UM DOS MAIORES CRAQUES DA HISTÓRIA DO FUTEBOL BRASILEIRO, FALA SOBRE CORRUPÇÃO NO FUTEBOL
“Se não tivessem descoberto a corrupção, os mesmos dirigentes estariam na Fifa até hoje. No COB, é a mesma coisa: o Nuzman ainda estaria no comando se não fosse a Lava Jato” - (Crédito:Márcio Alves/Agência O Globo) |
Acha que essa preocupação se deve à maior pressão hoje em dia?
Não, os números é que ficaram maiores, a quantidade de dinheiro que
circula ficou maior. Lógico que gera mais cobrança e pressão. Mas isso
faz parte do jogo, o cara tem que saber lidar. Quanto mais ganha, mais
será cobrado. Tem que se preparar bem. Talvez essa seja a grande
distância que há em relação aos tempos anteriores. Hoje, o jogador tem a
receita do patrocinador, da TV, do jogo, de tudo que é lugar. Na minha
época, o pagamento era feito com as receitas de rendas e jogos
amistosos. Só. Não sou contra os salários serem altos porque todos
ganham com o futebol, ou seja, por que os atletas não seriam bem
remunerados também?
A internet deu voz para uma multidão de haters, aquelas pessoas que destilam ódio. O sr. já foi alvo deles?
Claro. No Facebook tenho quase três milhões de seguidores. No canal
do YouTube, que existe há apenas seis meses, temos 300 mil inscritos, no
Instagram, mais uns 500 mil. Outro dia, o grupo Assim Saúde, do qual
sou contratado, sorteou três pessoas para assistir o Fla x Flu comigo no
camarote. Fiz foto e postei na minha página. Vem um cara raivoso e diz:
“Isso aqui não é lugar de fazer jabá, é lugar de falar de futebol.” Pô,
é na minha página, caraca, eu faço o que eu quiser. Mas tem sempre
outros internautas que vão lá defender, nem preciso perder meu tempo.
No contexto de nível baixo do futebol brasileiro, como o sr. avalia as nossas chances na Copa do ano que vem?
Concordo plenamente que o futebol está em um nível baixo, mas está se
recuperando graças à alma bondosa do Tite (treinador da Seleção
Brasileira), que conseguiu elevar a autoestima dos jogadores. A Seleção
teve novo alento, ganhou oito jogos seguidos, se classificou para a
Copa, e hoje está com um time pronto para jogar. Não tenho dúvida: se a
Copa fosse hoje, o Brasil estaria na final. Estou com boa expectativa.
Não acontecendo nada extra, mantidas as bases dos jogadores, a seleção
brasileira vai chegar lá.
É uma boa seleção, então?
O Tite está dando muitas oportunidades para os jogadores que estão no
Brasil, valorizando-os. A seleção tem uns 10 ou mais atletas que jogam
aqui. Mas os melhores estão em outros países, como o Gabriel Jesus, o
Philippe Coutinho, o Renato Augusto, o Neymar, o Paulinho, o Marcelo, o
Daniel Alves. Os daqui são bons jogadores, sim, mas não atingiram o
nível desses que estão lá fora.
Quem é melhor jogador, atualmente?
Este ano foi barbada: o Cristiano Ronaldo, que ganhou títulos,
superou todo mundo nos jogos. Neymar tem perfil para ser o próximo. Acho
que a saída dele do Barcelona (para o PSG) foi muito importante porque
vão analisá-lo agora mais como protagonista. No Barcelona, todos ficam
na sombra do (Lionel) Messi. Agora, a tendência é que os outros o ajudem
em campo. Neymar tem só o problema do nervosismo. O pessoal começa a
querer irritar, e ele entra. Tem que se acalmar porque o adversário,
sabendo que é inferior, vai sempre querer provocar para tirar a
concentração da bola. Até técnicos estimulam isso.
O sr. passou por isso? Conseguiu ficar calmo?
Passei. Os caras faziam mil coisas pra tentar me irritar, como puxar o
calção, enfiar o dedo no rabo, agarrar a camisa, não é fácil. Eu
consegui graças a ensinamentos que recebi. Um grande ex-companheiro me
disse, e nunca esqueci: na vida, é importante ter memória e paciência.
Memória para poder lembrar de ter paciência. E o grande (Paulo César)
Carpegiani sempre frisava: ‘Não revide, Zico, porque ele quer te tirar
do jogo. Não faça o jogo dele.’ Consegui.
É possível comparar os jogadores do período em que o sr. estava em campo com os atletas atuais?
Em resumo, os jogadores são iguais. Os tempos é que são diferentes.
Hoje, tem um exame de sangue que diz se o cara está mais desgastado ou
não. O problema é que isso determina o que o atleta faz ou não. Muitos
aproveitam e se acomodam. Se o médico disser que acha melhor ele
descansar, ele diz: ‘Tá bom, vou descansar.’ A geração anterior era
fominha de bola, queria estar no campo toda hora. O pessoal, hoje, é
mais profissional. Pode ser que eu esteja falando besteira, mas é a
impressão que tenho.
“O futebol brasileiro está se recuperando graças à alma bondosa do Tite, que elevou a autoestima dos jogadores. Com ele, a Seleção teve novo alento” - (Crédito:REUTERS/Paulo Whitaker) |
Se o sr. tivesse que fazer um texto sobre si próprio, o que escreveria?
Escreveria: um jogador determinado. E com talento. Acho que a minha
vantagem é que eu fazia da bola meu grande brinquedo. Não fiz do futebol
uma profissão, fiz dele a minha diversão. Quando fui para o futebol,
não pensava em carreira. Só pensava em ir para o Flamengo, que era meu
clube do coração. Mas, hoje, os garotos sonham é com PSG, o Barcelona, o
Real Madri.
O sr. desistiu da carreira de técnico?
Não, em nenhum momento. Mas, depois do que aconteceu na Copa do Mundo
(2014), o técnico brasileiro passa por um momento muito difícil, o
mercado procura os europeus. Eu iria se tivesse uma proposta boa. No
Brasil, não quero. Como não aceito nada no Flamengo — porque uma coisa é
você estar jogando e a outra, bem diferente, é depender dos outros —
não vou aceitar ser técnico de outro time pra jogar contra o Flamengo.
O carrinho que o Márcio Nunes, jogador no Bangu, deu no sr. e estourou o seu joelho, em 1985, poderia ter sido evitado?
Claro, se ele fosse na bola, como eu fui, teria evitado. Mas ele veio
dar uma tesoura. Isso foi ordem do técnico, que falou para todos os
jogadores da defesa: quando (ele, Zico) passar, segura de qualquer
maneira. Para uns, é dando chute. Para outros, é tesoura. Alguns seguram
roupa. Esse aí não quis nem saber.
Yahoo - Por Eliane Lobato
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