Para escapar do impeachment presidente do Peru renuncia um dia antes da votação
Ex-banqueiro de Wall Street, Kuczynski, de 79 anos, deveria se encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma cúpula regional no Peru no próximo mês.
Kuczynski, que ficou apenas um ano e sete meses no cargo, disse em pronunciamento transmitido pela TV que haverá uma transição ordenada e negou as acusações de corrupção - (Foto: Reprodução) |
O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, anunciou
nesta quarta-feira (21) seu pedido de renúncia depois da divulgação de
um vídeo sobre compra de votos em troca de obras públicas. Kuczynski,
que ficou apenas um ano e sete meses no cargo, disse em pronunciamento
transmitido pela TV que haverá uma transição ordenada e negou as
acusações de corrupção. A renúncia vem um dia antes da votação de um
pedido de impeachment sobre suas relações com a empresa brasileira
Odebrecht e horas depois da divulgação de um vídeo sobre compra de
votos.
— Frente a essa difícil situação que se gerou, acho que o melhor para
o país é que eu renuncie à Presidência da República — disse Kuczynski,
acompanhado dos membros de seu gabinete ministerial. — Não quero ser um
estorvo para que nossa nação encontre o caminho da união e da harmonia
que tanto precisa.
Ex-banqueiro de Wall Street, Kuczynski, de 79 anos, deveria se
encontrar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em uma
cúpula regional no Peru no próximo mês. Ainda não estava claro se o
Congresso, controlado pela oposição, vai aceitar o pedido de renúncia ou
se prosseguirá com a votação de impeachment.
Na raiz do pedido de sua saída do governo estava o relacionamento com
a empreiteira brasileira. Kuczynski é acusado de ter recebido propinas
milionárias da Odebrecht em troca de concessões quando era ministro de
Economia no governo de Alejandro Toledo (2000 a 2006). A própria bancada
de seu partido, o Peruanos pela Mudança, afirmava que o presidente
mentira sobre relações consideradas escusas com a empresa.
"KENJIVÍDEOS", A GOTA D'ÁGUA
O presidente conseguiu escapar do primeiro pedido de impeachment,
votado em dezembro, mas não se livrou da turbulência política que marcou
seu um ano e sete meses no cargo. Ele se viu ainda arrastado para o
meio da briga política entre os filhos do ex-presidente Alberto Fujimori
— que cumpria pena por crimes contra a Humanidade. O segundo, com
votação marcada para amanhã, era impulsionado por diferentes setores da
oposição e ganhou força nas últimas horas com a divulgação dos chamados
"kenjivideos".
A compra dos votos por parte do Executivo teria ocorrido na votação
de dezembro passado, da qual PPK (como ele é conhecido no país)
conseguiu sobreviver graças ao respaldo de deputados fujimoristas, entre
eles Kenji Fujimori, filho do ex-presidente.
Poucos dias depois do impeachment de dezembro, Kuczynski indultou o
ex-presidente Fujimori, o que levou seus opositores a acusá-lo de ter
negociado um acordo com Kenji e seu pai para evitar sua destituição. Na
última terça-feira, o partido Força Popular, liderado pela ex-candidata
presidencial Keiko Fujimori — também filha do ex-presidente, mas que
dispua com o irmão a liderança do fujimorismo — divulgou um vídeo no
qual Kenji aparece mencionando supostos oferecimentos de dinheiro a
congressistas. Os “kenjivídeos” causaram comoção no Congresso peruano,
tornando praticamente impossível impedir que deputados votassem pela sua
saída do poder.
Nas redes sociais, ex-aliados de Kuczynski, como o ex-ministro do
Interior, Carlos Basombrío, exigiam a renúncia. “O presidente já teria
de ter renunciado, pelo bem do país”, escreveu o ex-ministro.
O governo negou, através da presidente do Conselho de Ministros,
Mercedes Aráoz, qualquer tipo de negociação ou compra de votos por parte
do Executivo. Mas isso não foi suficiente para deter o movimento a
favor do impeachment.
Confirmando sua saída, na Presidência ficaria o atual vice e
embaixador no Canadá, Martin Vizcarra, que, segundo versões que circulam
desde o ano passado em Lima, já teria selado o entendimento com o
fujimorismo comandado por Keiko para poder completar o mandato de
Kuczynski sem sobressaltos.
— Lamento muito a atitude delinquente do Força Popular e de minha
irmã Keiko ao operar desta maneira, fazendo gravações escondidas e
distorcendo informações — declarou Kenji, que também negou a suposta
compra de votos.
O Globo
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