
Guido
Mantega foi o ministro da Fazenda que mais tempo permaneceu no cargo em
governos democráticos. Ele deixou o posto para dar lugar ao economista
Joaquim Levy no final de 2014. Mantega assumiu o Ministério da Fazenda
em 2006, após a demissão de Antonio Palocci, envolvido no escândalo da
quebra de sigilo ilegal do caseiro Francenildo dos Santos.
Antes
de ser ministro da Fazenda, Mantega foi presidente do BNDES de novembro
de 2004 a março de 2006. Na versão de Joesley, na delação, Mantega
interferia para que o BNDES concedesse empréstimos à JBS, e que o então
presidente do banco, Luciano Coutinho, era contra a liberação do
dinheiro.
Segundo
Joesley, Luciano Coutinho participava de reuniões entre o empresário e o
ministro. “Tinha vezes que era constrangedor, porque eu ia em uma
reunião com o Guido, chegava lá, o Luciano estava. E eu percebia que o
Luciano ficava claramente constrangido, porque ficava parecendo que ele
não sabia que eu ia chegar na reunião, sabe?”, disse Joesley Batista em
depoimento.
Mantega,
por sua vez, negou relações ilícitas com Joesley. “Que nunca recebeu
cobrança alguma de Joesley Batista ou de qualquer outra pessoa para
agilizar procedimentos de liberação de recursos ou de qualquer forma
interferir nas operacoes do BNDES”, afirmou o ministro durante
depoimento.
O
ex-ministro negou, ainda, ter amizade com o empresário, mas admitiu ter
ido ao casamento de Joesley e a um jantar na casa dele.
Operação Bullish
Mantega
é investigado na Operação Bullish. Por causa desta operação, ele chegou
a fechar um acordo com o Ministério Público Federal no Distrito Federal
para evitar ser preso.
Ele
assinou um termo de compromisso, diferente de uma delação premiada.
Nesse termo, ele não precisava admitir crimes, relataria somente
informações em troca de benefícios.
O
juiz Ricardo Leite, da Justiça Federal, em Brasília, não homologou o
acordo, portanto, a ‘imunidade’ de não ser preso não está valendo.
Dinheiro na Suíça
No
depoimento, Mantega reforçou a versão dada ao juiz Sérgio Moro sobre o
montante de R$ 1,3 milhão na Suíça. Disse que o empresário Victor Sandri
tinha uma incorporadora e comprou dois imóveis da família de Mantega.
Imóveis do prédio que seria construído no terreno da família entraram na
negociação.
Depois,
Victor Sandri comprou um outro terreno da família, esse na Vila
Olímpia, em São Paulo. Houve permuta de novo por unidades do prédio que
foi construido nesse terreno, além do pagamento de quantia em dinheiro.
O
ex-ministro detalhou os valores durante o depoimento à PF. “Que, a
pedido de Victor, abriu uma conta na Suiça pra receber esses valores,
porque Victor disse que preferia pagar Mantega com dinheiro que tinha no
exterior. Pagamento duas parcelas , US$ 650 mil e US$ 645 mil entre
2005 e 2007. Que esses pagamentos não constam do contrato de compra e
venda do imóvel . E que esse dinheiro ainda é mantido em conta na Suíça
declarada à Receita”.
O
ex-ministro disse que esses valores não tem nenhuma relação com a
liberação de financiamentos ou investimentos do BNDES na JBS.
Tv Globo
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