Reportagem da Folha lembra papel de paraibano na candidatura de Silvio Santos à Presidência em 1989
Marcondes Gadelha chegou a ser inscrito na vaga de vice-presidente, mas candidatura foi barrada pelo TSE
Silvio Santos faz campanha para presidente em 1989 – Sergio Tomisaki – 6.nov.1989/ FolhaPress |
O paraibano Marcondes Gadelha (PSC) teve um papel fundamental na
candidatura do apresentador Silvio Santos à Presidência da República nas
eleições de 1989. Além de ter sido um dos principais articuladores da
candidatura, o então senador pelo PFL integrou a chapa encabeçada pelo
apresentador na vaga de vice-presidente.
Embora tivesse grande apelo popular, a candidatura inscrita de última
hora apresentava várias irregularidades e não prosperou. Foi barrada
unanimemente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apenas seis dias
antes do pleito.
Outro episódio envolvendo o paraibano e o apresentador aconteceu em
2001, durante a edição especial do programa Show do Milhão dos
Políticos. Gadelha foi o participante que chegou mais longe na disputa,
ganhando R$ 500 mil.
Confira na íntegra a reportagem publicada neste domingo (18) pela Folha de São Paulo:
Confira na íntegra a reportagem publicada neste domingo (18) pela Folha de São Paulo:
Candidatura de Silvio Santos levou eleição presidencial à Justiça em 1989
Assim como pode ocorrer neste ano com o caso Lula, pleito mergulhou em incerteza à espera decisão do TSE
Um dos favoritos para a eleição presidencial tem a candidatura impugnada. Perto do dia da votação, com a campanha dele ativa, o clima é de incerteza.
Assim como pode ocorrer neste ano com o caso Lula, pleito mergulhou em incerteza à espera decisão do TSE
Um dos favoritos para a eleição presidencial tem a candidatura impugnada. Perto do dia da votação, com a campanha dele ativa, o clima é de incerteza.
A decisão fica então nas mãos de sete juízes do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e o país aguarda em suspense o desfecho.
Faltando menos de uma semana para o primeiro turno, os magistrados batem o martelo e acabam redefinindo o xadrez eleitoral.
Se essa situação ocorrer neste ano com a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não será inédita.
Aconteceu em 1989, com o apresentador Silvio Santos, em um dos mais inusitados episódios eleitorais do país.
Naquele ano, faltando duas semanas para o primeiro turno da eleição
presidencial, um grupo de congressistas se mobilizou para lançar como
candidato o empresário, uma das mais populares figuras públicas do país.
Foi um terremoto na campanha, que parecia se encaminhar naquele
momento para um segundo turno entre Fernando Collor, líder então pelo
PRN, e o próprio Lula.
A fragilidade do registro eleitoral do dono do SBT, porém, deu fartos
motivos para contestações de adversários, como Collor, e a Justiça
Eleitoral foi chamada a resolver a questão.
“Quando apareceu essa candidatura, eu disse aos colegas do TSE:
senhores, não merecíamos isso”, lembra o então presidente do tribunal,
Francisco Rezek.
“Era um problema gravíssimo: chegar à véspera do primeiro turno sem saber se tem ou não tem um candidato.”
A ideia de lançar candidatura às pressas do empresário e animador de
auditório havia partido de um trio de senadores do PFL (atual DEM),
frustrados com o desempenho do candidato do partido, o mineiro Aureliano
Chaves, ex-vice-presidente da República.
A proposta desse grupo, que incluía o atual senador Edison Lobão
(MA), Marcondes Gadelha (PB) e Hugo Napoleão (PI), inicialmente era
colocar Silvio Santos no lugar de Aureliano.
Silvio, que já havia tentado ser candidato a prefeito de São Paulo no ano anterior, se interessou pelo plano.
O candidato do PFL concordou inicialmente em ceder a vaga, mas acabou rejeitando a proposta.
Gadelha, Lobão e outros pefelistas então saíram à caça de alguma
outra legenda para abrigar o apresentador na eleição. Tudo isso a menos
de 20 dias do primeiro turno.
Encontraram uma resposta positiva no minúsculo PMB (Partido
Municipalista Brasileiro), que havia lançado à Presidência o professor e
pastor evangélico Armando Corrêa.
Não haveria tempo, no entanto, de Silvio ter seu nome impresso nas
cédulas de papel da época. No horário eleitoral na TV, em um dos poucos
programas que conseguiu levar ao ar, o dono do SBT gastou parte de seu
tempo ensinando o eleitor a votar nele, identificando-o pelo número 26,
do PMB: “Para votar no Silvio Santos, devem marcar no meio da cédula
Corrêa”.
Em meio à toda confusão, o apresentador se mostrava competitivo nas
pesquisas de intenção de voto, chegando a figurar em segundo lugar,
atrás do líder, Collor.
Sua plataforma política não era clara, e não chegou a haver grandes
atos de campanha – a aposta era triunfar nas urnas com a popularidade
obtida na TV.
Os adversários demonstravam indignação. Lula, segundo registrou a
Folha na época, chamou-o de “espertinho”. Leonel Brizola (PDT), ameaçado
de ficar fora do segundo turno, era um dos mais exaltados.
As críticas miravam sua condição de “outsider”, termo que não era
usado na época e que hoje costuma definir personagens como Luciano Huck,
que foi aventado como possível candidato a presidente em 2018.
FALHA BUROCRÁTICA
Logo que a candidatura de Silvio foi protocolada, partidos e rivais
correram para pedir o indeferimento pela Justiça Eleitoral. O PRN de
Collor era um dos mais ativos.
O vice na chapa de Silvio, Marcondes Gadelha, 74, hoje atribui um
papel de destaque na mobilização do grupo de Collor a Eduardo Cunha,
ex-presidente da Câmara e atualmente preso da Operação Lava Jato.
Os adversários apostavam que o TSE barraria o empresário por ele não
ter se desligado do SBT, uma concessão pública, antes da campanha.
Assim como a defesa de Lula hoje, os advogados de Silvio na época
tinham uma tarefa de sucesso improvável: provar que o apresentador não
tinha comando sobre a rede de televisão.
O Brasil parou para acompanhar o julgamento. Em uma época sem TV por
assinatura, as emissoras abertas tentaram transmitir a sessão da corte
eleitoral ao vivo, mas não foram autorizadas.
A sessão decisiva não foi longa. Depois de a acusação e defesa
apresentarem seus argumentos, a candidatura de Silvio Santos foi barrada
por unânimes sete votos.
O fator chave para afastá-lo da eleição acabou sendo muito mais
burocrático do que a umbilical ligação do candidato com o canal de TV.
Os juízes entenderam que o partido que abrigou Silvio não tinha
promovido convenções em um mínimo de Estados, como mandava a legislação.
Com o registro partidário irregular, o empresário não poderia ser
candidato.
Para Francisco Rezek, 74, a descoberta desse problema no PMB foi “sorte, um capricho do acaso”.
“Se não fosse a irregularidade do partido, havia uma possibilidade de
recurso ao Supremo e teríamos chegado à véspera da eleição com uma
situação de insegurança.”
Um dos mais fortes candidatos da primeira eleição presidencial no
país em 29 anos era impedido de concorrer faltando apenas seis dias para
o pleito. Era 9 de novembro de 1989, dia que ficou marcado também pela
queda do muro de Berlim. A derrubada do símbolo da Guerra Fria, porém,
acabou recebendo menos destaque em todos os grandes jornais brasileiros
da época do que o episódio Silvio Santos.
“Ele iria ganhar a eleição, sem nenhuma dúvida. Foi o único candidato
que conseguiu deslocar o Collor”, diz Gadelha, hoje dirigente nacional
do PSC.
Silvio, hoje com 87 anos, declarou em 2017, em um de seus programas
no SBT, que aceitou ser candidato na época porque o convite mexeu com a
sua “vaidade”.
“Não deu certo, ok. Foi até bom”, disse ele, na TV.
Na noite que selou sua carreira política, o empresário nada falou. Em
um retrato do improviso de sua curta trajetória de presidenciável, os
repórteres que acompanharam o caso relataram que a única a se manifestar
na casa dele, em São Paulo, foi uma copeira, que transmitiu um recado
de Íris, mulher do apresentador: “Dona Íris disse que lamentamos, mas
acabou”, falou ela aos jornalistas.
CONFUSÃO ELEITORAL
A curta trajetória de Silvio Santos como presidenciável
29.out.1989
Cortejado por senadores do PFL, o empresário e apresentador Silvio
Santos anuncia que quer ser candidato a presidente. Restavam duas
semanas até o primeiro turno
31.out
Silvio Santos se lança à Presidência. A candidatura pelo PFL não dá
certo, mas os senadores conseguem convencer o candidato Armando Corrêa,
do PMB, a ceder sua vaga na eleição ao dono do SBT
4.nov
O empresário faz o registro de candidatura, que é imediatamente contestada
5.nov
Silvio Santos estreia no horário eleitoral na TV. Fala de sua
trajetória pessoal e em melhorar a vida da população em áreas como saúde
e educação
9.nov
Por 7 a 0, o Tribunal Superior Eleitoral barra a candidatura. O empresário aceita a decisão e não recorre
15.nov
Dia do primeiro turno da eleição. Collor lidera e é eleito um mês depois, em segundo turno contra Lula
Cena do programa Show do Milhão |
Blog do Gordinho
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