quinta-feira, 22 de março de 2018

Presidente do Peru renuncia

Para escapar do impeachment presidente do Peru renuncia um dia antes da votação

Ex-banqueiro de Wall Street, Kuczynski, de 79 anos, deveria se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma cúpula regional no Peru no próximo mês.

Kuczynski, que ficou apenas um ano e sete meses no cargo, disse em pronunciamento transmitido pela TV que haverá uma transição ordenada e negou as acusações de corrupção - (Foto: Reprodução)

O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, anunciou nesta quarta-feira (21) seu pedido de renúncia depois da divulgação de um vídeo sobre compra de votos em troca de obras públicas. Kuczynski, que ficou apenas um ano e sete meses no cargo, disse em pronunciamento transmitido pela TV que haverá uma transição ordenada e negou as acusações de corrupção. A renúncia vem um dia antes da votação de um pedido de impeachment sobre suas relações com a empresa brasileira Odebrecht e horas depois da divulgação de um vídeo sobre compra de votos.
— Frente a essa difícil situação que se gerou, acho que o melhor para o país é que eu renuncie à Presidência da República — disse Kuczynski, acompanhado dos membros de seu gabinete ministerial. — Não quero ser um estorvo para que nossa nação encontre o caminho da união e da harmonia que tanto precisa.
Ex-banqueiro de Wall Street, Kuczynski, de 79 anos, deveria se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma cúpula regional no Peru no próximo mês. Ainda não estava claro se o Congresso, controlado pela oposição, vai aceitar o pedido de renúncia ou se prosseguirá com a votação de impeachment.
Na raiz do pedido de sua saída do governo estava o relacionamento com a empreiteira brasileira. Kuczynski é acusado de ter recebido propinas milionárias da Odebrecht em troca de concessões quando era ministro de Economia no governo de Alejandro Toledo (2000 a 2006). A própria bancada de seu partido, o Peruanos pela Mudança, afirmava que o presidente mentira sobre relações consideradas escusas com a empresa.
"KENJIVÍDEOS", A GOTA D'ÁGUA
O presidente conseguiu escapar do primeiro pedido de impeachment, votado em dezembro, mas não se livrou da turbulência política que marcou seu um ano e sete meses no cargo. Ele se viu ainda arrastado para o meio da briga política entre os filhos do ex-presidente Alberto Fujimori — que cumpria pena por crimes contra a Humanidade. O segundo, com votação marcada para amanhã, era impulsionado por diferentes setores da oposição e ganhou força nas últimas horas com a divulgação dos chamados "kenjivideos".
A compra dos votos por parte do Executivo teria ocorrido na votação de dezembro passado, da qual PPK (como ele é conhecido no país) conseguiu sobreviver graças ao respaldo de deputados fujimoristas, entre eles Kenji Fujimori, filho do ex-presidente.
Poucos dias depois do impeachment de dezembro, Kuczynski indultou o ex-presidente Fujimori, o que levou seus opositores a acusá-lo de ter negociado um acordo com Kenji e seu pai para evitar sua destituição. Na última terça-feira, o partido Força Popular, liderado pela ex-candidata presidencial Keiko Fujimori — também filha do ex-presidente, mas que dispua com o irmão a liderança do fujimorismo — divulgou um vídeo no qual Kenji aparece mencionando supostos oferecimentos de dinheiro a congressistas. Os “kenjivídeos” causaram comoção no Congresso peruano, tornando praticamente impossível impedir que deputados votassem pela sua saída do poder.
Nas redes sociais, ex-aliados de Kuczynski, como o ex-ministro do Interior, Carlos Basombrío, exigiam a renúncia. “O presidente já teria de ter renunciado, pelo bem do país”, escreveu o ex-ministro.
O governo negou, através da presidente do Conselho de Ministros, Mercedes Aráoz, qualquer tipo de negociação ou compra de votos por parte do Executivo. Mas isso não foi suficiente para deter o movimento a favor do impeachment.
Confirmando sua saída, na Presidência ficaria o atual vice e embaixador no Canadá, Martin Vizcarra, que, segundo versões que circulam desde o ano passado em Lima, já teria selado o entendimento com o fujimorismo comandado por Keiko para poder completar o mandato de Kuczynski sem sobressaltos.
— Lamento muito a atitude delinquente do Força Popular e de minha irmã Keiko ao operar desta maneira, fazendo gravações escondidas e distorcendo informações — declarou Kenji, que também negou a suposta compra de votos.
O Globo

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